Os seres vivos se relacionam de várias formas, e à essas relações damos o nome de relações ecológicas. Existem várias categorias e tipos de relações, mas inicialmente podemos separá-las em harmônicas e desarmônicas. Relações harmônicas, como o próprio nome diz, sugerem harmonia, ou seja, relações em que não há conflito onde as duas partes podem ser beneficiadas ou apenas uma sem que haja prejuízo da outra. Já nas relações desarmônicas, ao menos uma das partes sempre vai ser prejudicada, e esse é o caso de uma dessas relações conhecidas como competição.
Animais competem por várias coisas, como alimentação, espaço, parceiros reprodutivos e por mais que às vezes essas competições não incorram em contato físico e violência, alguma das partes sempre vai perder. A competição pode ser tanto intraespecífica (entre membros da mesma espécie) e interespecífica (entre membros de espécies diferentes), e se engana quem pensa que apenas animais adultos competem entre sim, em alguns casos a competição começa bem cedo para os seres vivos, e um desses tipos é a competição fraternal.
A competição fraternal recebe esse nome porque está associada aos vínculos familiares, ou seja, ocorre entre indivíduos aparentados, como pais, filhos e irmãos. Em alguns casos, é mais vantajoso para os pais investir em uma nova tentativa de reprodução do que em cuidar dos filhotes, negligenciando assim cuidados à própria prole, por mais estranho que pareça.
Um outro caso de competição fraternal ocorre entre irmãos da mesma prole. Um fenômeno bem comum em aves, a competição entre irmãos ocorre de forma que um irmão, geralmente o maior tem ligeira vantagem sobre os menores. Isso ocorre durante o processo de alimentação, na maioria das aves, principalmente as voadoras. O filhote nasce muito frágil, sem conseguir se movimentar e completamente dependente dos pais. Os pais alimentam os filhotes depositando alimento nos seus bicos e em alguns casos, o filhote maior será mais favorecido, uma vez que conseguirá tomar frente à seus irmãos e conseguir o alimento primeiro. Os filhotes menores terão desenvolvimento mais lento e podem até vir a morrer.
O tubarão-touro (Carcharias taurus) é um exemplo bem interessante de competição fraternal. Os tubarões-touro são vivíparos, ou seja, os filhotes se desenvolvem no útero da mãe e eles dão à luz à filhotes perfeitamente formados. No entanto, a vida dos filhotes de tubarão-touro é posta à prova ainda no ventre da mãe. Os filhotes começam à competir desde o quinto mês de gestação e, por mais estranho que pareça, devorar uns aos outros. A fêmea pode gerar até 12 embriões, mas dá a luz à somente um e raramente dois, os que sobreviveram à competição.
Um outro exemplo de competição fraternal bem comum ocorre principalmente em mamíferos gregários, ou seja, animais que vivem em bandos. Apesar de existirem bandos matriarcais, ou seja, comandados por fêmeas, como hienas e elefantes, a maioria dos grupos é comandada por machos, o chamado alfa. Acontece que quando os filhotes machos começam a entrar na fase adulta eles podem ameaçar a dominância do alfa e tomar o seu posto, sendo assim eles são expulsos dos grupos assim que começam a se tornarem aptos para a reprodução.
Referências:
Alcock, J. 2011. Comportamento Animal – Uma Abordagem Evolutiva. 9a Edição. Artmed
Clutton-Brock, T. 2002. Breeding together: kin selection and mutualism in cooperative vertebrates. Science, 296(5565), 69-72.
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