Monteiro Lobato é merecedor do título de “grande inovador” na literatura para crianças, sempre preocupado em escrever uma leitura “gostosa de se ler” aos pequenos. Créditos às fábulas produzidas e suas adaptações.
Diferentemente do século XIX até o início do século XX, que possuía uma literatura de cunho conservador ligado à religião, civismo, entre outros, o autor em questão ia ao encontro de seus leitores, buscando unir interesse e necessidades nas suas obras destinadas aos menores.
Sendo assim, o escritor defendia que a moral mantém-se no subconsciente das crianças e que estas não devem ser submetidas a tal moralidade de forma crua e direta, mas, sim, a partir de fábulas e todas suas características – narrativas curtas, animais como personagens, ações com princípios (moral, político, ético).
Em suas fábulas, Monteiro Lobato criava discussões entre os adultos e os pequenos, dando voz a estes últimos, que expõem suas opiniões acerca de temas com relevância política, social, econômica, cultural, entre outros. Além disso, “ao apontar erros às crianças para torná-los passíveis de correção, uma moral de situação, alterando a visão tradicional de valores como liberdade e verdade.” (p. 3).
A construção e adaptação de fábulas com vínculos nacionais, aposta no uso de expressões populares, metáforas, neologismos; emprego do folclore (Saci e Cuca) e tradição cultural, além da utilização da linguagem infantil, afetividade, proximidade da oralidade, onomatopeias, predomínio do diálogo, objetividade com a intenção de divertir os pequenos.
Um exemplo de adaptação de fábula é “A cigarra e as formigas”, de Monteiro Lobato, a partir de “A cigarra e a formiga” de La Fontaine. Esta última revela um modelo capitalista, no qual a produção é bastante relevante e o primeiro animal é “superior” ao segundo, tendo em vista seu trabalho. Em Lobato, como o próprio título revela, são duas formigas; a boa e a má. Aqui, a cigarra não é mostrada de modo depreciativo e merece o reconhecimento da formiga boa.
Quanto à formiga má, no decorrer da narrativa o próprio leitor reconhece sua maldade, através da narradora, Dona Benta: “Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres”. O que não acontece na criação de La Fontaine, na qual não existe compaixão pela cigarra: OH! bravo! – torna a formiga – Cantavas? Pois dança agora.
Fonte: Monteiro Lobato e as fábulas: adaptação à brasileira , por Alice Áurea Penteado Martha
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