Carta ao povo brasileiro

A carta ao Povo Brasileiro é um dos documentos mais marcantes da nova república. Isso porque ela marca a ascensão de um político e de um partido de esquerda para a presidência do país. A carta em questão foi escrita por Luiz Inácio Lula da Silva em 22 de junho de 2002, em ano eleitoral. Eleição esta que foi marcada pela vitória de Lula e do Partido dos Trabalhadores pela primeira vez, após tantas tentativas. Estudiosos atribuem a esta carta a viabilidade da eleição de uma candidatura de esquerda no Brasil. Isso porque foi com esta carta que Lula acenou o diálogo com os mais diversos setores produtivos da sociedade, demonstrando sua preocupação não apenas com políticas de justiça social, mas também com o mercado interno e externo. Foi a longa carta ao povo brasileiro a responsável pela conciliação entre a esquerda petista e o mercado.

O país passava à época por uma profunda crise econômica no final do governo Fernando Henrique Cardoso. O presidente tucano foi o responsável, em seu primeiro mandato, pela estabilização da economia e pela criação do Real, moeda que possibilitou o controle da inflação e o crescimento econômico do país. No entanto, ao final de seu segundo mandato, uma nova crise econômica se aproximava. Havia medo de que um novo governo, direcionado à esquerda, não conseguisse lidar com a questão econômica a contento. O então candidato à presidência da república lança então a sua carta propondo a necessidade de discussão de uma agenda para lidar com a crise que se aproximava e afirmando que era preciso priorizar o desenvolvimento econômico sem esquecer da justiça social, bandeira que marcou a sua luta política desde o final da década de 1970, quando foi projetado como importante liderança sindical.

Lula passa então a defender o que chama de projeto nacional alternativo, que deveria estimular a economia, gerar empregos e garantir a soberania nacional e afirma que diversas lideranças o apoiavam: desde intelectuais a empresários, muitos buscavam uma mudança segura para o país, e ele seria o responsável por esse novo direcionamento. O principal diferencial que o candidato petista apresentava na carta era o consumo de massas como o principal incentivo ao mercado interno. Esse investimento foi marca do governo petista e garantiu estabilidade e crescimento durante os dois mandatos de Lula. Ele garantia a atenção aos mercados interno e externo, mas sem deixar de olhar para as políticas sociais, investindo assim, na visão de Lula, em um país mais justo, mais eficiente e mais competitivo, como sinalizou no documento. Tudo isso seria possível com um conjunto de reformas, que deveriam entrar em pauta em seu governo: em primeiro lugar uma reforma tributária, que desonerasse a produção; depois a reforma agrária para rever a questão da distribuição de terras no Brasil; e por fim as reformas previdenciárias e trabalhistas. A agenda da luta contra a fome também entrava como prioridade na carta de intenções lançada pelo candidato à presidência. A fome ainda era um problema grave no país.

A carta de Luiz Inácio Lula da Silva foi um documento conciliador, responsável por afastar o medo e a insegurança que setores da sociedade tinham de governos de esquerda. Ao sinalizar uma relação amistosa com o mercado e garantir um governo que agiria pela ampla negociação nacional, Lula ganhou a confiança e a segurança necessários para levá-lo ao palácio do planalto. O anúncio de um novo contrato social, que previa o crescimento econômico atrelado à estabilidade da população foi a senha para a confiança na sua candidatura. Com isso Lula garantiu que dialogaria como todos os segmentos da sociedade, não excluindo nenhum grupo da sua política de estado.

A Carta ao Povo Brasileiro foi crucial para as eleições que se seguiram em outubro de 2002. Depois de tantas tentativas anteriores Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da república, tendo seu governo sido marcado pela ampla negociação, como bem afirmou na carta de intenções de junho de 2002.

Fontes:

DA SILVA, Luiz Inácio Lula. Carta ao Povo Brasileiro, 22 de junho de 2002. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u33908.shtml Acesso em 30 de dezembro de 2020.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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