De acordo com Fiorin e Savioli (1999, p.93), o léxico consiste no repertório de palavras de que uma dada língua dispõe. Em sentido amplo, podemos considerar o léxico como sinônimo de vocabulário. Sob esse olhar, o léxico do português brasileiro compreende a infinidade de vocábulos que utilizamos nos mais diversificados contextos sócio-comunicativos. Basílio (2004, p.9) explica que o léxico não pode ser concebido como um conjunto fechado de palavras, uma vez que se compõe, também, de inúmeras unidades (os afixos, a título de exemplo) que permitem a formação de novas palavras em decorrência da necessidade de novas designações comunicativas. O léxico apresenta, portanto, um caráter dinâmico, que possibilita a sua constante ampliação. Para a ilustração da manifestação do léxico, solicita-se a leitura do poema Vício na fala, escrito por Oswald de Andrade:
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pio Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados.
Vale enfatizar que o poema se constrói por meio do contraponto entre o português culto, isto é, em consonância com as regras gramaticais instituídas, e o português falado por inúmeros brasileiros situados, sobremaneira, nos interiores de nosso país. As reduções presentes na transformação de milho para mio e de telha para teia ilustram a possibilidade de um vocábulo adquirir uma nova forma. Perceba que o poema se encerra por meio de uma metáfora, escrita na linguagem culta, que representa o “correto”. Infere-se, desse modo, que não importa a forma diferente com que determinado grupo se expressa. No fim, eles vão fazendo telhados, isto é, vão construindo as suas vidas, de maneira correta.
Há diferentes vocábulos que se fazem presentes, especificamente, em uma ou outra região brasileira, constituindo os diversificados dialetos. Em Minas Gerais, utiliza-se com frequência a interjeição “uai”, que exprime surpresa. É interessante observar que se trata de uma palavra que foi dicionarizada. É utilizado, também, o substantivo “trem” como designador de qualquer objeto, do qual se esqueceu do nome no momento da fala ou por opção mesmo. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há expressões como “tchê”; “piá”, referindo-se a “menino”; “guri” ou “guria”, referindo-se a jovens. Na Bahia, as palavras “Meu rei”, “ó xente” e os diminutivos “painho”, “mainha”, “voinha” são utilizados constantemente. Há palavras que designam o mesmo objeto, porém recebem nomeações diferentes, dependendo do estado brasileiro. Um exemplo é a fruta “mexerica”, também chamada de “bergamota” e “tangerina”.
Há também as chamadas “gírias”, criadas sobremaneira por adolescentes:
“Falô!” (resposta confirmativa ou despedida) ou “Tipo assim” (empregada para especificar algo, funcionando como sinônimo de “por exemplo”). Existem, também, as palavras que se inserem em determinado ramo profissional e/ou científico e que, por isso mesmo, são partilhadas pelos especialistas nas referidas áreas. Assim, à medida que os conhecimentos teóricos e práticos vão se aperfeiçoando, vocábulos vão surgindo para a designação dos novos conceitos. São os denominados jargões.
Em suma, o léxico é a terminologia empregada para se referir aos diferentes vocábulos que integram a nossa língua e aos inúmeros itens lexicais (afixos, por exemplo), a partir dos quais novas palavras vão surgindo. Diversas são as motivações para o aparecimento de novas palavras: avanço da ciência e da tecnologia, regionalismos (palavras específicas de cada região), as gírias... O caráter dinâmico do léxico viabiliza a ampliação dos vocábulos e, consequentemente, dos horizontes. Cumpre-se enfatizar que diferentes variações linguísticas integram o nosso país, enriquecendo-o. Portanto, é fundamental respeitá-las, rompendo com qualquer tipo de estigma.
Referências: ANDRADE, Oswald. Vício na fala. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/oswal.html#vicio. Acesso em: 21 de dezembro de 2015.
BASÍLIO, Margarida. Formação e classe de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Temas e figuras: a seleção lexical. In: ___Para entender o texto: leitura e produção. 15 ed. São Paulo: Ática, 1999, p.93-99.
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