Este ícone do movimento que se tornou conhecido como Bossa Nova nasceu João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, no dia 10 de junho de 1931, em Juazeiro, na Bahia. Quando ainda tinha 14 anos, ganhou um presente que definiria sua vida, um violão. Ele se tornou sua mais cara obsessão, da qual nunca se libertou, para a sorte dos amantes deste ritmo brasileiro que marcou o universo musical dos anos 50 e até hoje é um símbolo do país, conhecido e respeitado internacionalmente.
Ele cresceu ouvindo Duke Ellington, Tommy Dorsey, Dorival Caymmi e Dalva de Oliveira, no seio de uma família de músicos amadores. Na sua adolescência integrou o grupo Enamorados do Ritmo. Com apenas 18 anos, agora na cidade de Salvador, tornou-se crooner da Rádio Sociedade da Bahia. No início da década de 50, porém, tomou uma decisão crucial, mudar-se para o Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa ele alcançou um certo êxito como cantor do Garotos da Lua, que se apresentava na Rádio Tupi. Seu temperamento rebelde não lhe permitiu continuar por muito tempo neste conjunto, do qual foi expulso por falta de disciplina. Mas, antes do período em que mergulharia no trabalho individual, gravou com este grupo dois discos.
João alimentava sem cessar a idéia fixa que lhe trouxera ao Rio de Janeiro, gerar um meio original e revolucionário de se exprimir com seu violão. Assim, exilou-se do ambiente carioca entre 1955 e 1957, com o objetivo de estudar e desenvolver uma técnica diferente. Desta forma, chegou ao estilo desejado, voltando para o Rio de Janeiro com a Bossa Nova em sua bagagem, gravada em um disco de 78 rotações por minuto. Agora João Gilberto estava pronto para subverter os rumos da música brasileira.
O primeiro álbum do movimento por ele criado chegou às prateleiras em março de 1959, o famoso Chega de Saudade. Dois outros LPs seguiram este caminho pioneiro, firmando o novo ritmo. Sua união com Tom Jobim, pianista clássico, compositor e amante do jazz, a música então vigente nos EUA, e com estudantes da classe média, músicos iniciantes embalados pelo sabor desta estética moderna, deu início ao movimento da Bossa Nova, um samba de cara nova.
Ao atingir os jazzistas com este som inovador, o movimento foi imediatamente percebido por eles como uma experiência extraordinária. Desta maneira, a Bossa Nova foi disseminada internacionalmente, pois músicos norte-americanos, em passagem pelo Brasil, passaram a reproduzir e exibir cópias das gravações entre amantes do jazz no exterior. Seguindo esta trajetória, o criador deste movimento lançou, em 1961, o álbum Brazil's Brilliant João Gilberto, nos EUA. Em 1962, a Bossa Nova atingiu o auge do sucesso internacional.
Stan Getz foi um dos músicos norte-americanos mais influenciados pela Bossa Nova, o que justifica a proposta recebida por João Gilberto e Tom Jobim para juntos gravarem um dos discos de jazz mais elogiados até hoje, Getz/Gilberto, que levou ao estrelato Astrud Gilberto, esposa de João neste momento, e consagrou mundialmente a canção Garota de Ipanema. Seu show no Carnegie Hall, em Nova York, tornou-se um marco da Bossa Nova, levando o músico a se fixar nesta cidade até 1979 – entre 1969 e 1971 ele permaneceu algum tempo na cidade do México. Em 1976 ele lançou The Best of Two Worlds, com a parceria de Stan Getz e da cantora Miúcha, agora segunda esposa de João Gilberto.
Na década de 80, João Gilberto trabalhou com os criadores da Tropicália, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia. No início dos anos 90 ele gravou João, já com a ausência de Tom Jobim, optando pela presença de Caetano, Cole Porter e de músicos espanhóis. Em 2000, porém, ele ensaia uma volta aos sucessos da Bossa Nova, como o clássico Chega de Saudade, no CD produzido por Caetano Veloso, João Voz E Violão.
Em 2008, ano em que se celebram os 50 anos da Bossa Nova, os fãs de João Gilberto tiveram muito que comemorar, pois o ícone deste movimento, depois de algum tempo no ostracismo voluntário, retornou com uma nova turnê pelo Brasil. Os ingressos logo esgotaram nas bilheterias, e os shows foram um sucesso de público. Conhecido por suas excentricidades, João Gilberto reside no Rio de Janeiro, só saindo de seu habitat para raras exibições em festivais e concertos por todo o mundo.
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