Verbo transitivo indireto

O verbo transitivo indireto é um verbo significativo que, como a própria nomeação sugere, faz a transição de sua ideia para o complemento, por meio de uma preposição, ou seja, de forma indireta. Para o estudo do referido tipo de verbo, recomenda-se a leitura atenta deste texto:

De família humilde, filho de lavradores, o jovem Alfredo lutou incansavelmente para poder se ingressar na faculdade. Trabalhava como auxiliar de pedreiro pela manhã e, à tarde, como vendedor em uma loja de materiais de construção. Custeava os próprios estudos e ajudava os pais com as despesas da casa. Apesar de todas as dificuldades, gostava da vida que levava, pois tinha plenas convicções de que um dia se formaria em Engenharia. E esse dia, com o qual sempre sonhou, finalmente chegou... (Texto produzido pela autora do artigo para ilustrar a temática abordada).

Observe os verbos transitivos indiretos, presentes nas sentenças que compõem o texto lido, e perceba a necessidade de serem acompanhados pela preposição:

a) [...] o jovem Alfredo lutou incansavelmente para poder se ingressar na faculdade.

O verbo “lutar” exige o acompanhamento da preposição “para”, pois quem luta, luta por/para algo ou alguém. Nesse caso, “para poder se ingressar na faculdade”. E quem se ingressa, ingressa-se em algo. A forma “na” se encontra na forma aglutinada, oriunda de (em + a).

b) Apesar de todas as dificuldades, gostava da vida que levava [...].

Quem gosta, gosta de alguma coisa. “Alfredo gostava da vida que levava”. Nesse sentido, o verbo “gostar” exige a intermediação da preposição “de”, apresentada sob a forma aglutinada (de + a) no enunciado acima.

c) E esse dia com o qual sempre sonhou, finalmente chegou...

No contexto do enunciado acima, o verbo “sonhar” funciona como transitivo indireto, visto que houve a necessidade do emprego da preposição “com” para especificar com o que o Alfredo sempre sonhou: o dia da formatura em Engenharia.

Cumpre-se frisar a importância de um olhar cuidadoso para o contexto em que a frase está inserida. Isso porque há situações enunciativas em que um mesmo verbo funciona ora como transitivo indireto, por necessitar do auxílio de uma preposição, ora como transitivo direto, por não depender do citado auxílio. Compare essa ocorrência com o verbo “precisar”:

Aquela casa precisa urgentemente de uma reforma.

É preciso comprar um novo computador, pois aquele está ultrapassado.

Note que, na primeira oração, o verbo “precisar” transmite a sua ideia ao complemento “urgentemente de uma reforma”, por meio da preposição “de”, visto que “precisa-se de uma reforma”. Por isso, é um verbo transitivo indireto. Já no segundo exemplo, o verbo “precisar” antepõe outro verbo: “comprar”, indicador de uma ação. Não cabe o uso da preposição, pois inexiste a construção “É preciso de comprar...”. Por isso, nesse caso, o verbo é transitivo direto.

Veja, agora, exemplos em que o mesmo verbo transmite a ideia para o seu complemento, de forma direta e indireta, conforme necessidade de determinada situação comunicativa. Nesse cenário, o verbo é, ao mesmo tempo, transitivo direto e indireto:

Ela entregou o convite de seu casamento a todos os colegas de trabalho.

O verbo “entregar” exigiu dois complementos: o que foi entregue e para quem o foi. O primeiro “o convite de seu casamento” foi dito de forma direta e, o segundo, “a todos os colegas de trabalho”, precisou da intermediação da preposição “a”. Vale reiterar que a presença de um ou mais complementos dependerá da intenção de quem comunica, caso seja relevante a apresentação de especificações.

Para concluir: A transmissão da ideia verbal para o seu complemento pode ser realizada, de maneira direta e/ou indireta. Além disso, como foi elucidado, é imprescindível o direcionamento dos olhares para o contexto em que o verbo se encontra inserido, visto que há situações em que um mesmo verbo pode funcionar ora como indireto, ora como direto. Atente-se!

Referência:

CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Verbos transitivos. In: ___ Nova gramática do português contemporâneo. 5.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008, p. 150-151.

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