O uso de combustíveis fósseis para geração de energia em processos urbanos e industriais teve seu início com a Revolução Industrial. De lá para cá, a demanda mundial por energia só aumentou, intensificando a exploração de áreas marinhas em busca de petróleo. Como consequência, episódios de contaminação ambiental por óleo tornaram-se recorrentes, causando graves prejuízos à fauna e flora aquática.
Grande parte do petróleo utilizado atualmente é extraído de bacias sedimentares oceânicas. Este composto é formado pela deposição de matéria orgânica de origem marinha no assoalho oceânico, processo que ocorre em altas profundidades (elevada pressão) e é dependente de alguns fatores como a produtividade primária na coluna d’água (que deve ser elevada), a circulação de água (sendo desejável baixa hidrodinâmica). Tais fatores, conjugados, resultam na decomposição mínima de matéria orgânica, criando condições favoráveis para a formação de petróleo (processo que também está relacionado à dinâmica sedimentar e à qualidade dos sedimentos) ao longo de milhões de anos. O petróleo é uma substância complexa, formada por inúmeros compostos químicos, dentre os quais se destacam os hidrocarbonetos. Estes, por sua vez, correspondem entre 50-98% deste composto, e são representados principalmente por formas alcanas, cicloalcanas e hidrocarbonetos aromáticos. O petróleo também é formado, em menor proporção, por compostos de enxofre (10%) e ácidos graxos (5%), além de inúmeras substâncias nitrogenadas e alguns metais pesados.
Embora extensamente abordados pela mídia, apenas uma pequena parte dos casos de poluição por petróleo estão atrelados à acidentes com grandes navios petroleiros; por outro lado, são as operações rotineiras de transporte de óleo e efluentes urbanos e industriais, os principais responsáveis pelo vazamento de petróleo para o ambiente marinho. No Brasil, a intensa exploração offshore levou ao desenvolvimento de uma rede de terminais marítimos para transporte e distribuição do produto ao longo da costa, aumentando a quantidade de derrames, e, por consequência, o impacto nas comunidades marinhas.
Uma série de processos físico-químicos ocorre quando o petróleo entra em contato com a água do mar. Em primeiro lugar, este composto pode se espalhar na superfície (interface água-ar), formando um filme superficial. Parte do petróleo derramado também pode evaporar, de acordo com as condições de temperatura e batimento do mar, e outra porção deste composto pode se solubilizar na água, processo que ocorre em maior intensidade nas primeiras horas após o derramamento. Além destas transformações, o petróleo também pode ser emulsificado (agregação, aumento do peso e volume de partículas), fracionado mecanicamente (quebrado/rompido) ou submergir na coluna d’água, devido à acréscimos em seu volume. Este composto também pode sofrer foto-oxidação, transformando os hidrocarbonetos originais em outras substâncias como os aldeídos, que são muito mais prejudiciais para a vida marinha do que os componentes originais (hidrocarbonetos). Por fim, o petróleo também pode ser degradado através da ação microbiana, processo conhecido como biodegradação. De forma geral, quanto maior o número de átomos de carbono presente na cadeia carbônica do composto, mais lenta é a sua evaporação e solubilização, tornando esse composto menos susceptível à biodegradação; desta forma, maior será a persistência deste óleo no meio ambiente.
Fatores ambientais e climatológicos também podem regular a intensidade dos impactos gerados pelo vazamento de óleo no ambiente marinho. Regiões mais abrigadas tendem a reter mais petróleo do que áreas hidrodinâmicas (com alta circulação de água), e fenômenos climáticos como a direção e intensidade dos ventos, e oceanográficos como as correntes marítimas, podem influenciar de forma significativa na dispersão e/ou diluição de manchas petrolíferas.
Entre os principais métodos de limpeza deste composto em águas oceânicas, pode-se citar o uso de dispersantes, substâncias químicas que tem como finalidade a quebra das moléculas de petróleo; no entanto, esta estratégia pode ser prejudicial à fauna e flora marinhas, pois a quebra de hidrocarbonetos pode torná-los mais biodisponíveis para as espécies (através da absorção e ingestão de partículas). O uso de barragens flutuantes para conter a dispersão do petróleo, a queima deste combustível na superfície marinha, e a retirada de seu excesso por certos tipos de bóias absorventes presentes em embarcações marítimas, são outras alternativas utilizadas para controlar os vazamentos deste composto no mar.
O derramamento de óleo gera prejuízos instantâneos e a longo prazo para a fauna e flora marinhas, dentre as quais as algas, mamíferos e aves estão entre os organismos mais afetados. Em relação ao primeiro grupo, o impacto associado ao excesso de petróleo no ambiente marinho se revela nas taxas fotossintéticas e respiratórias, visto que o petróleo envolve as algas formando um filme que reduz a difusão de gases. Já os mamíferos e aves marinhas são afetados através da ingestão de hidrocarbonetos provenientes do petróleo, que envenenam estes animais. Além disso, a contaminação por óleo também interfere no isolamento térmico de mamíferos como lontras marinhas, por exemplo, e compromete o mecanismo de impermeabilização das penas de pássaros, prejudicando seu voo e mergulho no oceano, além de expor a pele sensível destes animais à temperaturas extremas, levando à morte por hipotermia.
O petróleo também pode afetar peixes e invertebrados, pois apresenta efeito toxicológico. Mesmo após a limpeza do ambiente, partículas petrolíferas podem permanecer nas áreas afetadas por um longo período de tempo, sendo absorvidas e/ou ingeridas por organismos marinhos. Tais substâncias (hidrocarbonetos) podem acumular-se nos tecidos das espécies, afetando principalmente o fígado e gônadas – órgãos ricos em lipídeos. Desta forma, alterações nas taxas respiratória e de crescimento, deficiências reprodutivas e o inchaço do fígado, são fenômenos comumente observados para estes animais. O vazamento de óleo também pode afetar negativamente a sobrevivência de ovos e larvas de peixes juvenis.
Referências:
Biologia Marinha. Pereira, R. C., & Soares-Gomes, A. (2002). Rio de Janeiro: Interciência, 2, 608.
International Bird Rescue. https://www.bird-rescue.org/our-work/research-and-education/how-oil-affects-birds.aspx
NOOA: National Ocean Service. https://oceanservice.noaa.gov/facts/oilimpacts.html
NOOA: Office of Response and Restoration. https://response.restoration.noaa.gov/about/media/how-do-oil-spills-out-sea-typically-get-cleaned.html
Water Encyclopedia: Science and Issues. http://www.waterencyclopedia.com/Oc-Po/Oil-Spills-Impact-on-the-Ocean.html
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