Sick-lit

O mercado literário vive de temas que por algum tempo mobilizam a atenção do leitor. De algum tempo para cá o nicho das histórias infanto-juvenis foi praticamente dominado por vampiros, hobbits, doces princesas, investigadores sedutores ou belas fadas.

No início de 2013 notou-se uma prevalência de narrativas tristes, melancólicas, algumas até bem depressivas. Os primeiros lugares dos mais vendidos em veículos como “The New York Times” foram cedidos para livros como ‘A culpa é das estrelas’, de John Green, e As vantagens de ser invisível, de autoria de Stephen Chbosky.

O primeiro apresenta como protagonista uma garotinha portadora de câncer em estado terminal. O segundo enfoca um jovem com tendência para a depressão, o qual pensa seriamente em se matar, exatamente como seu amigo mais íntimo. E ele pode realmente optar por esta saída se no colégio tudo continuar se desenrolando da mesma maneira. Este livro foi inclusive adaptado para o cinema, e nesta versão conquistou também um público fiel.

Críticos e classificadores de plantão já colaram uma etiqueta não muito lisonjeira nestas obras – sick-lit, que no idioma português pode ser traduzido como ‘literatura enferma’ ou ‘doentia’. Cabem neste segmento enredos protagonizados por criaturas mergulhadas em enfermidades sérias, jovens depressivos, anoréxicos, pelos que já cederam à tentação do suicídio, ou por qualquer outro distúrbio que atinja crianças e adolescentes.

Neste rol cabem livros como ‘Antes de morrer’, de Jenny Downham, igualmente traduzido para as telas dos cinemas, que traz como personagem principal uma garota enferma louca para viver intensamente os últimos momentos de sua existência, incluindo deixar de ser virgem; ‘Red Tears’, de Joanna Kenrick, que enfoca uma menina que pratica a automutilação; ‘Extraordinário’, de autoria de R. J. Palacio – aqui o protagonista é um garoto que desde o nascimento apresenta a face disforme; e ‘Como dizer adeus em robô’, escrito por Natalie Standiford, sobre a morte de um jovem.

Nesta etapa existencial conhecida como adolescência, garotos e garotas passam por sofrimentos muitas vezes difíceis de suportar. Com histórias como estas, eles podem ter uma ideia de como outros jovens agem quando atravessam contextos semelhantes ou até mesmo testemunhar dores mais atrozes que as suas.

Tudo depende de como a trama foi elaborada; narrativas de boa qualidade, como, por exemplo, a de John Green, revelam não somente o lado triste, mas também e principalmente como os personagens transcendem seus desafios. De qualquer forma, a controvérsia em torno dessas obras já foi criada. É essencial tentar perceber se não é uma manobra das editoras para criar mais uma moda literária, e procurar discernir entre a alta literatura e os que simplesmente pegaram carona na nova onda.

Autores como Amanda Craig não concordam com esse filão recém-descoberto; ela acredita que é uma literatura impressionável demais para leitores vulneráveis, mal-saídos da infância. Considera que textos como estes mergulham fundo em emoções depressivas e em pensamentos suicidas. Além disso, estes livros não oferecem aos jovens respostas viáveis nem os induzem a buscar ajuda. A escritora os considera perigosos demais para esta faixa etária.

O blogger Robby Auld, de 17 anos, não concorda com Amanda e acha que o rótulo impresso a este novo gênero desrespeita os autores destas obras. Para ele as histórias enfocam adolescentes lutando contra os mais diversos desafios e se revelando aptos a vencer este combate. Mesmo assim, crê que nem todos os jovens leitores têm condições de se distanciar da história, de não se deixar influenciar pela trama.

Fontes: http://oglobo.globo.com/cultura/sick-lit-nova-polemica-literatura-para-adolescentes-7633735 http://www.cbc.ca/books/2013/01/vampires-make-way-for-sick-lit-in-young-adult-books.html

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