Getulismo

Para compreender o conceito de getulismo é preciso compreender como Getúlio Vargas chegou ao poder e o que fez para manter-se na presidência da república entre 1930 e 1945. Vargas chegou ao poder por meio de um golpe de estado, em um movimento conhecido como Revolução de 1930. Um grupo descontente com a continuidade dos mesmos representantes à frente do poder rebelou-se, em articulação com os militares, sagrando Vargas como presidente da república. É preciso lembrar que até então o Brasil viveu a Primeira República, marcada pela projeção de lideranças paulistas e mineiras frente ao cargo máximo do executivo, e levando em frente um projeto liberal de estado. O que Vargas inaugura é uma nova forma de organização social: é um Estado de Compromisso, comprometido com as demandas da população, e não apenas com uma política econômica liberal.

Assim, Vargas pôs fim à república oligárquica a partir da Revolução de 1930. Esse marco é importante pois mostra o significado desse evento que modificou a estrutura da organização da sociedade brasileira à época. Entre 1930 e 1934 Getúlio Vargas governou sem ser regido por uma constituição, afinal, aquela forma de ascensão ao poder não estava contemplada na Constituição de 1891, a última constituição do período. Somente em 1934 que houve um movimento em prol de uma nova constituição. A bandeira constitucionalista fora levantada alguns anos antes, em 1932, pelas forças paulistas, que se organizaram contra Getúlio. Os paulistas saíram perdendo no levante de 1932, mas houve uma movimentação a favor da uma nova Constituição. No entanto, a formação de uma assembleia constituinte já estava nos planos de Vargas. Após formação de assembleia constituinte e sua formulação, a Constituição ficou pronta e passou a valer no ano de 1934. Ela previa o voto obrigatório e secreto; o voto feminino; a criação de uma Justiça Eleitoral e a criação de uma Justiça do Trabalho. Essas medidas foram fundamentais para construção da imagem do presidente, muito embora ele tenha sido um dos principais críticos da Constituição de 1934.

Foto oficial do primeiro mandato de Getúlio Vargas, 1930. Fonte: Wikimedia Commons

Getúlio Vargas passou a ser diretamente relacionado ao trabalhismo, pois foi o responsável por amplos investimentos neste setor: desde a Consolidação das Leis do Trabalho até as políticas identitárias que reforçavam a ideologia do trabalho. Mas, o governo de Getúlio Vargas foi complexo e não pode ser resumido às ideias trabalhistas que circulavam. Nesse sentido getulismo e trabalhismo não são sinônimos, embora representem ideias muito próximas. O governo de Vargas pode se dividir em três momentos: de 1930 a 1934, o governo provisório; de 1934 a 1937, o governo constitucional; de 1937 a 1945, o governo do Estado Novo.

Toda a ideologia do estado novo tem um fundo autoritário que se baseia na ideologia trabalhista, amplamente divulgada à época. Mas mais ainda, está relacionado com o apoio centralizado em uma figura: o presidente Getúlio Vargas. Esse apoio das massas ao presidente pode ser uma das principais características do que conhecemos por getulismo. Assim, Vargas foi responsável pelo investimento na construção da sua imagem diretamente atrelada às conquistas trabalhistas efetivadas no período. O getulismo assim é um fenômeno político marcante na história do Brasil republicano e faz de Getúlio Vargas uma das principais lideranças políticas do Brasil.

O getulismo não esteve apenas relacionado ao período autoritário. A centralização na figura de Getúlio Vargas passou também para o período democrático, quando três partidos – UDN, PSD e PTB – passaram a representar apoio e oposição ao getulismo. Enquanto a UDN concentrava os principais opositores de Vargas, PSD e PTB tinham-no como liderança importante para o jogo político.

Foi com esse investimento na criação da sua imagem que Getúlio Vargas se consolidou como um dos mais importantes presidentes da História do Brasil do século XX e o getulismo representou, pois, uma força política que se sustentava a partir da popularidade do presidente, caracterizando assim o getulismo como uma forma de populismo. E assim o trabalhismo enquanto conceito não nos basta para a definição de getulismo.

Referências:

GOMES, Ângela Maria de Castro. Getulismo e trabalhismo: tensões e dimensões do Partido Trabalhista Brasileiro/Ângela Maria de Castro Gomes, Maria Celina Soares D'Araújo. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, 1987.

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