Insuficiência renal crônica (IRC) é a supressão lenta (ao longo de anos), progressiva e irreversível da função renal. Algumas doenças como diabetes, hipertensão arterial e doenças renais (rins policísticos, glomerulonefrites) trazem maior risco de rápida perda de função dos rins.
Os pacientes que possuem uma ou mais dessas doenças têm sempre algum grau de lesão renal, que, no entanto, pode ainda não ter prejudicado a capacidade de filtração do sangue. Apresentam função renal normal, sem qualquer tipo de sintoma, mas com risco elevado de deterioração da função dos rins a longo prazo.
Também pode haver disfunções no controle do equilíbrio hidreletrolítico e ácido-básico, ou alterações hormonais, como a deficiência na síntese de eritropoetina e vitamina D.
A insuficiência renal crônica pode ser dividida em estágios, de acordo com a taxa de filtração glomerular, que pode ser estimada por meio dos valores da creatinina sanguínea. Cada um dos estágios apresenta diferentes sinais e sintomas.
Os estágios da IRC são divididos da seguinte forma:
- IRC estágio I – Pacientes com clearance de creatinina maior do que 90 mL/min, creatinina sérica normal, porém com alguma das doenças descritas acima (diabetes, hipertensão, rins policísticos, etc.) - são geralmente assintomáticos. Neste estágio, há alterações no exame de urina, com sinais de sangramento ou perda de proteínas;
- IRC estágio II – Pacientes com clearance de creatinina entre 60 e 89 mL/min. Esta pode ser considerada como a fase de pré-insuficiência renal. São indivíduos com leve perda da função renal. Nesse estágio, os rins ainda são capazes de manter suas funções básicas e a creatinina sanguínea ainda encontra-se muito próxima da faixa de normalidade. Porém, é importante ressaltar que esses pacientes têm maior risco de agravamento da função renal se expostos, por exemplo, a drogas tóxicas aos rins, tais como anti-inflamatórios ou contrastes para exames radiológicos;
- IRC estágio III – Pacientes com clearance de creatinina entre 30 e 59 mL/min. Esta é de fato a fase de insuficiência renal crônica. A creatinina já está acima dos valores de referência e as primeiras complicações da doença começam a se manifestar. A capacidade do rim de produzir a eritropoetina já está reduzida, que é um hormônio que controla a produção de hemácias (glóbulos vermelhos do sangue) pela medula óssea, levando o indivíduo a apresentar anemia progressiva. Os pacientes insuficientes renais também apresentam uma doença chamada osteodistrofia renal, que ocorre pela elevação do PTH (paratormônio) e pela queda na produção de vitamina D, que controlam a quantidade de cálcio nos ossos e no sangue. O resultado final é uma desmineralização dos ossos, que começam a ficar fracos e doentes (osteopenia e osteoporose). Neste estágio, os pacientes devem começar o tratamento e ser acompanhados por um nefrologista, porque a partir dessa fase, geralmente há uma progressão relativamente rápida da insuficiência renal se não houver tratamento adequado;
- IRC estágio IV – Clearance de creatinina entre 15 e 29 mL/min. Está é a fase pré-dialítica. É o momento em que os primeiros sintomas começam a surgir e as análises laboratoriais indicam várias alterações. O paciente apresenta níveis elevados de fósforo e PTH, anemia estabelecida, pH sanguíneo baixo (aumento da acidez no sangue), elevação do potássio (com possível surgimento de arritmias cardíacas), emagrecimento e sinais de desnutrição, piora da hipertensão, enfraquecimento ósseo, aumento do risco de doenças cardíacas, diminuição da libido, diminuição do apetite, cansaço, etc. Devido à retenção de líquidos (pela insuficiência dos rins), o paciente pode não notar o emagrecimento, já que o peso pode se manter igual ou até mesmo aumentar; o paciente perde massa muscular e gordura, mas retém líquidos, podendo desenvolver pequenos edemas nas pernas;
- IRC estágio V – Pacientes com clearance de creatinina menor que 15 mL/min. É considerada como sendo a fase de insuficiência renal terminal. Abaixo dos 15-10 mL/min, os rins já não desempenham funções básicas e o início da diálise está indicado. Apesar de ainda conseguirem urinar, o volume já não é tão grande (oligúria ou mesmo não urina nada - anúria) e o paciente começa a desenvolver grandes edemas. A pressão arterial fica descontrolada e os níveis de potássio sanguíneo ficam elevados, podendo provocar arritmias cardíacas e até morte. O paciente já perdeu muito peso e não consegue se alimentar bem. Sente náuseas e vômitos, sobretudo pela manhã. Sente cansaço com facilidade e a anemia, se já não estiver sendo tratada, costuma estar em níveis perigosos. Se a diálise não for iniciada rapidamente, o quadro progride. Aqueles que não vão ao óbito por arritmias cardíacas podem evoluir com edema pulmonar ou alterações mentais, como desorientação, crises convulsivas e até coma.
Quando realizado ultrassom dos rins, especialmente nos últimos estágios, estes já se apresentam atrofiados, com tamanhos reduzidos, um sinal importante no diagnóstico da IRC. Há pacientes que chegam ao estágio V com poucos sinais e sintomas.
Apesar da pouca sintomatologia, estes apresentam inúmeras alterações laboratoriais, e quanto mais tempo se atrasa o início da diálise, pior serão as lesões ósseas, cardíacas, a desnutrição e o risco de arritmias malignas.
Muitas vezes, o primeiro e único sintoma da insuficiência renal terminal é a morte súbita, por isso é fundamental o acompanhamento periódico com seu médico.
Em caso de suspeita de Insuficiência renal crônica, um médico (preferencialmente um nefrologista) deverá ser consultado. Ele poderá avaliar detalhadamente, através de anamnese, exame físico e eventuais exames complementares, se este é seu diagnóstico correto, orientá-lo e prescrever o melhor tratamento, caso a caso.