Mais da metade do número total de espécies de vertebrados vivos corresponde aos peixes. Atualmente, mais de 27 mil espécies são reconhecidas, e o número de espécies novas descritas anualmente excede o número de tetrápodes (anfíbios, aves, répteis e mamíferos). A importância destes animais para o meio ambiente e a população humana é tão grande que originou um ramo científico de estudo: a Ictiologia. Esta ciência estuda as espécies de peixes e sua relação com o ambiente, seus padrões de crescimento e distribuição, hábitos de vida, história evolutiva, entre outros aspectos.
Estima-se que a Ictiologia tenha sua origem no período Paleolítico, há 4 mil anos, quando chineses e egípcios implementaram sistemas de cultivo de carpas e tilápia, respectivamente. Esta ciência transformou-se em um campo formal de estudo por volta de 320 a.C., quando Aristóteles e outros naturalistas publicaram a primeira classificação sistemática de peixes, na qual a anatomia, hábitos e reprodução de 117 espécies do Mediterrâneo foram descritas. A partir do século 14, com o início da Renascença, a Ictiologia entrou em expansão devido ao estabelecimento de rotas marítimas para exploração e colonização de novas terras. Durante este período vários manuscritos foram publicados detalhando as espécies de peixes encontradas ao redor do globo, incluindo o livro Naturalis Brasilae, escrito por George Marcgrave em 1648, que descrevia mais de 100 espécies nativas da costa brasileira.
No século 18, Peter Artedi aprimorou a classificação taxonômica existente, dividindo os peixes em cinco ordens diferentes: Malacopterygii, Acanthopterygii, Branchiostegi, Chondropterygii e Plagiuri, tornando-se conhecido como o “Pai da Ictiologia”. Entretanto, a Ictiologia Moderna tem seu marco inicial apenas no século 19, com a publicação de uma série de 22 livros denominada Histoire Naturelle des Poissons, escrito por Marcus Elieser Bloch e Georges Cuvier. Este manuscrito continha mais de 4 mil espécies de peixe, das quais 2.311 eram novas descrições. A partir do século 20, com o progresso no campo Oceanográfico e o surgimento de novas tecnologias, novas técnicas de pesquisa foram desenvolvidas na Ictiologia, permitindo a observação dos peixes diretamente no meio aquático, seja em ambiente natural ou controlado (i.e. tanques em laboratório). Isto, por sua vez, possibilitou a investigação de padrões comportamentais, toxicológicos e parasitológicos destes animais.
A Ictiologia é composta por várias subáreas de estudo, dentre as quais pode-se citar a Ecologia, Fisiologia, Etologia, Embriologia, Genética e a Paleoictiologia, e relaciona-se também com outras ciências do meio aquático como a Limnologia, Oceanografia e Biologia Marinha. Esta ciência se concentra nos diferentes grupos de peixes, incluindo os peixes ósseos da Classe Osteichthyes, a mais diversa entre as classes, englobando 26 mil espécies de peixes. Os peixes cartilaginosos da Classe Chondrichthyes, que compreende 800 espécies e é representada pelos tubarões e raias, também são objeto de estudo da Ictiologia, assim como os peixes sem mandíbula da Superclasse Agnatha, representada pela lampreia e feiticeira. Esta superclasse gera controvérsia em relação à sua classificação como um grupo de peixes, visto que suas espécies não apresentam vértebras; apesar disto, permanecem como foco de estudo da Ictiologia.
A Ictiologia encontra-se como um campo em expansão, tanto pela demanda da indústria pesqueira (que produz aproximadamente 20% de toda a proteína animal consumida no mundo), quanto pelos possíveis impactos que a mudanças climáticas globais devem exercer sobre estes animais e o ecossistema aquático. A sobreexploração do recurso pesqueiro constitui uma das principais ameaças a várias espécies de peixes, impulsionando o desenvolvimento de técnicas sustentáveis de pesca e a intensificação de sistemas de cultivo (aquicultura). Com isto, cria-se a necessidade de entender os aspectos biológicos e ecológicos dos peixes, dando à Ictiologia cada vez mais destaque. O uso de isótopos para análises de dieta e nutrição é um exemplo dos avanços relacionados à este campo, assim como o uso de sonares e veículos submarinos operados remotamente (em inglês ROVs), que permitem a investigação de padrões de distribuição das espécies.
Referências:
Biologia Marinha. Pereira, R. C., & Soares-Gomes, A. (2002). Rio de Janeiro: Interciência, 2, 608.
Encyclopedia: http://encyclopedia2.thefreedictionary.com/ichthyology
Encyclopaedia Britannica: https://www.britannica.com/science/ichthyology
New World Encycopledia: http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Ichthyology
The Free Dictionary: http://encyclopedia2.thefreedictionary.com/ichthyology
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