Semântica

Sob o olhar de Silva (1999, p.17), a semântica estuda a relação entre conteúdo e significado. Em outras palavras, ocupa-se de identificar o sentido provocado por uma palavra, uma sentença ou um texto quando inseridos em determinado contexto. Para clarear o conceito de “semântica”, sugere-se a observação desta situação comunicativa, elaborada pela autora deste artigo:

Era uma noite de domingo. Os bares da capital mineira estavam lotados. Luís e Cássio foram a um deles. Ao chegarem lá, Luís, sempre provocador, gritou: “Tudo azul, galera?!”. A grande maioria respondeu afirmativamente: “Tudo azul!”. Uma minoria ficou com uma cara enfurecida... Por que será, hein?

Se você acompanha o futebol brasileiro, certamente identificou que a minoria enfurecida corresponde aos torcedores do “Atlético Mineiro” (Galo). Constate que o contexto de comunicação oferece diferentes pistas, cuja compreensão será concretizada mediante ao acionamento de seus conhecimentos prévios. Primeiramente, informa-se que se trata de uma noite de domingo, dia no qual acontecem partidas de futebol. Em seguida, revela-se o local em que se realiza o ato de interlocução: bar da capital mineira (Belo Horizonte). Infere-se, também, que muitos torcedores têm o hábito de se reunir em algum bar para assistir à partida ou para comemorar e comentar o resultado posteriormente. Quando o Luís chega, perguntando “Tudo azul, galera?”, você depreende que se trata de um torcedor do “Cruzeiro” (cujo uniforme é da cor azul) que está comemorando a vitória de seu time contra o rival, “Atlético”, naquele domingo. Afinal, se você acompanha futebol, independentemente de para qual time torça ou em que estado brasileiro resida, sabe previamente que os principais times de Minas Gerais são “Cruzeiro” e “Atlético” e, além disso, toma conhecimento dos resultados daquela rodada.

Pode-se concluir, à luz de (Costa Val, 2004), que o sentido não está no texto, não é dado pelo texto, mas é produzido por locutor e alocutário a cada interação, a cada “acontecimento” de uso da língua. Voltando à situação anteriormente narrada, caso o indivíduo não tenha nenhuma ou pouca noção do futebol brasileiro, provavelmente teria dificuldades de entender a referida situação, que não faz parte de seu universo. Vale reiterar que a interação entre os atores envolvidos (quem diz e para quem diz) é a condição para que os objetivos de comunicação sejam atingidos.

Há diversificadas expressões, fruto da sabedoria popular, que são passadas de geração a geração. Os chamados “ditos populares” se fazem constantemente presentes em nossas interações cotidianas, uma vez que retratam situações vivenciadas e partilhadas por todos nós. Sob esse prisma, eles compõem uma importante parte de nossa cultura. Se alguém lhe dissesse “o seu vizinho João bateu as botas”, o que você entenderia? Certamente, você compreenderia que ele morreu. “Bater as botas” consiste em uma metáfora para a morte, cujo doloroso significado poderia ser amenizado para “partiu desta para melhor”. Trata-se de expressões, cujos sentidos são partilhados pelas pessoas. Ninguém entenderia “bater as botas” no sentido literal, ou seja, alguém que sacolejou o seu calçado “bota”. Vejamos outros ditos que falamos ou ouvimos, de maneira recorrente:

  • Caio, pare de fazer tempestade em copo d’água!
  • Tive de descascar um abacaxi hoje no escritório...
  • Esta roupa custa os olhos da cara!
  • Coitado daquele homem... Ele está com as cordas no pescoço...
  • Que ideia sem pé nem cabeça...
  • Para concluir: A semântica dedica-se a identificar o significado que uma palavra ou um texto assumem, quando inseridos em determinado contexto de interlocução. A efetiva interação entre os envolvidos com o ato comunicativo viabiliza o alcance dos objetivos traçados.

    Referências: COSTA VAL, Maria da Graça. Texto, Textualidade de Textualização. In: CECCANTINI, J. L. Tápias; PEREIRA, Rony F; ZANCHETTA JR., Juvenal. Pedagogia Cidadã: cadernos de formação: Língua Portuguesa. v.1. São Paulo: UNESP, Pró-Reitoria de Graduação, 2004, p.113-128.

    SILVA, Taís Cristófaro. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 2.ed. São Paulo: Contexto, 1999.

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