Os peixes ósseos do gênero Hippocampus são cheios de peculiaridades: além da morfologia irreverente, recordando um cavalo, as espécies deste gênero apresentam cuidado parental realizado pelo macho, que carrega em sua bolsa incubadora os ovos fecundados.
A família Syngnathidae engloba 53 espécies de cavalo-marinho. Estes animais apresentam um visual único, caracterizando-se por seu pequeno porte (atingem até 36 cm de comprimento) e pela ausência de nadadeira caudal definida, visto que sua extremidade posterior apresenta forma alongada, similar à de uma serpente. Tal característica conferiu um baixo poder natatório à espécie, que depende de uma alta frequência de batimento da nadadeira dorsal (30-70 vezes por segundo), para promover seu impulso na água. Por outro lado, a cauda preênsil destes animais permite que estes se segurem em corais, grama e outras plantas marinhas, impedindo que sejam carreados por correntes e ondas. Além desta estrutura e da nadadeira dorsal, o cavalo-marinho também apresenta nadadeiras peitorais posicionadas ao lado da cabeça, que auxiliam em sua estabilidade e direcionamento durante a natação.
Ao contrário da maioria dos peixes, o cavalo-marinho apresenta um tipo de exoesqueleto. Estes animais não possuem escamas, e seus corpos são formados por placas ósseas externas e duras, que encontram-se fundidas e recobertas por uma camada corporal. O formato de seu corpo é semelhante ao de um equino, com pescoço curvo e focinho apontado para baixo, permitindo que estes peixes explorem lugares pequenos e estreitos em busca de alimento, que é sugado pelo focinho, tal qual um aspirador. O cavalo-marinho também possui um par de olhos, que movem-se independentemente entre si, facilitando sua busca por presas.
O cavalo-marinho é um peixe carnívoro, alimentando-se de pequenos crustáceos como os camarões da ordem Mysida, além de larvas e ovos de peixes, e outros invertebrados como pequenos moluscos e vermes. Estes animais apresentam uma alta frequência alimentar, devido à ausência de estômago em seu sistema digestório. Um exemplar adulto de cavalo-marinho pode se alimentar entre 30-50 vezes por dia, enquanto seus bebês ingerem até 3000 partículas orgânicas (geralmente camarões) em um único dia. Entretanto, estes animais não são capazes de mastigar, desintegrando a comida enquanto a sugam pelo seu focinho. Este, por sinal, também pode se expandir, caso a presa seja grande.
Os cavalos-marinhos são encontrados em regiões temperadas e tropicais, ao redor de todo o globo. Seus habitats favoritos são os recifes de corais, gramas marinhas e manguezais. Estes animais são conhecidos como os camaleões do mar, visto que sua coloração pode se alterar rapidamente, camuflando-os com seu habitat, como ocorre com a espécie Hippocampus histrix. Tal adaptação influencia a alimentação destes peixes, que mesclados ao ambiente, emboscam suas presas. Além das mudanças de coloração, o cavalo-marinho também desenvolveu apêndices corporais denominados Cirri, que auxiliam em sua camuflagem, principalmente em meio às plantas marinhas.
A reprodução dos cavalos-marinhos consiste em um processo singular no reino animal. Predominantemente monogâmicos, estes animais permanecem com seus parceiros por toda sua vida, ou, conforme apontado para algumas espécies, durante toda a estação reprodutiva. Machos e fêmeas apresentam um território definido (cerca de 1,4 m2 para o macho e 0,5 m2 para a fêmea), que se sobrepõem quando estes formam um casal. Todos os dias, estes peixes realizam um ritual de acasalamento, reforçando sua conexão como um par. Este ritual envolve mudanças de coloração, a união de suas caudas e uma dança em círculo, podendo durar até cerca de 1 hora. Quando finalizado, a fêmea retorna para seu território.
Uma das maiores peculiaridades na reprodução do cavalo-marinho consiste na gravidez reversa. Estes animais não realizam a cópula, ocorrendo apenas a transferência dos ovos da fêmea para o macho, que são então fecundados na bolsa incubadora. O número de ovos transferidos pode variar entre 50-150 para espécies menores a 1500 ovos para cavalos-marinhos de maior porte. Na bolsa incubadora, os ovos recebem comida e oxigênio, e durante a gestação (que pode durar entre 2 e 4 semanas), os machos permanecem presos por sua cauda à corais e plantas marinhas. No momento do parto, estes peixes sofrem contrações que podem durar por até 12 horas, expelindo de sua bolsa os bebês cavalo-marinho, semelhantes à miniaturas dos pais. Estes permanecem no plâncton por 2 a 3 semanas de vida, e apresentam uma baixa taxa de sobrevivência, com apenas 5% dos juvenis alcançando a idade adulta.
Os cavalos-marinhos enfrentam três principais ameaças à sua sobrevivência: sua retirada do ambiente natural para aquários e uso medicinal em países Asiáticos, bem como para o Curio Trade, que consiste na venda destes animais como souvenir; a destruição do seu habitat natural; e a poluição, especialmente por metais pesados.
Referências bibliográficas:
National Geographic – Animals: Seahorses. http://www.nationalgeographic.com/animals/fish/group/seahorses/
SeahorseWorlds: Seahorse feeding. http://www.seahorseworlds.com/seahorse-feeding/
The Seahorse Trust. http://www.theseahorsetrust.org/seahorse-facts.aspx
ThoughtCo: Seahorse Facts. https://www.thoughtco.com/g00/seahorse-facts-2291858
ThoughtCo: What do Seahorses eat? https://www.thoughtco.com/what-do-seahorses-eat-2291410
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