Cândido Portinari é um dos artistas nacionais com maior reconhecimento mundialmente.
Suas pinturas costumam trazer temas que retratam as condições em que vivia o povo brasileiro na primeira metade do século XX.
Portinari teve muito êxito ao destacar questões sociais, festas populares, o trabalho na roça, a infância, entre outros assuntos.
Seu estilo de pintura singular e inconfundível teve demasiada inspiração das vanguardas artísticas que despontaram na Europa na transição do século XIX para o século XX. Entretanto, o pintor conseguiu absorver essa influência e transformá-la em uma arte genuinamente brasileira.
Selecionamos alguns temas e obras importantes na trajetória do pintor e sobretudo na história da arte do Brasil. Confira!
Portinari se dedicou fortemente a retratar o trabalhador, principalmente o que labuta usando como instrumento sua força física na lida do campo.
Nessa tela, o pintor exibe o retrato de um homem forte de braços cruzados, trabalhador em uma lavoura de café.
A cor da pele e os traços do sujeito - além do título da obra - indicam que se trata de uma pessoa mestiça, fruto da mistura entre a população negra, indígena e branca.
Mestiço foi produzida em 1934 com a técnica de óleo sobre tela, tem dimensões de 81 x 65 cm e pertente ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Café é uma importante obra de Portinari. Foi pintada em 1935 com tinta a óleo, tem o tamanho de 130 x 195 cm e está localizada no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio De Janeiro.
Aqui o pintor retratou um grupo de pessoas durante um dia duro de trabalho em uma fazenda de café. Os corpos dos trabalhadores são apresentados de maneira rígida e quase escultural. As mãos e os pés das pessoas são grandes, destacando a força do trabalho braçal.
Em 1935, a tela participa da Exposição Internacional de Arte Moderna em Nova Iorque, no Instituto Carnegie e recebe uma menção honrosa, o primeiro prêmio internacional do pintor.
VEJA TAMBÉM: Cultura BrasileiraUma das mais emblemáticas obras de Cândido Portinari é O lavrador de café. Produzida em 1934 com tinta a óleo, a tela de 100 x 81 cm faz parte do acervo do MASP.
Nessa obra Portinari retrata a figura de um lavrador apoiando-se em sua enxada. Com os pés descalços, rosto em perfil que se contrasta com a claridade do céu e camiseta com as mangas arregaçadas, o homem está em uma plantação de café exibindo uma expressão de cansaço e preocupação.
Os pés fortes e grandes, mais uma vez simbolizam o vigor do trabalhador e sugerem uma aproximação do artista com o movimento expressionista europeu.
VEJA TAMBÉM: ExpressionismoA técnica empregada na realização de Cana-de-Açúcar foi o afresco (método de pintura mural). A obra foi realizada em 1938 e tem grandes dimensões, 280 cm x 247 cm.
Encontra-se no Palácio Capanema, destaque da arquitetura moderna, localizado na cidade do Rio de Janeiro.
Aqui, Portinari também utilizou o tema do trabalhador braçal, dessa vez na produção da cana-de-açúcar.
Um dos temas abordados na produção de Portinari também foi a migração de uma parte da população nordestina para outros locais do país.
Em busca de melhores condições de vida, famílias inteiras se aventuravam em difíceis e longas jornadas a fim de fugir da miséria, fome e mortalidade infantil.
Nessa obra é exibida uma família de retirantes que sai de seu lugar de origem a procura de outras oportunidades na cidade grande.
Com nove integrantes, sendo quatro adultos e cinco crianças, o grupo é retratado de maneira sombria, com corpos esqueléticos e frágeis. As expressões nos rostos são de sofrimento e a paleta de cores escolhida ressalta a atmosfera sepulcral que envolve as personagens.
O quadro, pintado em 1944 é um painel produzido em óleo sobre tela, tem 190 x 180 cm e integra o acervo do Museu de Arte de São Paulo (MASP).
No mesmo ano em que pinta Retirantes - em 1944 - Portinari produz a tela Criança morta. Com 180 x 190 cm, o quadro também faz parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Na obra, vemos uma pessoa que segura o corpo esquálido e sem vida de uma criança. Outras figuras lamentam e choram.
O pranto aqui é retratado em grossas lágrimas que caem dos olhos fundos das personagens, o que ressalta o sofrimento do povo nordestino que lidava constantemente com a mortalidade infantil naquele período.
VEJA TAMBÉM: Vanguardas EuropeiasO tema da infância também fascinava Cândido Portinari. O pintor exibe em diversas obras o universo infantil, bem mais leve e fluido.
Candinho, como era chamado, foi um menino de origem humilde que cresceu em meio às brincadeiras com outras crianças na cidade de Brodowski.
As memórias da meninice e de sua terra natal sempre estiveram presentes na produção do artista. Uma de suas falas sobre o assunto é:
A paisagem onde a gente brincou pela primeira vez não sai mais da gente.
O quadro Futebol data de 1935, foi feito em óleo sobre tela nas dimensões 97 x 130 cm e faz parte de uma coleção particular.
A obra retrata meninos descalços jogando futebol em um campo de terra. Há a presença de alguns animais e ao fundo podemos ver um pequeno cemitério, um campo verdejante e uma casa.
A luz lateral e as cores que o artista emprega indicam que se trata de um fim de tarde.
VEJA TAMBÉM: Pinturas famosas do mundoPortinari apreciava pintar crianças brincando. Esse quadro de 1960 feito com a técnica óleo sobre tela, tem dimensão de 61 x 49 cm e encontra-se em uma coleção particular atualmente.
Nele, o artista retrata quatro garotos se divertindo em balanços. Os tons são suaves e trazem variações do amarelo, rosa e azul.
Os meninos parecem envoltos em uma aura angelical e têm seus rostos voltados para o céu, como se sentissem a brisa do dia.
Cândido Portinari certa vez afirmou:
Sabem por que é que eu pinto tanto menino em gangorra e balanço? Para botá-los no ar, feito anjos.
VEJA TAMBÉM: Pintura ModernaCândido Portinari nasceu em uma fazenda de café na cidade de Brodowski, interior de São Paulo, no dia 30 de dezembro de 1903.
O artista teve uma trajetória intensa e produziu em torno de 5 mil obras, desde pinturas, desenhos e grandes murais.
Um exemplo de um importante painel muralista é a obra Guerra e Paz, que foi ofertado em 1956 às Organizações das Nações Unidas (ONU), com sede em Nova Iorque e foi recuperado em 2010, e se encontra atualmente no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Em meados dos anos 50, o artista começa a apresentar sérios problemas de saúde, sendo diagnosticado com Saturnismo, doença provocada por intoxicação pelo chumbo que certas tintas apresentavam em sua composição.
O artista era apaixonado por seu ofício e tem grande dificuldade de obedecer as ordens médicas de abandonar a pintura.
Falece em 6 de fevereiro de 1962, aos 58 anos. Deixa um legado inestimável para a arte brasileira e mundial, contribuindo enormemente para a consolidação da identidade cultural do povo brasileiro.
VEJA TAMBÉM: Muralismo Mexicano Laura AidarLaura Aidar é licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2007. Formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design de São Paulo (2010).Show life that you have a thousand reasons to smile
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