Muito já se falou sobre o tempo. Um dos maiores pensadores da história ocidental, Santo Agostinho, teceu profundas reflexões sobre o tema. Em sua obra-prima Confissões, produzida em meados de 386 a. C., ele se questiona sobre a divisão em tempos pretéritos, presentes e futuros.
O filósofo acredita que seria melhor considerar três temporalidades: o presente do que se passou; o dos momentos presentes e o dos eventos que estão por vir. O pretérito não seria mais real porque teria se convertido de algo que é em alguma coisa que não existe mais.
Por sua vez o futuro, ainda não concretizado, logo se tornaria um não-ser, pois teria se esvaído. E se esses dois tempos não são reais, como seriam mensurados? Afinal, não se calcula a extensão de algo irreal, segundo Santo Agostinho. No fundo a passagem do tempo seria uma ilusão, uma marca que a sequência dos eventos carimba no ser.
Por esta razão o filósofo sugere a vigência de um tempo psicológico, fundamentado na durabilidade interna de imagens que fluem na alma. O tempo é constituído por uma parte passageira – a sequência dos fatos – e outra duradoura. A consciência humana absorve as duas e as organizam enquanto marco espacial e precedência temporal.
A ação narrativa conta com várias temporalidades:
O tempo cronológico ou o da história é aquele no qual as atividades dos personagens se desenvolvem. O tempo histórico, por sua vez, alude à era ou ao instante da história no qual as ações se desdobram. O psicológico é de natureza íntima, vivenciado ou percebido pelos seres fictícios. Ele escoa em harmonia com suas condições psíquicas.
O tempo do discurso é fruto do cuidado ou da tessitura temporal da trama pelo narrador, o qual tem a liberdade de contar os fatos na sequência linear, constituindo uma isocronia. Ou de impor modificações à ordenação do tempo, configurando uma anisocronia; para isso ele utiliza a analepse, ou seja, o retrocesso a eventos pretéritos, ou a prolepse, isto é, a antecedência dos fatos que estão por vir.
O contador da história pode igualmente recorrer à cadência do tempo, calculada pela interação entre o decurso da narrativa, cronometrada em minutos, horas, dias, e daí por diante, e a durabilidade da linguagem discursiva, calculada em linhas e páginas. Este compasso pode ser idêntico ou similar, e aí novamente ocorre a isocronia.
Outra opção é a ocorrência de uma temporalidade distinta, a anisocronia. Com esta alternativa o narrador tem a possibilidade de se valer de elipses ou exclusões de eventos; de pausas, no caso do tempo ser suspenso para que se possa, por exemplo, descrever algo; e de sínteses ou sinopses.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_narrativo http://www.eca.usp.br/caligrama/n_3/andiarapetterle.pdf
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