A síndrome da hiperestesia felina (SHF) ou do gato nervoso é uma afecção escassamente compreendida e diagnosticada na medicina veterinária. Sua etiologia é incerta, mas há indícios de que as doenças neurológicas, as situações de estresse e competição ou até as mudanças climáticas possam desencadear a enfermidade.
A limitada literatura cita que os gatos acometidos podem ser de qualquer raça, sexo e idade, no entanto, tem-se relatos de animais de 1 a 5 anos e das raças Abissínio, Birmanês, Persa e Siamês. A ocorrência em gatos sem raça definida também já foi observada.
A SHF envolve alterações do tipo neurológica, dermatológica, comportamental e ortopédica, no entanto elas não se originam de uma causa específica. Os indivíduos enfermos exibem agitação, vocalização, alteração da personalidade, emaciação, alopecia, espasmos musculares, tremulação da pele e uma sensibilidade extrema ao toque nas regiões dorsal, lombossacral e, principalmente, ao redor da cauda. Em casos mais graves, eles podem apresentar crises epilépticas e automutilação. Todos esses sinais podem ocorrer juntos ou separadamente, além de demonstrarem características episódicas e progressistas.
Não há um exame específico de detecção dessa doença e para se chegar ao diagnóstico presuntivo é preciso solicitar desde os exames mais simples, aos mais complexos. Os resultados das análises hematológica, coprológica, urinálise, de imagem, pesquisa viral e dos testes dermatológicos devem se apresentar dentro dos parâmetros de normalidade e quaisquer enfermidades ou intoxicações devem ser descartadas. Dessa forma, o diagnóstico definitivo é determinado por exclusão.
O tratamento pode envolver medicamentos alopáticos, homeopáticos e terapias complementares e, o objetivo é amenizar os sinais que os animais estão apresentando. Preconiza-se o uso de corticosteróides, anticonvulsivantes e antidepressivos. O fenobarbital é o depressor do sistema nervoso central, mais indicado para conter as alterações neurológicas e ele pode ser utilizado isoladamente. Entretanto com o tempo há uma redução em seu efeito e é preciso associá-lo a outros fármacos como a fluoxetina, a clomipramina e a gabapentina. A intervenção homeopática com Atropa belladonna reduz o nível de estresse do animal e melhora significativamente os desvios do comportamento.
O uso da acupuntura mostra-se benéfica no tratamento da dor exacerbada, que os animais demonstram, especialmente na área toracolombar. Porém, ressalta-se que essa terapia seja realizada em locais fechados, para se evitar possíveis fugas dos animais, durante o tratamento. É necessário também que o profissional use equipamentos de proteção tanto em si, quanto no paciente, pois o aumento da sensibilidade e a dor neuropática, apresentada pelo animal acometido é tão intensa, que pode levá-lo à agressividade ou lesões com o material da acupuntura.
O prognóstico da SHF é reservado, variando conforme a evolução do quadro e a resposta individual de cada organismo. Em alguns pacientes pode-se controlar as crises e os sinais apenas com o tratamento homeopático ou com a acupuntura, já em outros animais pode haver a necessidade da associação medicamentosa, além das terapias complementares.
Apesar da escassez de informações sobre a SHF, sabe-se que o animais acometidos necessitam de atenção e apoio para manterem a enfermidade sob controle. Por conseguinte, sugere-se que o protocolo terapêutico seja seguido à risca e que o acompanhamento com o médico veterinário seja rigoroso, pois há possibilidade de recidiva dos sinais clínicos e a medicação necessite de alterações. Recomenda-se ainda que situações potencialmente causadoras de estresse e tensão, sejam eliminadas, para que os gatos com a síndrome nervosa possam ter uma sobrevida mais tranquila e saudável.
Referências:
AMORIM, A. P. G. Uso de atropa belladonna como simillimum em um gato com suspeita de síndrome de hiperestesia felina. Revista mv&z. v16(2), p88, 2018.
FILGUEIRA, K.D. et al. (2018). Síndrome da hiperestesia em um paciente felino: aspectos clínicos e manejo terapêutico. IN: Congresso de Medicina Felina – CAT IN RIO. Rio de Janeiro.
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