Há verbos que são independentes, ou seja, dispensam complemento. E aqueles que dependem de complemento. Caso contrário, não fazem sentido. Eu estou me referindo aos verbos significativos. Trata-se daqueles verbos que, segundo Cunha e Cintra (2008, p. 149), exprimem uma ideia nova em relação ao sujeito. Vamos entender na prática como eles funcionam? Então, leia este texto:
Riscos dos agrotóxicos
Os agrotóxicos podem contaminar a água e o solo, pondo em risco o meio ambiente e a saúde das pessoas. Entre as doenças associadas a seu uso estão: câncer, alergias respiratórias, doença de Parkinson, entre outras. E os problemas de saúde não estão limitados àqueles que trabalham diretamente com esse tipo de produto. Um estudo da Universidade Federal do Mato Grosso identificou que o leite materno de mães que viviam nas cidades já apresentava contaminação.
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Os verbos que têm sentido completo são chamados de intransitivos. De acordo com Cegalla (2008, p. 336), eles “podem vir acompanhados de um adjunto adverbial e mesmo de um predicativo (qualidade, característica)”, mas dispensam complemento. As ações indicadas pelos verbos encerram em si mesmas. Em “[...] mães que viviam nas cidades [...]”, o verbo “viviam” é intransitivo e vem acompanhado de um adjunto adverbial (expressão que indica uma circunstância). O adjunto adverbial “nas cidades” indica uma circunstância de lugar.
Já os verbos transitivos são aqueles que exigem complemento. No trecho “[...] o leite materno de mães que viviam nas cidades já apresentava contaminação.”, o verbo “apresentava” necessitou de complemento. Observe o referido verbo sem o complemento: “[...] o leite materno de mães que viviam nas cidades já apresentava”. Ficaria sem sentido, não é mesmo? Já apresentava o quê? Então, o verbo “apresentava” precisou do complemento “contaminação” para fazer sentido. Note que a transição entre a ação e o complemento foi feita de modo direto, isto é, sem o auxílio de uma preposição. Por isso, o verbo “apresentava” no contexto acima é transitivo direto. O complemento de um verbo transitivo direto é chamado de “objeto direto”.
Repare que o verbo “trabalhar” na passagem “[...] que trabalham diretamente com esse tipo de produto.”, necessitou de complemento com o auxílio da preposição “com”, ou seja, “trabalha-se com alguma coisa”. Como a transição entre a ação e o complemento aconteceu de maneira indireta, o verbo “trabalham” é transitivo indireto no texto sobre os agrotóxicos. O complemento de um verbo transitivo indireto é chamado de “objeto indireto”.
Para reforçar, confira mais exemplos de verbos significativos:
Verbos intransitivos:
Talvez ela viaje à noite.
Naquele momento, as crianças dormiam.
Os braços do jovem doíam muito após a queda.
Verbos transitivos diretos:
Ninguém rebateu as críticas.
Os pedreiros derrubaram o casarão.
As boas leituras curam muitos vícios.
Verbos transitivos indiretos:
Todos nós acreditamos em Deus!
Os alunos assistiram ao filme sobre a Amazônia.
Eu sempre gostei das aulas de Língua Portuguesa!
Atenção:
Os verbos que exigem, ao mesmo tempo, um complemento sem preposição e outro com preposição” são chamados de transitivos diretos e indiretos ou bitransitivos. Veja:
Oferecemos ajuda às vítimas da tragédia.
Agradeço-lhe a inestimável participação no evento.
Não desperdice o seu valioso tempo com coisas fúteis!
É importante destacar que um mesmo verbo pode ser intransitivo, transitivo direto ou transitivo indireto. Como faço, então, para saber a classificação desse verbo? Atente-se ao contexto comunicativo! É ele que dirá! Que tal um desafio sobre isso, hein?
Marque a oração em que o verbo “pagar” é intransitivo:
( ) Ele foi à festa, mas não pagou. ( ) Pagamos caro pela reforma da casa. ( ) Graças a Deus, paguei todas as contas! ( ) Paguei o conserto do carro ao mecânico.
Se você marcou a primeira alternativa, você arrasou! Parabéns! Sim, na primeira frase, o verbo “pagou” não exigiu complemento. Por isso, é intransitivo. Na segunda alternativa, “Pagamos” é transitivo indireto, pois exigiu complemento com o auxílio da preposição “por” (pagamos por algo). Já terceira frase, o verbo “paguei” exigiu complemento (pagou o quê?). Nesse caso, é transitivo direto. E, por fim, o verbo “Paguei” exigiu dois complementos (paguei algo a alguém). Portanto, é transitivo direto e indireto ou bitransitivo.
Referências:
CEGALLA, Domingos Paschoal. Predicação verbal. In: ___ Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p. 335-340.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Predicação verbal. In: ___ Nova gramática do português contemporâneo. 5.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. p. 149-151.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/portugues/verbos-significativos/
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