Inverno nuclear

"Inverno nuclear" foi uma expressão criada por um grupo de pesquisadores estadunidenses que relataram um suposto cenário climático da Terra depois de uma possível guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética, potências econômicas (e bélicas) do mundo bipolar de então. Esse estudo, produzido por Richard P. Turco, Owen B. Toon, Thomas P. Ackerman, James B. Pollack e Carl Sagan, foi intitulado como "Conseqüências Atmosféricas e Climáticas a Longo Prazo de um Conflito Nuclear", ficando depois conhecido como o relatório TTAPS, iniciais dos sobrenomes dos cinco autores. O relatório foi publicado em 1983, ainda durante a Guerra Fria.

Teste de bomba nuclear realizado pelos Estados Unidos, em região remota da Micronésia, em 1946.

O grande diferencial do estudo TTAPS em relação a outros já existentes sobre o tema foi o impacto da enorme quantidade de pó e fumaça gerada por explosões nucleares e incêndios resultantes. O manto de pó e fumaça poderia alterar a atmosfera, alterando o clima, consequentemente, e se difundindo a grandes distâncias. Com modelos matemáticos, os teóricos apontavam uma quantificação dos efeitos da possível guerra nuclear em termos do grau em que partículas suspensas poderiam impedir a radiação solar de chegar à Terra.

Distintas possibilidades de níveis de megatonagem e locais de detonação, seja por ar ou por terra, foram consideradas, apontando para consequências atmosféricas, climáticas e radiológicas aterradoras. Mesmo no verão, as temperaturas tenderiam a uma redução para níveis muito abaixo do ponto de congelamento da água. A luz do dia seria drasticamente reduzida e essas condições poderiam durar vários meses, além de se espalharem para regiões muito distantes das atacadas, inclusive no Hemisfério Sul.

Com a luz do sol bloqueada, a agricultura ficaria comprometida, dando origem a uma grande crise de abastecimento em todo o mundo que poderia durar alguns anos. Além disso, os ecossistemas do planeta seriam abalados, com um impacto inestimável sobre todo a diversidade de seres vivos. Graves prejuízos à saúde da população sobrevivente poderiam trazer muitas doenças e mortes.

Paisagem de cidade destruída após guerra nuclear. Ilustração: SugaBom86 / Shutterstock.com

As consequências físicas, atmosféricas e biológicas presentes nesse estudo foram, a pedido de Carl Sagan, analisadas por uma renomada equipe, formada por dezenas de pesquisadores de diferentes campos do conhecimento. De modo geral, o grupo concordou com as conclusões do relatório no que dizia respeito às reduções consideráveis na quantidade de luz solar que chega à superfície terrestre e das alterações climatológicas de vulto. Aos efeitos climatológicos de temperaturas glaciais e possível escuridão, a equipe de ciências físicas adicionou possíveis agressões relacionadas à exposição à radiação e precipitações, exposição à radiação ultravioleta causada pelo empobrecimento da camada de ozônio e ação nociva de gases tóxicos desprendidos por combustão de materiais sintéticos.

Uma equipe de biólogos somou-se ao grupo para analisar os efeitos da escuridão prolongada e alterações climáticas extremas sobre o fitoplâncton e o zooplâncton, sobre outras formas vivas vegetais e animais e sobre a agricultura. Ao refletirem sobre as condições do possível pós-guerra nuclear e suas influências em elementos de ecossistemas marinhos, de água doce e terrestres, referente à exposição prolongada a radiação ionizante e à luz ultravioleta, além da interrupção em grande escala do funcionamento de ecossistemas naturais imprescindíveis à sustentação da vida humana e da produção de alimentos – considerando: clima e condições de tempo; preservação do solo e controle de pragas das lavouras – todos acordaram que esses efeitos sobre a biosfera poderiam destrutivos de forma nunca antes ocorrida e nem imaginada, concluindo que a possibilidade desses efeitos a longo prazo acarretarem na exterminação da humanidade e da maior parte de espécies selvagens do planeta era real e, por isso mesmo, desesperadoramente alarmante.

Os efeitos e repercussão dessa Conferência foram tão importantes que, cada vez mais instituições e cientistas foram se somando à causa, em diferentes eventos, chegando ao ponto de, cientistas estadunidenses e soviéticos se comunicarem no histórico evento conhecido como Conexão Moscou, sendo a primeira vez que as comunicações por satélite foram usadas para pôr em contato, ao vivo, um grupo de cientistas dos dois países, num intercâmbio de informações científicas. A conclusão dessa importante reunião foi importantíssima para a humanidade e unânime: uma guerra nuclear arruinaria a nossa civilização.

Fontes:

ROBOCK, Alan & TOON, Owen. Guerra Nuclear Local: Catástrofe Global. In: Scientific American Brasil. Ano 8, nº 83, Fev. 2010. pp. 46-53.

Revista Galileu. O fim do mundo: O que é o "inverno nuclear"? Disponível em: . Acesso em 04/12/2019.

SAGAN, Carl et. al. O Inverno Nuclear. Trad. João Gulherme Linke. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1985,

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