O processo de domesticação dos cães ocorreu juntamente com a modificação de seu material genético, com o objetivo de selecionar as características mais satisfatórias. Entretanto, o impacto dessa seleção artificial induziu alterações anatômicas, que predispuseram esses animais a transtornos nos diversos sistemas do organismo.
O Pug é uma raça de cães de companhia, originária da China, mas bastante popular no Brasil. Entretanto, os registros do Kennel Club mostraram que essa raça ocupa o segundo lugar em relação a desordens ocasionadas pela manipulação gênica. Esses animais são categorizados como braquicefálicos, ou seja, animais induzidos geneticamente ao encurtamento do eixo longitudinal do crânio, por condrodisplasia e anquilose prematura da cartilagem da base craniana; isso gerou o fenótipo característico do "focinho achatado". Essa conformação, porém, provocou-lhes distúrbios no sistema nervoso, respiratório, gastrointestinal, na visão e na dentição.
A dificuldade respiratória observada nesses animais decorre de uma síndrome constritiva nas vias aéreas superiores, que envolve a estenose das narinas, a eversão dos sáculos laríngeos, o alongamento do palato mole e a hipoplasia da traqueia. O estreitamento das narinas demanda um maior esforço da musculatura diafragmática, durante a inspiração. O aumento da resistência na passagem do ar acarreta em inflamação e hiperplasia dos tecidos moles da região laringofaríngea, prejudicando ainda mais a respiração. Aliado a isso, a traqueia desses animais apresenta flacidez e estreitamento (traqueomalacia), o que atrapalha a chegada do ar os pulmões, agravando a afecção respiratória.
De acordo com a severidade da constrição das vias aéreas, esses cães podem manifestar dispneia, ronco, estridor, cianose das mucosas, edema pulmonar e síncope, a morte do animal não é incomum. De forma crônica, esses distúrbios provocam efeitos secundários como hipertensão pulmonar, com consequente remodelamento da parte direita do coração (Cor Pulmonale), que pode levar à insuficiência cardíaca congestiva direita.
Tem-se consequências também no trato gastrointestinal, em que o esôfago e o estômago sofrem uma dilatação e o animal passa a apresentar disfagia, regurgitação, vômito, além de flatulência por aerofagia. Em razão do cuidado que se ter com a prática de exercícios físicos e atividades que elevem a temperatura corporal desses animais, o controle do peso torna-se um desafio, e com isso a maioria dos Pugs sofrem de obesidade.
A alteração na relação entre as proporções da mandíbula e da maxila gera uma má oclusão dentária, propiciando consequências na mastigação, perdas dentárias, cáries, displasias e subluxações do processo condilar.
A conformação do crânio predispôs também a protrusão dos olhos, o que leva a uma maior exposição do bulbo ocular e pode ocasionar ceratoconjuntivite seca, obstrução do ducto nasolacrimal, lagoftalmia, entrópio, úlceras de córnea e proptose ou exoftalmia traumática, que se caracteriza em emergência oftálmica. Ademais, a literatura cita a perda da visão por meningoencefalite necrosante idiopática, uma doença inflamatória do sistema nervoso central que acomete os braquicefálicos e provoca também letargia, anorexia, crises convulsivas, rigidez cervical e o animal pode ficar andando em círculo.
Já os problemas dermatológicos decorrem do acúmulo de pele em determinadas regiões do corpo, sobretudo na face, com formação de dobras cutâneas propícias ao acúmulo de umidade, sujidades e micro-organismos. Por conseguinte, não é rara a ocorrência de prurido, odor, exsudação, eritema, pústulas, alopecia e lesões na pele desses cães.
Sobretudo, percebe-se que as alterações genéticas provocadas na raça Pug suscitaram em um conjunto de anomalias, que afetou consideravelmente o bem-estar animal. Necessita-se de uma reestruturação nos padrões de seleção artificial genética dos animais de companhia, para que esses tenham mais benefícios, do que prejuízos.
Ressalta-se que os criadores de braquicefálicos precisam ter consciência do dispêndio tanto de tempo, quanto de dinheiro, para que esses animais possam ter qualidade de vida. Além disso, é importante um acompanhamento médico veterinário regular, para que se previna o agravamento das afecções que esses animais já carregam.
Referências:
O’Neill, D. G et al. Demography and health of Pugs under primary veterinary care in England. Canine Genetics and Epidemiology. v3,(5), 2016.
Silva, G. M. M. Meningoencefalite necrosante em cão pug: relato de caso. IN: Anais III SIMPAC. Viçosa. v3, n1, p. 310-316, 2011.
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