Nós somos bípedes. O que isso significa? Significa que sustentamos o nosso corpo apenas sobre dois membros, assim como os utilizamos para deslocamento. Várias espécies, incluindo uma linhagem inteira, no caso a das aves, se locomovem através de bipedalismo (ou bipedismo). A maioria das espécies, no entanto, utiliza o quadrupedalismo, ou seja, se apoiam e se locomovem sobre quatro membros.
Ao contrário do que muita gente pensa, a locomoção bípede é muito mais antiga do que a linhagem humana. Como dito anteriormente, praticamente todas as aves se locomovem sobre dois membros, mas as aves pertencem à uma linhagem muito antiga, uma linhagem que compreendia também vários animais pré-históricos que são tão admirados por nós: essa linhagem é a Dinosauria.
A linhagem mais conhecida de dinossauros bípedes é a dos Theropoda, que era composta essencialmente por espécies bípedes e contém entre seus membros alguns dos dinossauros mais famosos (principalmente após as séries Jurassic Park e Jurassic World), como o Tyranossaurus rex, o Velociraptor e o Deinonychus antirrhopus.
Algumas espécies conseguem se manter em posições bípedes, mas não caminhar ou correr por longos espaços. Ursos, gorilas, chimpanzés são exemplos de animais que conseguem ficar em posição completamente bípede. Ursos conseguem caminhar por poucos metros, gorilas e chimpanzés um pouco mais. Chimpanzés podem, inclusive, usar da posição bípede para cruzar cursos d’água. Algumas espécies de lagartos conseguem correr alguns metros em posição bípede, e um mamífero muito peculiar, o pangolin, consegue caminhar utilizando somente as patas traseiras, apesar de ser mais comum utilizar as quatro. O canguru é um bom exemplo de mamífero bípede.
No entanto, há uma diferença entre se manter em posição bípede e caminhar por longos períodos de tempo nessa mesma posição. Para que seja possível utilizar o bipedalismo como forma de locomoção em tempo integral, é necessário que a anatomia óssea da espécie proporcione isso. Além disso, apesar de as aves se locomoverem de forma bípede, a única linhagem que faz isso na posição completamente ereta, é a humana.
Existem várias diferenças anatômicas que nos ajudam a andar sobre os dois pés. O posicionamento da coluna e o número de vértebras lombares, que nos humanos é cinco e nos primatas hominídeos não humanos é quatro. Essa vértebra adicional garante maior capacidade de movimentação dos membros inferiores. Outra adaptação é a presença de tecido muscular volumoso na região dos glúteos, que garante maior equilíbrio. Além disso, humanos possuem o osso da pelve, a popular bacia, mais ampla e lateralizada em relação ao plano corpóreo do que os primatas não-humanos, o que garante maior inserção muscular, proporcionando maior equilíbrio e tônus ao caminhar.
O bipedalismo foi uma das primeiras adaptações apresentadas pelos hominídeos e existem algumas hipóteses de como a linhagem humana o desenvolveu. Uma delas diz que o bipedalismo foi desenvolvido após um grupo de nossos ancestrais começarem a habitar ambientes savânicos (áreas abertas cobertas de gramíneas). Enquanto algumas linhagens permaneceram nas florestas, onde poderiam utilizar as copas e galhos das árvores como abrigo e para encontrar alimento, as linhagens da savana não tinham muitas árvores para subir, logo, a posição ereta tornava mais fácil avistar predadores à distância.
A outra hipótese relaciona o desenvolvimento do bipedalismo humano com o uso de ferramentas. Uma vez que uma espécie não se locomove sobre os quatro membros, os dois membros anteriores ficam livres para explorar o ambiente, auxiliando no uso de ferramentas e ainda na coleta de alimentos enquanto se movimentavam.
Independente do fator que foi preponderante no desenvolvimento da locomoção sobre dois membros, um fato inegável é que tanto a locomoção quadrúpede quanto a bípede possuem desvantagens e vantagens. Logo, assim como em vários aspectos evolutivos é impossível determinar qual o melhor meio, uma vez que o que funcionou para uma linhagem pode não funcionar para a outra.
Referências
Rodman, P. S., & McHenry, H. M. (1980). Bioenergetics and the origin of hominid bipedalism. American Journal of Physical Anthropology, 52(1), 103-106.
Prost, J. H. (1980). Origin of bipedalism. American Journal of Physical Anthropology, 52(2), 175-189.
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