O “fonema” designa a menor unidade sonora que constitui uma palavra. Nessa perspectiva, os fonemas somente podem ser percebidos, por intermédio de nossa audição. Graficamente são representados pelas letras. É interessante constatar que a troca de um fonema (o som) por outro evidencia a diferença de significado entre palavras. Veja:
Na primeira sentença, o verbo “pôde” indica uma ação passada. Note que o acento circunflexo sinaliza que a pronúncia do fonema é fechada. Já na segunda sentença, o verbo “pode”, flexionado no presente, é pronunciado de forma aberta, algo elucidado pela ausência de acento. Nesse caso, o acento é chamado de “diferencial”. Ocorrência que também pode ser observada com o verbo “por”:
Há situações, porém, em que não há a presença de um acento diferencial, de modo que é importante a atenção para o contexto no qual a sentença se insere. Constate:
Pelo contexto, infere-se que, na primeira sentença, “erro” é um substantivo. Já na segunda sentença, “erro” é um verbo referente ao sujeito “Eu”. A desinência verbal de “erro” somente retoma a “eu”. Nesse sentido, não haveria a possibilidade de, no primeiro exemplo, “erro” ser verbo, visto que o sujeito é “ele”.
A escolha do conjunto de fonemas é feita minuciosamente no tocante aos textos literários. Para compreendê-los efetivamente, o leitor precisa levar em conta os efeitos de sentido criados pela organização do material fônico (Fiorin e Savioli, 1999, p.329). Veja a referida organização, por meio de trecho do poema Motivo, de Cecília Meireles:
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Note que as rimas (coincidências de sonoridade) foram construídas com propósitos bem definidos, uma vez que compõem um todo sonoro e expressivo. As rimas se realizam da seguinte forma: existe rima com triste e completa com poeta. Pode-se inferir que a ideia principal da estrofe reside justamente nos vocábulos citados, constituintes do poema que discute acerca do motivo de ser poeta, algo que completa o eu lírico. Nesse cenário, as rimas têm a finalidade de atrair a atenção do leitor (a), inserindo-o (a) no contexto poético.
A seleção de sons se faz presente nos conhecidos “trava-línguas”, fruto da cultura popular. Como a própria nomeação sugere, objetiva-se impor um desafio de pronúncia aos falantes, por meio de uma sequência cujas palavras são iniciadas por idênticos fonemas:
O rato roeu a roupa do rei de Roma. O rei de Roma ficou com raiva e roeu o resto.
Nesta, o desafio centra-se na pronúncia de uma única palavra, “doce”, repetida inúmera vezes:
O doce perguntou para o doce: qual é o doce mais doce que o doce de batata doce? O doce respondeu para o doce que não há doce mais doce que o doce de batata doce.
Para concluir: O fonema é a menor unidade sonora que integra uma palavra. É importante destacar a necessidade do olhar atento para o contexto comunicativo, visto que a troca de um fonema por outro acarreta na mudança do significado vocabular. A Literatura, em especial, usufrui da infinidade de possibilidades fonéticas oferecida pela língua, realizando diversificadas combinações que constroem um todo semântico e sonoro.
Referências: CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Som e Fonema. In: ___ Nova gramática do português contemporâneo. 5.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008, p.40-42.
___ A rima. In: ___ Nova gramática do português contemporâneo. 5.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008, p. 711-719.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. O plano sonoro do texto. In: ___Para entender o texto: leitura e produção. 15 ed. São Paulo: Ática, 1999, p.329-337.
MEIRELES, Cecília. Motivo. In: ___ Flor de Poemas. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, 1972.
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