A fonologização, um dos componentes do processo de gramaticalização, designa as alterações no corpo fônico das palavras. (FORTUNATO, s/d, p.3). Para clarear esse conceito, sugere-se a leitura de uma conversa cotidiana, elaborada pela autora deste artigo:
― Oi, Cláudio, tudo bem? ― Tudo bem, cara! ― E aí, cumé que foi de passeio? ― Foi muito divertido! Aquele lugá é muito bacana! A gente montô cavalo, escalô montanha, nadô no rio... ― Otra vez, quero í também pra esse hotel-fazenda... ― Pena que o tempo foi passano rapidinho... ― Quanté que ficô a hospedagem? ― A diária custa 100 reais. ― Que caro, hein? ― Mais vale a pena... Cê pode fazê um monte de coisa lá... ― Vô pensá... De repente, eu vá... ― Vai sê muito bom, Jorge, pode tê certeza!
Na conversa acima, Cláudio conta ao amigo Jorge sobre a sua hospedagem no hotel-fazenda, enumerando todas as coisas divertidas que lá fez. A escrita do diálogo consistiu em uma tentativa de representar a sonoridade inerente ao contexto em que o texto se materializa: um bate-papo informal entre dois amigos. Pode-se afirmar que se trata do falar cotidiano de indivíduos situados em diferentes regiões do país. Certamente, você se identificará com algumas ou muitas das transcrições sonoras aqui apresentadas. É importante frisar que, na conversa, não foram representados sons que constituem o cânone de nossa língua, como por exemplo, a pronúncia do fonema “i”, no lugar de “e” ao final de uma palavra (aquele). O objetivo deste artigo é apresentar a ocorrência da “fonologização”, isto é, o potencial criativo do indivíduo ao transformar o som de uma palavra. A análise do diálogo mostra diversificados processos relativos à maneira com que as pessoas se expressam em situações informais e, em alguns casos, formais de uso da língua. Veja:
É crucial enfatizar que há ocorrências de fonologização que são específicas de determinada região do país, ou seja, integram o sotaque. A título de ilustração, é recorrente, no interior de São Paulo, reforçar o fonema “r”, ao final de palavras, em vez de reduzi-lo. Na Bahia, é comum a criação de sons indicadores do diminutivo afetivo como: “mainha” “painho”, “voinho”. No Rio de Janeiro, é observado o acréscimo do fonema “i” ao final de determinadas palavras: “vocêis”, “nóis”. Em suma, o processo de fonologização enriquece a nossa língua, diversificando-a.
Referência:
FORTUNATO, Isabella Venceslau. Universidade Federal da Bahia – FAPESB. Gramaticalização e lexicalização das lexias complexas no português arcaico. Disponível em: < http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_456.pdf >. Acesso em: 10 de dezembro de 2015.
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