As exigências dos consumidores de produtos de origem animal (POA) não têm se limitado à apenas questões sanitárias, a preocupação com o bem-estar animal (BEA), em todas as partes da cadeia produtiva, tem aumentado substancialmente. Estudos mostram que o BEA está diretamente vinculado à qualidade do produto final. Animais submetidos ao estresse antes do abate, liberam toxinas na corrente sanguínea que podem alterar a cor, a consistência e o período de validade da carne.
Os cuidados com os animais de produção devem se iniciar ainda na propriedade rural, com a seleção e o preparo das matrizes reprodutoras. As práticas de sanidade, vacinação, desverminação e nutrição balanceada promovem o nascimento de filhotes saudáveis e resistentes aos desafios do meio ambiente. Com essas ações já se tem uma redução de perdas econômicas por natimortos ou indivíduos debilitados.
A criação e o manejo de engorda desses animais deve ser feita de forma ética e humanizada; deve-se proporcionar um ambiente adequado às necessidades de cada espécie, de forma que possam expressar seu comportamento normal. O fornecimento de água e alimentos de qualidade, o conforto térmico e a proteção contra adversidades climáticas ou possíveis predadores também devem ser levados em conta.
O pecuarista e também o consumidor precisam se atentar ao encaminhamento que será dado a esses animais, desde o transporte até o processo de matança. As atividades de embarque, a distância a ser percorrida, as condições das rodovias e dos veículos geram bastante estresse nos animais, porém pode-se reduzi-los por meio da conscientização e capacitação de todas as pessoas envolvidas nessas etapas. Deve-se minimizar o uso de bastões de choque para guiar os animais, evitar gritos e agressões no manejo, além de se priorizar veículos estruturados, viagens em períodos mais frescos do dia e paradas em locais sombreados.
No Brasil, há legislações específicas voltadas para o BEA e para a sanidade dos POA, passíveis de penalidades por infrações, que variam de advertências, multas ou até a suspensão das atividades laborais; tem-se médicos veterinários do serviço oficial para fiscalizarem as atividades frigoríficas. No abatedouro-frigorífico tem-se toda uma logística desde a chegada do rebanho até a distribuição de seus produtos cárneos. Os animais recém chegados ficam confinados por um período, para se restabelecerem e se hidratarem; nessa etapa tem-se a inspeção ante-mortem dos mesmos. Posteriormente, eles são encaminhados para o banho de aspersão e para o abate, o qual deve ser o mais humanitário possível, porém essa prática frequentemente não ocorre em matadouros clandestinos.
Para cada espécie há um método correto de insensibilização pré-sangria, pois a morte dos animais ocorre pela hipovolemia. Dessa forma, é imprescindível verificar se o atordoamento foi suficiente e não há sinais de dor ou sofrimento no processo de morte. Em bovinos utiliza-se pistolas de dardo cativo, suínos e aves recebem eletronarcose. Insensibilizados, os animais são pendurados pelos membros posteriores para a etapa da sangria, que é realizada por meio da incisão dos grandes vasos, que emergem do coração. Caso haja suspeita de falha no atordoamento, o mesmo deve ser refeito imediatamente.
Na área suja da sala de matança, além da sangria ocorre também a retirada do tegumento da carcaça, que segue para a área limpa, local destinado à evisceração, limpeza, corte e tratamento da carcaça. Destaca-se que todo esse processo deve ser fiscalizado pela inspeção oficial, que libera ou condena os produtos cárneos. Nessa etapa pode-se dimensionar as perdas econômicas por lesões, contusões, fraturas, alterações de pH, coloração ou consistência da carne, decorrentes de doenças, estresse e maus tratos.
Faz-se necessário compreender os benefícios que o BEA proporciona a toda a cadeia produtiva, pois as novas variáveis do mercado tem demandado uma reestruturação do sistema de comercialização de POA. O mercado externo, por exemplo, já exige garantias de produtos oriundos de sustentabilidade e BEA, portanto os pecuaristas e os proprietários de frigoríficos deverão se adequar a essa realidade, para se manterem nesse nicho.
Referências
LUDTKE, C. B. et al. Abate humanitário de bovinos. WSPA Brasil – Sociedade Mundial de Proteção Animal. Rio de Janeiro : WSPA, 2012.
HERNANDES, J. F. M. Bem-estar animal na cadeia produtiva bovina: da propriedade rural ao abate. In: 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Campo Grande 2010.
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