Distância social

Com a pandemia do novo coronavírus, incorporamos ao nosso vocabulário cotidiano a prática do distanciamento social como uma medida de combate a propagação do vírus pelas comunidades e pelo mundo. Entretanto, para a sociologia, a distância social é tema há muito mais tempo e diz respeito à separação que existe na sociedade entre os diferentes grupos e classes que a compõem, surgindo como um conceito que se opunha à noção de distância simplesmente física ou espacial. Até por isso essa ideia passou a ser usada mais para a análises da convivência urbana, tentando enfatizar o nível de proximidade e de confiança entre os indivíduos de um grupo social entre si e também perante os demais grupos dessa sociedade. Trata-se, portanto, de um conceito que tenta captar as diferentes atitudes e crenças de um grupo ou membros desse grupo em relação aos seus próprios companheiros ou frente aos demais grupos sociais.

Introduzido pelo sociólogo Robert Ezra Park, a noção de distância social tomou vida própria e passou a permear as mais diversas abordagens sociológicas. Para as explicações que enfocam o caráter normativo da sociedade, isto é, seus padrões socialmente estabelecidos de funcionamento, o que se pretende entender com a categoria da distância social são as regras e normas que definem quem pertence e quem não pertence a determinado grupo, que categoriza “quem somos nós e quem são eles”. Já nas abordagens que enfatizam o aspecto subjetivo das relações, o que se busca explicar são os níveis de simpatia de membros de um grupo por outros membros e pelos diferentes grupos. Já para as perspectivas que evidenciam o nível e a frequência das interações entre os grupos, pressupõe-se que quanto maiores forem as interações entre os grupos, mais forte serão os laços sociais ali presentes, sendo compreendidas por meio de uma análise das redes que tecem o tecido social. No entanto, é importante explicitar que as diferentes perspectivas não são necessariamente exclusivas, e que tampouco elas se sobrepõe: cada uma delas tenta lançar luz sobre um fenômeno específico da dinâmica que estrutura e atualiza as relações sociais, mas não negam que justamente essas relações apresentem características normativas, interativas ou subjetivo-afetivas coexistentes.

Interessa à sociologia a capacidade do conceito de distância social para revelar as desigualdades existentes nas sociedades - não as diversidades naturais, que fazem com que todas e todos sejamos individualmente diferentes, mas aquelas que se formam entre os diferentes grupos sociais e que afetam o status atribuído aos membros desses grupos em função das próprias diferenciações criadas no interior da sociedade. Essa desigualdade deve então ser explicada em termos relacionais, isto é, nos termos de como os diferentes círculos e coletividades se percebem e atribuem a si e aos outros membros e grupos os diferentes papéis e posições sociais.

Dessa forma, a distância social também é uma maneira de tentar evidenciar o que leva ao surgimento e a manutenção dos preconceitos nas sociedade. Ainda que no começo do artigo tenha-se diferenciado a distância social da física e geográfica, o advento da Internet tem lançado novas questões sobre a problemática do distanciamento, ao passo que as relações virtuais mudaram significativamente nossa forma de nos relacionarmos com nossos próximos mas, também, com aqueles que nos são estranhos e que se encontram longe de nossos círculos mais próximos.

Fonte:

Valladares, Licia do Prado (Org.). A sociologia urbana de Robert E. Park. Rio de Janeiro:

Editora da UFRJ, 2018

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