Países desenvolvidos e subdesenvolvidos, centro e periferia global, primeiro e terceiro mundo: todos estes são termos usados para dar referência ao fenômeno da desigualdade global. Eles retratam as persistentes diferenças de riqueza entre os países do mundo. Esta desigualdade na distribuição global das riquezas tem por consequência populações que, habitando diferente nações, possuem também um desigual acesso à boas condições de trabalho, saúde, alimentação adequada, moradia digna, educação de qualidade, saneamento básico, entre outros aspectos que contribuem para a sua qualidade de vida.
O Banco Mundial divide os países nas categorias de alta, média e baixa renda levando em consideração o Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Isso é, o valor total de toda a riqueza produzida pelo país em um período determinado de tempo dividida pela população média do país neste mesmo período. Segundo o levantamento do Banco Mundial, no início do século XXI, 40% da população global viva em países de baixa renda, enquanto apenas 15% habitava os países de renda alta. No entanto, estes países ricos concentravam o total de 80% das riquezas mundiais, enquanto os países de baixa renda representam apenas 3% desse mesmo montante. No levantamento de 2014, a lista que classifica os países segundo sua renda per capita, mostra Luxemburgo ocupando o primeiro lugar, enquanto o Malawi ficava por último. O Brasil aparecia na 59ª posição, sendo considerado um país de renda média.
Ainda que estes dados fornecidos pelo Banco Mundial sejam de extrema importância, medir a desigualdade global pode ser uma tarefa muito complexa. Em primeiro lugar, observamos que nem todos os países do mundo conseguem fornecer dados exatos sobre seus PIBs. Em segundo lugar, o índice não leva em consideração particularidades de cada país, como o seu custo de vida e a possibilidade de nele acessar bens e serviços - como alimentação e a saúde - de forma gratuita. Por fim, o PIB per capita tampouco considera as desigualdades internas dos países. Isso significa que uma nação pode gerar muita riqueza - e por consequência ter um PIB alto - mas essa riqueza estar super concentrada em uma parcela muito pequena da população. Esta última observação é particularmente relevante quando constatamos que nas últimas décadas temos visto um aumento das desigualdades internas em praticamente todas as regiões do globo, incluídos aí os países de alta renda. Portanto, ao pensar a desigualdade global, devemos levar em consideração outros indicadores, como a distribuição interna da renda e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Outro debate complexo diz respeito às causas da desigualdade global. Segundo o sociólogo britânico Anthony Giddens, as chamadas Teorias Orientadas pelo Mercado defendem que a causa do subdesenvolvimento é o excesso de intervenção governamental nas economias dos países de baixa renda. Por outro lado, a Teoria da Dependência e a Teoria dos Sistemas Mundiais postulam que a pobreza de muitos países tem como raiz os processos de colonização e sua continuidade a partir da exploração perpetrada por corporações multinacionais. Deste ponto de vista, os países da periferia global se mantém em posição de subalternidade e endividamento por permanecerem como territórios cuja a principal função é oferecer matéria prima e mão de obra barata para as economias centrais.
Referências:
ALVAREDO, Facundo, CHANCEL, Lucas, PIKETTY, Thomas, SAEZ, Emmanuel e ZUCMAN, Gabriel.
Relatório da desigualdade mundial. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2018 - Disponível gratuitamente em: https://play.google.com/books/reader?id=x8LxDwAAQBAJ&hl=pt&pg=GBS.PA1997
GIDDES, Anthony. Sociologia. 6a ed. Porto Alegre: Penso, 2012.
Portal de dados do Banco Mundial: https://data.worldbank.org/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociologia/desigualdade-global/
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