O quadro Abaporu é uma das mais emblemáticas obras da história da arte no Brasil.
Foi pintado com tinta a óleo pela artista paulistana Tarsila do Amaral no ano de 1928 e ofertado como um presente de aniversário ao seu marido, na época, o poeta Oswald de Andrade.
A tela pertence ao modernismo brasileiro e inaugura uma nova fase desse movimento: a fase antropofágica.
Em 1995, a tela foi vendida para o colecionador argentino Eduardo Costantini em um leilão pelo valor de 1,43 milhão. Atualmente, a obra se encontra no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (MALBA).
Essa tela foi batizada de Abaporu por Oswald de Andrade em uma junção dos vocábulos tupis aba (homem), pora (gente) e ú (comer). Sendo assim, seu significado é "homem que come gente" ou "homem antropófago".
Nesse trabalho, é retratada uma figura humana sentada numa posição pensativa em uma paisagem árida e ensolarada. Entretanto, o que se sobressai na obra é justamente a ênfase dada ao tamanho dos membros, em detrimento do tamanho da cabeça.
Vemos um braço, uma perna, uma mão e, principalmente, um pé em dimensões exageradas. Esse recurso recebeu o nome de gigantismo e foi utilizado por Tarsila em outras telas.
Dessa forma, podemos perceber a importância que a artista dá à força dos pés e mãos que viabilizam o trabalho braçal do povo brasileiro.
A cabeça menor pode indicar uma suposta falta de pensamento crítico e "apaziguamento" da população. Por conta desses elementos, tal pintura é vista como uma crítica social.
Sobre as cores na composição, a escolha foi por tons vibrantes que remetem à brasilidade, com destaque para o verde, amarelo e azul - cores da bandeira nacional.
O cacto e o sol também fazem alusão direta à cultura brasileira, especialmente à região do Nordeste, que possui tal vegetação e sol o ano todo.
A cabeça apoiada na mão e o cotovelo no joelho, nos indicam, além disso, um certo abatimento, infelicidade, apatia ou depressão.
À esquerda a tela A negra (1923) e à direita o quadro Antropofagia (1929) também exibem o recurso do gigantismo na pinturaO movimento antropófago - ou antropofágico - foi uma corrente artística dentro do modernismo brasileiro.
O impulso para a criação desse movimento foi justamente o quadro Abaporu que, como dito anteriormente, tem como significado "homem que come gente".
Essa vertente da arte convidava os artistas a produzirem trabalhos com um viés voltado para a cultura do país, mesmo que com influências das vanguardas europeias.
O intuito era assimilar, "deglutir" a arte produzida na Europa e unificar a ela elementos e interesses do povo brasileiro, resultando em um tipo de arte genuinamente nacional.
Na época, ainda em 1928, foi criado por Oswald de Andrade o Manifesto Antropófago, um documento que trazia de forma satírica, bem humorada e poética as bases da nova corrente cultural.
Reprodução do Manifesto Antropófago, escrito por Oswald de AndradeEm trecho do manifesto, podemos ler:
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
VEJA TAMBÉM: Movimento AntropofágicoTarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886 na cidade de Capivari, interior paulista. Vindo de família de posses, estuda em São Paulo e termina sua formação em Barcelona, na Espanha.
Se interessa por arte ainda na adolescência, pintando sua primeira tela aos 16 anos.
Foi casada de 1926 a 1930 com o artista e agitador cultural Oswald de Andrade. Nesse período, o casal se une a outros artistas no chamado Grupo dos Cinco, composto por eles e por Anita Malfatti, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Juntos, eles iniciam uma nova fase cultural no Brasil.
Em 1965, a artista passa por uma cirurgia na coluna e fica paralítica em decorrência de erro médico. Tarsila faleceu aos 86 anos, em 1973, e deixou um legado inestimável.
VEJA TAMBÉM: Tarsila do AmaralComo é comum acontecer com obras de arte importantes, o quadro Abaporu também foi alvo de releituras.
O artista Alexandre Mury, nascido na cidade de São Fidélis (interior do Rio de Janeiro), fez uma versão fotográfica da tela em 2010, que compõe um trabalho maior em que ele se fotografa em diversas outras releituras de obras icônicas.
O fotógrafo Alexandre Mury em releitura da obra AbaporuHá ainda a versão de Abaporu produzida pelo famoso artista plástico Romero Britto.
O artista Romero Britto também fez sua releitura do icônico quadro AbaporuAlém disso, é possível perceber que a obra vem sendo bastante utilizada como material pedagógico e diversos estudantes brasileiros já reproduziram também suas releituras.
VEJA TAMBÉM: Pinturas famosas do mundo Laura AidarLaura Aidar é licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2007. Formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design de São Paulo (2010).Show life that you have a thousand reasons to smile
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