O século XX foi marcado por duas grandes guerras mundiais. Com elas os esforços de guerra se intensificaram. Pode-se entender os esforços de guerra como as mobilizações de recursos tanto da indústria como recursos humanos para dar auxílio e suporte para as forças militares. Quando as guerras tomam maiores proporções, a atuação da sociedade civil passa a ser exigida com maior força, formando assim os esforços de guerra.
É comum acontecer, durante os períodos de guerra, o desvio de finalidade tanto de máquinas como de pessoas para o auxílio das forças militares. Diversos são os exemplos de esforços de guerra, principalmente ao longo dos conflitos do século XX, tanto nas guerras mundiais, como no Brasil.
Possivelmente o principal exemplo de esforço de guerra está na participação feminina. Chamadas a se voluntariarem, a atuarem como enfermeiras ou mesmo a participarem com doações e organização da sociedade civil, as mulheres estão entre as mais representativas do significado de um esforço de guerra. Como boa parte das mulheres europeias não se dedicavam – ainda – ao trabalho fora do mundo doméstico (especialmente até o século XIX) havia campanhas potentes que as chamavam para auxiliar nos conflitos que ocorriam: seja para atuarem como cozinheiras, prepararem alimentos ou fazerem curativos nos soldados, as mulheres se fizeram bastante presentes nos primeiros eventos que envolveram esforços de guerra. Inicialmente elas se voluntariavam para este tipo de trabalho, mas com o tempo, e com as necessidades das guerras, passaram a ser recrutadas para os mais variados tipos de trabalhos.
A Primeira Guerra Mundial é exemplo do primeiro evento a exigir uma força grande de esforços de guerra. As mulheres, por exemplo, foram chamadas a trabalhar nas fábricas, para confecção de uniformes e materiais bélicos, bem como para atuarem como enfermeiras nos fronts de guerra. A Primeira Guerra Mundial também foi marcada por uma das campanhas publicitárias mais emblemáticas do mundo: aquela em que a figura do Tio Sam aparece com os dizeres “I want you for U.S. Army!” (Eu quero você para o nosso exército!) no cartaz de 1917 que marcou as campanhas de recrutamento da Primeira Guerra Mundial nos Estados Unidos da América.
No Brasil este tipo de campanha também inspirou ações e campanhas por recrutamento e auxílio a forças militares, como foi o caso paulista durante o Levante de 1932. Cartazes pediam para os jovens se voluntariarem para lutar ao lado de São Paulo. Mas, o mais emblemático pedido de 1932 eram os pedidos de doação de joias e alianças pelo bem de São Paulo. São exemplos variados de esforços de guerra: desde o recrutamento para o trabalho com costura, alimentação e enfermagem até as campanhas de doação de verbas em prol das forças militares.
A Segunda Guerra Mundial exigiu um maior esforço de guerra, principalmente por parte das mulheres. Se na Primeira Guerra elas se voluntariaram ou foram recrutadas para o trabalho nas fábricas ou com a enfermagem, na Segunda Guerra passaram a operar máquinas, atuaram como engenheiras e exerceram as mais diversas funções. É dessa época uma outra famosa campanha publicitária, em que a imagem desenhada de uma operária aparece com os punhos cerrados com os dizeres “We can do it!”. A campanha é datada de 1943 e tinha por intenção incentivar trabalhadores de uma empresa durante a sua participação nos esforços de guerra no Estados Unidos. A Campanha foi baseada em uma foto em preto e branco de uma mulher trabalhadora e ganhou o mundo, sendo popularmente conhecida até hoje.
Assim é possível sustentar que o esforço de guerra existe em relação direta com o mundo da propaganda. É preciso muito investimento em propaganda para divulgar as necessidades militares em contexto de guerra. Por causa disso, os cartazes de guerra são bastante famosos, e são exemplos da comunicação do poder militar com a sociedade civil, fazendo uma ponte entre os dois mundos e mostrando a necessidade da participação da sociedade em situações de guerra. Uma guerra envolve muito mais do que os militares no front: envolve infraestrutura, logística, trabalho e os cidadãos das nações envolvidas.
Referências:
HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. 1941-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociedade/esforco-de-guerra/
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