Quando eu me sinto um pouco estressada e quero relaxar a mente, eu coloro alguns desenhos... Mentira! Tu colores, ele colore, nós colorimos, vós coloris, eles colorem, mas eu não coloro! Afinal, o verbo “colorir” não se conjuga na 1ª pessoa do singular do modo indicativo (aquele que exprime certeza) e em outras pessoas de outros tempos e de outros modos também. Nesse caso, o verbo “colorir” é defectivo. Todos os verbos que não têm conjunção completa são chamados de “verbos defectivos”.
Cegalla (2009) explica que a defectividade em verbos como “colorir” reside na eufonia. Em outras palavras, o som de “coloro”, por exemplo, não é harmônico. Daí o fato de não fazer parte da língua. Há outras razões para a defectividade verbal, entre elas, o desuso. E como preencher, então, a lacuna de significado deixada pelo verbo defectivo “colorir”? Buscando um que mantém uma relação de sinonímia com ele. Mas, se quisermos mantê-lo, poderíamos escrever de outras formas, como:
Quando eu me sinto um pouco estressada e quero relaxar a mente, eu começo a colorir alguns desenhos...
Confira a seguir mais exemplos de defectividade verbal, ocorrida em pessoas e modos diferentes. Note que as formas riscadas não existem, por isso foram substituídas por sinônimos:
Todo ano eu me precavenho contra a gripe. (verbo “precaver”) Todo ano eu me previno contra a gripe.
Demola imediatamente aquele prédio em ruínas! (verbo “demolir”) Derrube imediatamente aquele prédio em ruínas!
Que ele adeque o projeto às necessidades do grupo. (verbo “adequar”) Que ele adapte o projeto às necessidades do grupo.
Cabe ressaltar que verbos indicadores de fenômenos meteorológicos não são defectivos, uma vez que podem ser conjugados em todas as pessoas, quando empregados em linguagem figurada. Veja neste poema de Elias José:
Tal mãe, tal filha
Minha mãe diz que trovejo, solto ventos e relâmpagos. Despenco tempestades por uma coisinha de nada, por uma besteirinha qualquer.
Quando ela entra numa guerra, numa tempestade em copo d’água, com todo o seu lado de fera, fico com vontade de perguntar: Pra quem será que eu puxei?
Repare que, no poema acima, “trovejo” foi empregado com sentido figurado, pois não se refere ao fenômeno meteorológico de “trovejar”. No contexto em questão, “trovejo” quer dizer “esbravejo”.
Bechara (2016) esclarece que determinados verbos perderam, com o decorrer do tempo, a defectividade, isto é, passaram a ter a conjugação completa. Verbos como “agir”, “discernir” e “explodir” são alguns exemplos.
No geral, a defectividade verbal ocorre nos verbos da 3ª conjugação. Relembre: • Verbos da 1ª conjugação – aqueles que terminam em “ar”: Exemplos: estudar, conquistar, salvar. • Verbos da 2ª conjugação – aqueles que terminam em “er”: Exemplos: ler, ser, ver. • Verbos da 3ª conjugação – aqueles que terminam em “ir”: Exemplos: agir, nutrir, possuir. |
Para concluir
Os verbos defectivos são aqueles que não apresentam a conjugação completa. A defectividade verbal acontece principalmente em verbos da 3ª conjugação, isto é, em verbos terminados em “ir”.
Referências:
BECHARA, Evanildo. Verbos defectivos. In: ___ Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa. 1.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. p.294-295.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Verbos defectivos. In: ___ Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p. 247-249.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Verbos defectivos. In: ___ Nova gramática do português contemporâneo. 5.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. p.460-461.
JOSÉ, Elias. Cantigas de adolescer. ed. Atual, 1992. p. 24.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/portugues/verbos-defectivos/
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