O termo ecologia, ao longo dos anos, tem sido um dos mais utilizados pela mídia como uma forma de retratar assuntos relacionados à natureza e sua conservação, Programas como Globo Ecologia e Repórter Eco pegaram carona no tempo como uma forma mais simples de atrair o público, uma vez que o imaginário popular acostumou a relacionar o termo à elementos do mundo natural. No entanto, o ramo da biologia denominado ecologia é um pouco mais complexo do que simplesmente se sensibilizar pela causa natural.
Há quem pense também que a ecologia está relacionada apenas ao movimento ambientalista. O termo ecologia é formado pela junção de dois radicais oikos, que significa “casa” e logus, o radical utilizado para determinar “estudo”, sendo assim, considerando apenas a etimologia da palavra, ecologia seria algo como o “estudo da casa”, ou seja, o estudo da natureza, a casa dos seres vivos e por que não dizer o “o estudo da nossa casa”, uma vez que somos espécies pertencentes à fauna terrestre como as outras e a natureza é nossa casa original.
Ecologia, como palavra, foi utilizada e criada pela primeira vez em 1869, pelo naturalista Ernest Haeckael, que também foi o primeiro a conceituar esse, até então, novo ramo da biologia. Ernest Haeckel definiu ecologia como “o estudo científico das interações entre organismos e seu ambiente”, ou seja, para Haeckel, estudar ecologia era integrar o estudo dos seres vivos às características do ambiente em que os mesmos viviam. Em 1972, 103 anos após a oficialização da ecologia como um ramo das ciências biológicas, o então ecólogo Charles Joseph Krebs, conhecido também somente como Krebs, resolveu incrementar o conceito concebido por Haeckel.
Para Krebs a ecologia seria “o estudo científico das interações que determinam a distribuição e abundância dos organismos”. Qual a diferença entre o termo cunhado por Haeckel e o do Krebs? Simples, Krebs resolveu aprofundar o termo cunhado anteriormente enfatizando que as interações são fatores determinantes para a distribuição a abundância dos organismos e procurando entendê-los, sendo que o termo de Haeckel apenas menciona e procura entender quais são essas interações.
A definição moderna de ecologia bebe das suas duas principais fontes e podemos conceituá-la como “o estudo científico da distribuição e abundância dos organismos e das interações que as determinam”. Sendo assim, pensando em um aspecto mais amplo, a ecologia quer entender quais os fatores são determinantes para a existência das espécies em um determinado local e outro não, quais os fatores influenciam o sucesso reprodutivo de uma espécie, quais os fatores que levam espécies à migrar e outras a permanecerem fixas em um local, enfim, entender toda uma série de fatores que, como dito acima, podem influenciar na distribuição e abundância dos organismos, bem como favorecer e/ou desfavorecer suas interações e capacidade de sobrevivência.
A ecologia então trabalha tanto com fatores bióticos, quanto abióticos. Os fatores bióticos são os seres vivos propriamente ditos, já os abióticos são os fatores químicos, físicos ou físico-químicos encontrados no ambiente que podem influenciar os seres vivos de alguma maneira, como água, luz solar, temperatura, vento e tipo de solo. A essa interação de fatores podemos dar o nome de processos ecológicos. Antes de aprofundar nos ramos de estudo da ecologia, é importante conhecer alguns conceitos, como organismo, população, comunidade e ecossistema.
Organismo: o menor nível de estudo da ecologia, o organismos e refere à qualquer ser vivente em sua individualidade, ou seja, qualquer corpo funcional formado por células, tecidos e órgaos é um organismo. Basicamente, um organismo é um ser vivo, um indivíduo.
População: é um conjunto de organismos, ou indivíduos, da mesma espécie que vivem em uma área determinada em um momento específico. Uma importante divisão aqui é a de espécie e espécime. Uma espécie é uma entidade biológica, ou seja, populações naturais que intercruzam e são reprodutivamente isoladas de outros grupos. Já o espécime é um indivíduo pertencente à uma espécie, por exemplo: os leões pertencem à espécie Panthera leo e se reproduzem gerando descendentes férteis apenas com outros membros da espécie Panthera leo. Cada indivíduo de Panthera leo dentro de um bando é um espécime de Panthera leo.
Comunidade: a comunidade, pode ser definida como o conjunto de populações vivendo em determinada área e em um momento específico. É um conceito mais abrangente do que população, porque nesse caso consideram-se populações de todas as espécies encontradas, e não só de uma em específico, como é o caso do conceito anterior.
Ecossistema: um ecossistema envolve fatores bióticos e abióticos, ou seja, a junção da comunidade com os fatores abióticos em que essa está inserida.
Sendo assim, diversos ramos da ecologia são focados nesse conceito, como a ecologia de populações, a ecologia de comunidades e a ecologia de ecossistemas.
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Seguindo o conceito de ecologia nos deparamos com o termo “interações”. Ao procurar o termo “interação” no dicionário, podemos nos deparar com alguns conceitos, porém dois são mais interessantes para podermos entender o papel desse termo na ecologia: o primeiro é de que “interação é a influência recíproca entre uma coisa e outra” e o segundo conceito, mais voltado para a psicologia diz que “interação é um fenômeno que permite, a um certo número de indivíduos, constituir um grupo e que consiste no fato de que o comportamento de cada indivíduo se torna estímulo para um outro”. Sendo assim, podemos definir as interações ecológicas como a forma como os organismos, populações e comunidades interagem com fatores bióticos e abióticos. Dentre as interações ecológicas, podemos evidenciar as chamadas relações ecológicas, que são as interações entre organismos, ou seja, apenas entre fatores bióticos. Essa parte da ecologia, do estudo de interações, podemos encaixar em um ramo maior, a ecologia comportamental.
As relações ecológicas podem ser intraespecíficas e interespecíficas. As relações intraespecíficas são entre organismos pertencentes à mesma espécie já as interespecíficas são entre membros de espécies diferentes. Um exemplo bem didático para entender essa diferença pode ser feito utilizando como exemplo zebras e leões. A disputa pela liderança do bando por dois leões machos é um exemplo de competição intraespecífica, uma vez que os envolvidos (dois leões machos), pertencem à mesma espécie (Panthera leo), já quando um leão ataca uma zebra-da-planície para se alimentar é um exemplo claro que interação interespecífica, visto que ocorre entre dois organismos de espécies diferentes, o leão (Panthera leo) e a zebra-da-planície (Equus quagga).
Além dessa divisão em intraespecíficas e interespecíficas, as relações ecológicas também podem ser divididas em harmônicas e desarmônicas. As relações harmônicas sugerem harmonia, ou seja, uma relação sem conflitos, pautada pelo bem-estar, ecologicamente falando, relações desarmônicas ocorrem quando ambos organismos são beneficiados, ou ainda quando há benefício para uma das partes e neutralidade para a outra (onde não há benefício mas também não há prejuízo, a relação é nula).
As relações desarmônicas, como o próprio nome já diz, é o oposto das relações harmônicas, ou seja, aqui há uma relação conflituosa entre os organismos. Nesse caso, algum dos lados sempre vai ser prejudicado, não há neutralidade, ou a relação vai ser benéfica para um e maléfica para outro, ou vai ser maléfica para ambos. As relações harmônicas são a protocooperação, o comensalismo, o inquilinismo, o mutualismo, as colônias e as sociedades, já as interações desarmônicas são o amensalismo, a competição, o esclavagismo, o herbivorismo, o predatismo, o parasitismo e o canibalismo.
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O uso midiático da ecologia geralmente é sempre atrelado à um outro termo bastante popular, a preservação, além dele vocês também podem se deparar com o termo conservação. Os dois estão associados à proteção da natureza, correto? Correto, no entanto eles não significam estritamente a mesma coisa.
A preservação carrega um arcabouço extremamente protecionista da natureza, visto que ela sugere isolamento, manter a natureza intocável, isolar o ambiente de qualquer contato humano, ou seja, protegê-lo integralmente. Já a conservação prediz a proteção dos elementos naturais, no entanto sem a necessidade de isolamento, permitindo que haja um uso responsável da área e em alguns casos de seus recursos.
Atualmente, a conservação é muito mais plausível e factível do que a preservação, uma vez que não há a necessidade explícita de isolamento dos elementos naturais, em alguns casos permitindo até que populações humanas tradicionais continuem ocupando as áreas. No entanto, em alguns casos extremos, quando, por exemplo, uma espécie está em risco iminente de extinção, com sua sobrevivência extremamente ameaçada, faz se necessário o uso de estratégias de preservação, ou seja, do isolamento. Então, quando à partir de agora você ouvir “devemos preservar a natureza” questione o interlocutores e à si mesmo, “nesse caso é conservar ou preservar?”.
Hoje em dia, com a expansão cada vez maior da espécie humana, além da facilidade de deslocamento, utilizar-se da preservação é cada dia mais difícil, uma vez que manter uma área isolada exige muita fiscalização e cuidados para impedir que pessoas entrem. Nesse contexto de preservação e conservação, surgiram as Unidades de Conservação (parques e reservas) que visam conservar áreas importantes para a biodiversidade mundial.
A biodiversidade pode ser definida como o conjunto de todos os seres viventes de uma região específica, ou seja, o conjunto de organismos, populações e comunidades, no entanto, é importante aqui ressaltarmos a diferença entre três termos extremamente importantes para o estudo da ecologia: abundância, riqueza e diversidade. Voltando novamente ao conceito de ecologia nos deparamos logo no começo com o “estudo da distribuição e abundância...”, mas o que significa essa “abundância”?.
Abundância é um termo que nos sugere fartura, algo em grandes quantidades, o oposto exato do termo escassez. No contexto ecológico, a abundância é o valor que representa o número de organismos de determinada espécie em uma área específica, ou seja, o número populacional, absoluto ou relativo, de uma determinada espécie. Voltando aos leões e zebras-da-planície, se você tem uma comunidade com vinte zebras-da-planície e cinco leões, significa que a abundância da população de zebras-da-planície é vinte e dos leões é cinco. Já a riqueza, que em uma conceituação popular está ligada à alguém que possui uma grande quantidade de bens, no conceito ecológico também está ligada à quantidade, mas ao maior bem da natureza, às espécies.
Ao contrário da abundância, a riqueza não está ligada à números populacionais, mas à números comunitários, ou seja, da comunidade. Vimos que a comunidade é um conjunto de populações que interagem direta ou indiretamente no mesmo local e no mesmo intervalo de tempo, sendo assim a comunidade é um conjunto de espécies, que é o valor representado pela riqueza, ou seja, o número de espécies. Utilizando novamente à nossa comunidade de leões e zebras-da-planície, vimos que a abundância de zebras-da-planície é vinte e de leões é cinco, nesse caso, qual seria a riqueza? Vinte e cinco? Errado, lembremos que a riqueza é o número de espécies, e, nesse caso em particular temos duas, os leões (Panthera leo) e as zebras-da-planície (Equus quagga). Logo, podemos concluir que a nossa comunidade fictícia possui os seguintes parâmetros : Abundância (vinte zebras-da-planície e cinco leões), Riqueza (duas espécies: leões (Panthera leo) e zebras-da-planície (Equus quagga) e finalmente temos a Diversidade, que é a relação entre a abundância e a riqueza de uma determinada área em um determinado intervalo de tempo.
Os processos ecológicos são relações complexas e antigas, que vem se desenvolvendo desde o surgimento do primeiro ser vivo em ambiente terrestre, sendo assim, é necessário estudá-los cada vez mais, e apesar de termos avançado bastante nos últimos anos, estamos apenas arranhando a superfície da gigantesca fonte de conhecimento que é a natureza. A ecologia vem se consolidando a cada dia mais como um importante braço, não só da biologia como das relações sociais e comportamentais construída pela humanidade ao longo dos anos. Entender como os processos ecológicos funcionam e o que devemos fazer para que eles continuem ocorrendo é fundamental para a sobrevivência e persistência de todos os seres vivos, e quando digo todos, é claro, estou incluindo a nossa espécie, os humanos. A natureza opera sob um delicado equilíbrio, como se fosse um enorme castelo de cartas, se você retira uma carta compromete toda a estrutura e mesmo a retirada dos menores organismos causa um abalo nessa frágil e complexa construção.
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Referências:
Begon, M. J.L. Harper & C.R. Towsend.2007. Ecologia: de indivíduos aos ecossistemas. Ed. Atmed.
Blackwell Sci. 912 p. Ricklefs, R.E. 2010. Economia da Natureza. 503 p. 6ª ed Guanabara Koogan.
Gotelli, N. J. 2009. Ecologia.4ª.ed Planta Editora.
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