No filme O Homem Aranha 3, o protagonista, vivido pelo cada vez mais desenvolto Tobey Maguire, enfrenta não só o maior número de vilões de sua meteórica ascensão como herói, mas também e principalmente a si mesmo, vivenciando uma de suas mais sérias crises existenciais.
No auge de sua travessia heróica, Peter é aclamado consensualmente em sua cidade natal, visto como um cidadão exemplar, ele vê seu ego inflar, não vendo mais nada a sua volta que não seja a si mesmo, permitindo que a fama e o poder a ele concedido lhe confiram um acesso de egocentrismo, o que o impede de perceber o que se passa em torno dele, especialmente com sua amada Mary Jane – personagem desenvolvido pela atriz Kirsten Dunst -, que ao contrário dele atravessa um momento particularmente difícil em sua carreira artística.
Nos primeiros episódios o Homem Aranha ainda está se adaptando a seus novos poderes, ainda centrado no motivo principal que o levou a assumir a identidade do herói, a morte violenta de seu tio, assassinado em um assalto brutal. No início, portanto, o fotógrafo Peter Parker é movido pela sede de justiça, pelo peso da responsabilidade que lhe cabe no insistente combate ao crime.
Agora, porém, ele parece ser motivado não mais pela busca da punição aos criminosos, mas sim pelo persistente apelo dos holofotes, os quais literalmente cegam Peter, levando-o inclusive a beijar publicamente, diante de Mary Jane, a personagem feminina que, na HQ, teria sido sua primeira namorada, a bela e inteligente loira Gwem Stacy, protagonizada por Bryce Dallas Howard, o que deprime ainda mais a atual companheira do Homem Aranha.
Não bastasse a dualidade já vivida por Peter Parker – de um lado o fotógrafo nerd, tímido e com jeito de intelectual; de outro, o odiado e amado Homem Aranha, foco de todas as atenções -, neste filme ele se deixa dominar pelo ódio e por um desejo arraigado de vingança, ao descobrir que o assassino de seu tio fugiu da prisão, o que contribui para despertar em seu interior o lado sombrio, como o de Darth Vader, herói de Guerra nas Estrelas, posteriormente dominado por suas sombras, e transformado em vilão.
Neste caso, o Homem Aranha recebe uma pequena ajuda de uma criatura alienígena, mais tarde convertida em seu feroz inimigo Venom. A princípio, este ser vindo de outro planeta, nesta película transportado por um meteorito que cai meio casualmente próximo a Peter, adere a sua vestimenta de herói, criando aos poucos uma relação simbiótica com Parker, que vai assumindo gradualmente uma nova personalidade. Ele se torna mais agressivo, poderoso, detentor de uma força singular e uma velocidade extraordinária. Preocupado apenas consigo mesmo, está disposto a seduzir e conquistar todas as mulheres, humilhando Mary Jane.
Ao que parece, Peter já estava predisposto a esta nova mudança de identidade. Ele praticamente aceita esta simbiose, da qual ele está parcialmente consciente. Metaforicamente, ele assume exteriormente uma transformação que se processa em seu interior, ao trocar seu antigo uniforme de Aranha por um traje completamente negro.
Simultaneamente ele se vê obrigado a lutar com seu melhor amigo, Harry Osborn, interpretado pelo ator James Franco, não só pelo desejo de vingança também nutrido pelo ex-companheiro, que acredita ser o herói o responsável pela morte de seu pai, o duende verde, mas igualmente pelo coração de Mary Jane.
Venom também nasce de outro desejo de revanche. Quando finalmente o Homem Aranha se liberta de seu simbionte, o fotógrafo e rival profissional Eddie Brock (Topher Grace) o incorpora, transformando-se em um perigoso adversário, principalmente quando se une a Flint Marko (Thomas Haden Church), o principal inimigo de Peter, assassino de seu tio, convertido acidentalmente no Homem Areia.
A grande virtude da seqüência dirigida por Sam Raimi é sua intensa carga humana, seus personagens divididos, dilacerados por profundos conflitos e crises existenciais. Com exceção de Venon, ser totalmente despido de humanidade, e por isso mesmo mais rejeitado pelo diretor e por alguns fãs do Homem Aranha, os outros caracteres não são personificações do bem e do mal absolutos, mas sim pessoas que oscilam entre um estado de alma e outro, ao sabor das circunstâncias e das motivações pessoais de cada um.
Fonteshttp://aguarras.com.br/2007/05/15/homem-aranha-3/ http://www.cinemacafri.com/filme.jsp?id=548
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