A relação entra Brasil e Haiti foi bastante fortalecida nos primeiros anos do século XXI, mas é preciso lembrar que muito antes, no século XIX, o exemplo Haitiano de rebelião escrava já havia sido um modelo temido, por parte das elites escravocratas, mas exemplar, por parte dos sujeitos escravizados, aqui no Brasil. O medo do haitianismo foi constante durante todo o período imperial brasileiro. Assim, inspirações e trocas culturais e políticas entre os dois países já aconteciam há tempos. No entanto, foi durante uma profunda crise política instaurada no Haiti em 2004 que essas relações se estreitaram.
Diversos conflitos ocorriam no país caracterizado por ser o mais pobre da América Latina. Tais conflitos geraram violência e formação de milícias que passaram a dominar o país. Em fevereiro de 2004 o então presidente do país Jean-Bertrand Aristide fora destituído do cargo por rebeldes, levando o país a um colapso e ao descontrole da segurança pública. Foi neste contexto que o Brasil liderou, como representante da Organização das Nações Unidas (ONU), a missão de paz no Haiti. Ao total mais de trinta e cinco mil soldados brasileiros passaram pelo país em crise entre os anos de 2004 e 2017. Foi com essa missão que o país passou a viver com certa estabilidade.
No entanto, uma catástrofe natural aprofundou a crise no Haiti. Em 2010 um terremoto atingiu o país destruindo a capital Porto Príncipe e deixando milhares de mortos e desabrigados. Nesse contexto a força de paz da ONU continuou em ação, promovendo ações humanitárias a fim de resgatar vítimas e reerguer o país. O Brasil, à época, vivia uma boa fase na sua economia, que se encontrava em crescimento. Havia oportunidades de emprego e esperança de boa recepção.
Foi assim que os haitianos começaram a migrar para o Brasil, em busca de trabalho e de novas oportunidades. O recebimento de haitianos de forma sistemática também inseriu o Brasil na rota de migração transnacional, levando o país a um novo patamar nas suas relações internacionais. Isso foi possível, também, porque Europa e Estados Unidos passaram a restringir a entrada de migrantes em seus territórios.
É fato que após o terremoto de 2010 o Haiti estava em profunda crise e o Brasil, por meio de sua posição estratégica frente à missão de paz, foi responsável por auxiliar no processo de levantamento imediato de envio de remédios, alimentos e de recursos, estreitando ainda mais as relações entre os dois países. Os haitianos procuravam fugir da pobreza a qual estavam condicionados no Haiti e viam no Brasil a esperança de estabilidade econômica e pleno emprego. Uma das áreas em ascensão no Brasil à época era a construção civil, muito estimulada pelo evento mundial da Copa do Mundo, que teria sede no país no ano de 2014 e que possibilitou inúmeras reformas estruturais, além da construção de obras de estádios e de infraestrutura para possibilitar um evento de tal monta espalhado por todo o território nacional.
O levantamento brasileiro é de que entraram no país desde 2010 aproximadamente oitenta e cinco mil haitianos, principalmente pelo Acre, local que mais foi impactado pela chegada dos imigrantes. O Conselho Nacional de Imigração emitiu visto de permanência no país por razões humanitárias, regularizando a situação da maioria dos imigrantes, que puderam se inserir no mercado de trabalho brasileiro, especialmente na construção civil. No entanto, os haitianos espalharam-se pelo território nacional, e foram se concentrando principalmente nas regiões sul e sudeste, onde encontravam mais oportunidades de trabalho, mas, ao mesmo tempo, encontravam também mais dificuldade e mais resistência: racismo e xenofobia marcaram a experiência dos haitianos no Brasil.
Como a estabilidade econômica no Brasil também foi temporária, a partir do início da crise econômica em 2016 houve uma queda significativa do número de haitianos em território nacional, que foram perdendo oportunidades de trabalho. Assim, os haitianos que vieram em busca de estabilidade econômica e oportunidades de trabalho passaram a migrar para outras nações tendo em vista o esgotamento de tais possibilidades no Brasil.
Referências:
ATUALIDADES UOL. Brasil deixa missão de paz após 13 anos do país caribenho. Disponível em: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/haiti-brasil-deixa-missao-de-paz-apos-13-anos-no-pais-caribenho.htm Acesso em 10 de janeiro de 2020.
BAENINGER, Rosana; PERES, Roberta. Migração de Crise: a migração haitiana para o Brasil. In: Rev. Bras. Est. Pop., Belo Horizonte, v.34, n.1, p.119 – 143, jan./abr. 2017.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/imigracao-haitiana-no-brasil/
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