A doença periodontal é uma afecção de etiologia predominantemente bacteriana, bastante comum em cães e gatos, em que todas as estruturas do periodonto podem ser acometidas. Dentre os fatores predisponentes pode-se citar a raça, a idade, o tipo de alimentação oferecida ao animal e sua mastigação.
Anatomicamente o periodonto é composto pelos tecidos que protegem, sustentam e recobrem os dentes, e são eles: o tecido gengival, o cemento, o osso alveolar e o ligamento periodontal. A placa bacteriana ou biofilme é o principal causador de doença periodontal e resulta-se da colonização da película dental adquirida. Sabe-se que a saliva é um fluido biológico da cavidade oral, composto por glicoproteínas, minerais, eletrólitos, enzimas, células epiteliais descamadas e outras substâncias. Esse fluido recobre a superfície dos dentes, formando a película dental adquirida, que por interações moleculares específicas propicia a aderência de bactérias bucais e origina a placa bacteriana.
Os agentes colonizadores primários, da referida película, compõem-se de bactérias aeróbias e gram-positivas, normalmente comensais e representadas por Actinomyces sp., Streptococcus sp. e Fusobacterium sp. Essas irão liberar substrato atrativos a outras bactérias como Porphyromonas spp., Prevotella spp., Treponema spp. que farão a colonização secundária, entretanto suas características já são patogênicas acarretando em destruição dos tecidos periodontais.
Os animais que recebem uma alimentação adequada, de granulometria propícia à sua mastigação, conseguem manter um controle físico-mecânico da placa bacteriana, pois o acúmulo de restos alimentares gera a maturação do biofilme, a adesão de novas bactérias, como as anaeróbicas, que iniciam o acometimento do tecido conjuntivo e a inflamação.
O biofilme também pode mineralizar-se, sendo denominado cálculo dental ou tártaro. Isso ocorre devido ao minerais presentes na saliva (carbonato e fosfato de cálcio). Sua ocorrência é maior na região supragengival ou subgengival e ao ser colonizado por microrganismos patogênicos, esses produzem enzimas e toxinas causadoras de lesão tecidual e inflamação gengival ou gengivite.
A gengivite é um condição dolorosa que apresenta sinais como tumefação, hiperemia, aumento da sensibilidade e sangramento. Se a causa primária for suprimida, ela apresenta reversão, porém pode haver progressão para a periodontite, que gera como consequência a reabsorção do osso alveolar, de caráter irreversível e posterior perda dentária.
A doença periodontal cursa ainda com distúrbios sistêmicos, haja vista que a atuação das citocinas e dos mediadores biológicos provenientes da resposta imunológica do animal, nos componentes do periodonto, desintegram o tecido epitelial. Dessa forma, durante a mastigação e a consequente movimentação alveolar, as lesões gengivais promovem a penetração das endotoxinas bacterianas nos vasos sanguíneos e linfáticos, essas se disseminam pelo organismo e podem provocar bronquite, endocardiose, nefrite intersticial, glomerulonefrite, hepatite, artrite, fibrose pulmonar, discoespondilite, meningite e endocardite. Nessa última, ocorre frequentemente o acometimento das válvulas cardíacas e sugere-se que os Streptococos sp são os agentes mais comuns.
Os sinais clínicos da enfermidade variam conforme o grau de acometimento das estruturas, mas o animal pode apresentar anorexia, halitose, sialorréia, exteriorização das raízes dos dentes, retração gengival, bolsas periodontais, secreção nasal. Ademais, pode-se encontrar fístulas oronasais e mobilidade dentária. Caso tenha ocorrido a bacteremia, o animal poderá apresentar sinais adicionais, de acordo com o órgão acometido.
O tratamento consiste na remoção da placa bacteriana, para impedir a progressão da doença e podem ainda ser necessárias algumas extrações dentárias, correção de fístula oronasal e outros procedimentos. Na maioria dos casos preconiza-se também o tratamento medicamentoso, em que utiliza-se antibiótico e anti-inflamatório.
Ressalta-se a importância da prevenção da formação do biofilme, que pode ser por escovação diária com produtos específicos para animais, uso de colutórios (antissépticos) orais e oferta de alimentos secos aos animais, uma vez que esses propiciam a limpeza bucodentária. O acompanhamento médico veterinário para a inspeção e a limpeza profilática deve ser frequente, para evitar o desenvolvimento e a cronicidade da doença.
Referências:
Santos et al. Doença periodontal em cães e gatos - revisão de literatura. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação. Curitiba. 10(32); 1-12, 2012.
ROCHA & CASTRO. Prevalência de placa bacteriana em cães submetidos à alimentação sólida e/ou macia. Revista Científica de Medicina Veterinária. n30, 2018.
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