A ação de fármacos, bem como o seu trajeto no organismo compreende algumas fases, que em teoria podem ser divididas em fase farmacodinâmica e fase farmacocinética. A segunda está relacionada aos processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação de fármacos, que podem passar por todas essas etapas ou por algumas delas, dependendo da via de administração. Porém, uma vez dentro de nosso organismo, todos os medicamentos deverão ser eliminados em algum momento, compreendendo a etapa de excreção.
A excreção pode ser definida como a passagem do fármaco da circulação sanguínea para o meio externo, sendo então removidos de nosso organismo. Vários órgãos podem estar envolvidos neste processo, sendo conhecidos como órgãos ou vias de excreção, e que incluem os rins, pulmões, glândulas lacrimais e salivares e o tubo digestivo (fezes e secreção biliar). Os medicamentos também podem ser eliminados através do suor e leite materno em menores quantidades, sendo que a principal via de excreção de fármacos é a via renal.
Características físico-químicas, como a solubilidade e pH de um fármaco interferem diretamente em seu comportamento no organismo. Fármacos com característica lipossolúvel tendem a sofrer melhor absorção, enquanto que os hidrossolúveis são facilmente excretados. Em pH do meio igual ao seu, o fármaco tende a ser melhor absorvido, porém, ao encontrar um meio com pH diferente, tende a sofrer ionização, tornando-se hidrossolúvel e aumentando sua taxa de eliminação. Muitos fármacos são ácidos ou bases fracos, sendo, portanto, lipossolúveis e de difícil eliminação. Para que ocorra a excreção, tais compostos sofrerão biotransformação, ou conjugação com substâncias polares (hidrossolúveis), favorecendo a eliminação.
Desta forma, quando administrados por via oral os fármacos serão absorvidos e direcionados ao fígado, principal local onde ocorre a biotransformação. Neste processo, os fármacos poderão sofrer reações, que irão resultar em:
Os fármacos podem ser eliminados em sua forma inalterada (forma original), inativa (metabólitos polares obtidos durante a biotransformação) ou polar e hidrossolúvel (composto parenteral). No sistema circulatório, esses fármacos se apresentam ligados às proteínas plasmáticas ou podem circular livremente (não ligados).
Na excreção renal, temos três importantes e distintos processos fisiológicos, conhecidos como filtração glomerular, reabsorção tubular passiva e secreção tubular ativa. Durante a filtração, as drogas que não estiverem ligadas às proteínas plasmáticas sofrem passagem para dentro dos túbulos renais, através de poros presentes nos glomérulos. Nos túbulos renais dos néfrons, as drogas ainda podem sofrer reabsorção passiva e voltar para a corrente sanguínea, envolvendo transportadores de membrana presentes nas células epiteliais renais. Neste processo, moléculas de ácidos e bases fracas não ionizadas sofrem a reabsorção, ao passo que as moléculas no estado ionizado são passíveis à eliminação. Esta característica pode ser utilizada no manejo de drogas, frente a uma intoxicação, modificando o pH do meio para facilitar a excreção do fármaco em excesso no organismo. Como exemplo temos o fosfato de potássio e ácido ascórbico (Vitamina C), utilizados para acidificar a urina, e o citrato de potássio para tratamento da litíase urinária provocada pelo excesso de ácido úrico, que ao alcalinizar a urina, promove a ionização e eliminação do ácido úrico.
Já durante a secreção, algumas poucas substâncias, como ácidos e bases orgânicas, são secretadas do sangue capilar peritubular para o líquido tubular (espaço de Bowman) e, assim como na reabsorção, a secreção envolve transportadores de membrana. Com isto, tanto a filtração como a secreção oferecem mecanismos para que ocorra a excreção de substâncias através da urina.
Em relação ao tempo de eliminação, ou seja, quanto tempo o medicamento levará para ser excretado do organismo, dependerá das características próprias deste fármaco. A meia-vida é determinada como o tempo necessário para que a concentração de um fármaco no organismo seja reduzida à metade, após ter entrado em contato com a corrente sanguínea. De acordo com este parâmetro, devemos também considerar o tempo que o fármaco leva para alcançar a circulação sanguínea, ou seja, ser absorvido, para só então estimar o real tempo de eliminação do composto de nosso organismo. Com isto, podemos entender que fármacos administrados por via endovenosa e, portanto, que não sofrem a etapa de absorção, terão como cálculo somente o tempo de meia-vida. Pacientes com função renal e hepática prejudicada podem ter um aumento no tempo de meia vida, devido ao comprometimento da atividade metabólica.
A excreção biliar envolve principalmente a eliminação de fármacos que não sofreram absorção (via oral) e de metabólitos excretados na bile ou ainda secretados diretamente para o trato intestinal e que não foram reabsorvidos, sendo eliminados nas fezes.
A eliminação de gases, como anestésicos voláteis e vapores, é realizada através da excreção pulmonar.
Referências bibliográficas:
Goodman SL, Gilman GA. Manual de Farmacologia e Terapêutica. Porto Alegre – RS: AMGH; 2010.
Costanzo, Linda S. Fisiologia. 5. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
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