A interface entre dois ecossistemas caracteriza-se por uma alta biodiversidade de espécies; estas são provenientes de cada ecossistema em si, como também podem ser únicas, adaptadas à zona de transição em que vivem. Tal fenômeno é conhecido como efeito de borda (em inglês, the edge effect), um importante estruturador de comunidades em áreas de gradiente ambiental.
Uma variedade de biomas compõe o cenário terrestre. Florestas tropicais e temperadas, o cerrado, a zona oceânica e costeira, entre outros, são exemplos de ecossistemas que apresentam um alto grau de complexidade, cujas diferentes características contribuem para a biodiversidade do planeta. A área limite entre estes ambientes é marcada por mudanças, graduais ou abruptas, em fatores físicos como temperatura, umidade e tipo de sedimento, assim como alterações na comunidade biótica presente em cada um destes ecossistemas. Esta zona de transição formada pela justaposição de habitats/ecossistemas é denominada ecótono, região que apresenta características únicas em relação aos ambientes adjacentes, onde comunidades ecológicas distintas entram em contato.
O encontro entre uma área florestal e um campo de pastagem (zona floresta-pradaria) constitui um dos principais exemplos sobre o efeito de borda. Já no ambiente aquático, pode-se citar a união entre as águas de um estuário e o oceano, assim como o desaguar de um rio em um lago ou mar. A heterogeneidade ambiental característica destas áreas promove um aumento na quantidade de nichos ecológicos disponíveis, resultando em uma alta diversidade de espécies; esta, chega a ser maior no ecótono do que nas comunidades adjacentes, geralmente mais homogêneas. Em biomas terrestres, a zonação (i.e. gradiente ambiental) é frequentemente identificada e mapeada pela vegetação nativa, que encontra-se em equilíbrio com o clima regional. Já nos ambientes aquáticos, esta é estabelecida por características físicas e geomorfológicas, como a luminosidade e movimentos d’água (correntes marítimas). A ação de marés de inundação e drenagem em praias arenosas, por exemplo, consiste em uma característica exclusiva destes ambientes, que auxilia na formação do gradiente ambiental entre o ecossistema terrestre e aquático. Nesta região de transição, várias espécies de borda podem ser encontradas, isto é, espécies que residem em habitats marginais, e não são encontradas nem em terra, nem em mar aberto. Além de processos externos como as marés, um ecótono também diferencia-se das comunidades adjacentes pela ação constante de processos internos como o assoreamento, condições especiais de solo, entre outros.
No ambiente natural, os impactos positivos do efeito de borda estão intrinsecamente ligados à existência de uma zona de transição, que potencializa a biodiversidade local. Esta zona apresenta uma estrutura própria, podendo ser formada por mosaicos (manchas dos diferentes ecossistemas), ou por alterações graduais ou abruptas. A última (borda abrupta) está geralmente associada à criação de limites artificiais (estabelecidos pela atividade antropogênica), resultando em um habitat pobre.
A interface entre uma área florestal x desmatada é um dos principais exemplos de borda abrupta, destacando o impacto negativo da fragmentação do habitat para a biodiversidade global. Este processo tem despontado como uma perturbação recorrente, impactando não só a composição, dinâmica e riqueza da biocenose, como também todo o funcionamento ecossistêmico. Em biomas terrestres, a intensidade deste efeito é maior em fragmentos florestais menores e isolados, levando ao empobrecimento da fauna e flora não só na borda, como também na região interna do fragmento.
Referências bibliográficas:
Deep Green Permaculture. https://deepgreenpermaculture.com/permaculture/permaculture-design-principles/10-edge-effect/
Fundamentos de Ecologia. Odum, E. & Barret, G. W. (2011). Boston, Cengage CTP: 1, 632.
Laurance, W. F.; Nascimento, H. E.; Laurance, S. G.; Andrade, A.; Ewers, R. M.; Harms, K. E.;... & Ribeiro, J. E. (2007). Habitat fragmentation, variable edge effects, and the landscape-divergence hypothesis. PLoS one, 2(10), e1017.
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