Patrulha ideológica

São chamadas de patrulhas ideológicas a organização de pessoas ou grupos que, compartilhando de uma mesma orientação ideológica, agem de forma a preservar essa linha teórica contra outras formas de crítica ou de revisão à ideologia defendida. Caracteriza-se, portanto, como um tipo de orientação purista, defendendo uma interpretação dogmática da corrente de pensamento professada e atacando orientações que sejam divergentes da postura que se defende. As formas de exercício da patrulha ideológica são múltiplas, mas guardam em comum o objetivo de expor publicamente a posição daquele que se critica como corrompida, falsa ou simplesmente absurda.

O termo ficou conhecido no debate cultural e político brasileiro dos anos 1970, tendo sido usado pela primeira vez pelo cineasta Cacá Diegues, que ao receber críticas de caráter político aos seus filmes empregou a expressão com o intuito de denunciar uma perseguição que sofria por não corresponder às linhas de orientação da esquerda hegemônica da época. Queria, assim, evidenciar uma forma de pressão cultural que se exercia em nome de uma ideologia pretensamente pura, ou, em outros termos, em nome de uma determinada interpretação da ideologia que se pretendia a mais correta. Nesse caso aparece também um dilema fundamental nessa polêmica: o descompasso entre as orientações teóricas de uma linha ideológica e os processos mais complexos e diversificados de transformações por quais passam uma sociedade. Outro importante cineasta que enfrentou problemas com o patrulhamento ideológico à época foi Glauber Rocha, sobretudo a partir da publicação de um artigo onde defendia que o restabelecimento da democracia no Brasil teria que contar com o apoio de militares progressistas, que para as forças do campo hegemônico que enfrentavam a Ditadura Militar era visto como um sacrilégio.

Contudo, é importante traçar uma distinção metodológica: enquanto a patrulha ideológica tem um caráter não-institucional, isto é, foca-se no debate cultural no espaço público, ela se diferencia da perseguição política justamente por não ser praticada por membros de um governo no poder, ou seja, por agentes públicos com poder de coerção de fato. Dessa forma, pode-se também dizer que a patrulha ideológica tem por finalidade influenciar a opinião pública e a sociedade civil, enquanto a perseguição política tem a finalidade de caçar e aviltar os direitos e prerrogativas políticas básicas de opositores a um determinado regime político.

Mas se no Brasil o termo nasce no campo da esquerda hegemônica, sobretudo por militantes ligados ao Partido Comunista Brasileiro, logo o acirramento do debate público colocou o conceito também no repertório de acusação das correntes de direita. No entanto, para esses grupos conservadores a patrulha se volta contra aquilo que eles chamam de “politicamente correto”, que pode ser entendido como a postura, ação ou discurso que se preocupa em não ofender ou estigmatizar grupos socialmente desfavorecidos. Assim, esses grupos de direita alegam existir uma patrulha ideológica da esquerda nos termos de enquadrar os discursos e posicionamentos que dela divergem na discussão pública como politicamente incorretos. No entanto, é preciso ter em mente que aquilo que é tido como politicamente correto não passa da afirmação de direitos básicos da pessoa, como a dignidade, a igualdade e a liberdade de autodeterminação. Da mesma forma, uma opinião racista, homofóbica ou sexista não é apenas uma opinião diferente: trata-se de um comportamento criminoso que deve ser amplamente combatido.

Fontes:

PEREIRA, Carlos Alberto M.; HOLLANDA, Heloísa Buarque de,. Patrulhas ideológicas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980.

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