A demanda por produtos de origem animal tem aumentado substancialmente, o que requer dos pecuaristas estratégias para a otimização dos indicadores zootécnicos de seus rebanhos e, por conseguinte, os lucros. Estudos econômicos mostram que a performance reprodutiva é o índice mais relevante na rentabilidade da produção bovina. Por meio dele, pode-se avaliar o potencial de fertilidade, de fêmeas e machos, e a habilidade de produzirem crias saudáveis.
A reprodução é uma função complexa do organismo, que depende de fatores intrínsecos e extrínsecos tais como genética, nutrição, sanidade e mão-de-obra especializada. A prática do exame ginecológico nas matrizes reprodutoras e do exame andrológico nos touros é necessário para se ter o controle reprodutivo do rebanho e se tomar as decisões mais assertivas, principalmente em relação ao descarte de animais improdutivos.
A palpação retal em bovinos, também conhecida por palpação transretal, é o método de diagnóstico mais antigo já relatado na literatura. É uma técnica de custo acessível aos pecuaristas e de resultados satisfatórios. Seu uso permite a avaliação dos órgãos reprodutivos internos, a detecção do estágio do ciclo estral ou da gestação, auxilia no manejo da inseminação artificial entre outros. Em touros é possível avaliar o tamanho, o formato e a sensibilidade das ampolas dos ductos deferentes e das glândulas vesiculares. Nas fêmeas, as gestações podem ser detectadas a partir de 30 dias, devido a presença da vesícula amniótica.
Para se realizar o exame é necessário que o profissional habilitado tenha conhecimento sobre a anatomia e a fisiologia dos bovinos, além de experiência na área, para que não ocorram ferimentos na mucosa retal dos animais ou iatrogenias mais graves. A técnica consiste-se na introdução da mão no reto do animal, com o avanço do antebraço e do braço pela região do cólon descendente, possibilitando a inspeção das estruturas genitais internas e dos órgãos ao redor dessas, como os rins, a bexiga e o próprio intestino.
Esse exame deve ser feito com o máximo de ética e cuidado com o bem-estar animal. Antes da examinação, o apalpador precisa se paramentar com os equipamentos de proteção necessários, fazer a higienização das mãos, do antebraço e colocar a luva específica para essa técnica, a qual deverá ser lubrificada com gel de carboximetilcelulose, ou produtos semelhantes. O examinador não deve ter as unhas compridas ou utilizar adereços como relógio, pulseira e anel durante a realização do exame, pois eles podem causar traumas físicos e, consequentemente, psicológicos nos animais.
Ressalta-se a importância da contenção adequada dos bovinos a serem examinados, para que se preserve a integridade desses e também do profissional envolvido. Deve-se preconizar por instalações fortes e resistentes, livres de artefatos perfurocortantes, com piso não escorregadio e de preferência com bordas arredondadas. A rapidez e a eficiência para se realizar a palpação são características desejáveis no examinador, haja vista que os animais podem se assustar ou sentirem dor com os estímulos e reagirem com brusquidão, podendo ocasionar acidentes em ambos.
Dados da literatura mostram a ocorrência de ruptura retal em palpações mal sucedidas, em razão de manobras bruscas, lubrificação insuficiente e incompatibilidade dos diâmetros do braço do palpador e do ducto retal do animal. Dessa forma, o exame deve ser feito com sutileza e os reflexos fisiológicos da região, como a defecação e a onda peristáltica devem ser criteriosamente respeitados.
O exame de palpação transretal é uma ferramenta eficaz, confiável, vantajosa em relação ao custo-benefício e muito indicada para a análise da condição reprodutiva do rebanho, mas ela precisa ser executada com destreza, para não provocar injúrias críticas ou até mesmo a morte do animal.
Referências
SILVA, A. C. A. et al. Manual de exame ginecológico da vaca. XIX Edição da Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar (Micti) do Instituto Federal Catarinense (IFC). Videira, 2016.
BARBOSA, R. et al. A importância do exame andrológico em bovinos. EMBRAPA. Circular técnica 41. São Carlos, SP, 2005.
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