Nascido em 1920 no estado de São Paulo, Florestan Fernandes foi um dos mais importantes sociólogos brasileiros. Filho de uma mãe solteira que exercia o ofício de empregada doméstica na capital paulista, Florestan trabalhou desde criança como auxiliar em uma barbearia e depois como engraxate. Desde muito cedo demonstrou grande interesse pelos estudos, ingressando no começo da década de 1940 na Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em Ciências Sociais. Alguns anos depois, é nessa mesma instituição que obtém o título de doutor, após ter cursado seu mestrado na Escola Livre de Sociologia e Política. Em ambas etapas acadêmicas, Florestan pesquisou a sociedade indígena dos Tupinambás, gerando um estudo clássico para a etnologia brasileira. Nos anos seguintes se efetivou como professor da USP, onde trabalhou até o período da ditadura militar, quando teve de permanecer um tempo lecionando no exterior. Após a reabertura democrática, Florestan foi eleito deputado federal e, até seu falecimento, em 1995, dedicou sua atuação política à defesa da educação pública para todos.
A obra deixada por Florestan é ampla e variada, abrigando estudos sobre temas diversos. No entanto, seu constante esforço para entender a sociedade brasileira como um todo – sua formação marcada por conflitos, seu desenvolvimento único e suas perspectivas futuras – foi caracterizado por uma perspectiva única que questionava não só a forma de ser da realidade social, como o pensamento sociológico em si. É por esse motivo que Florestan é considerado o fundador da Sociologia crítica brasileira.
O diálogo com a sociologia clássica e moderna e, principalmente com o pensamento marxista, é um tema central nos escritos de Florestan, que procurou revisitar as principais correntes do passado e do presente, buscando o que existia de mais crítico em cada uma. A necessidade de interpretar uma sociedade como a brasileira – complexa e marcada por grandes desigualdades – levantava muitos questionamentos a Sociologia como um todo (uma vez que a disciplina foi forjada principalmente em solo europeu). Algumas das obras onde Florestan reflete sobre o próprio saber sociológico são: Fundamentos empíricos da explicação sociológica, Ensaios de sociologia geral aplicada e A natureza Sociológica.
Outra fonte importante de Florestan foi o legado deixado por pensadores brasileiros que buscaram interpretar o país elevando a primeiro plano a luta de setores populares nacionais. Para Florestan, era preciso compreender o país a partir da perspectiva dos grupos e classes que formavam a maioria do povo. Por isso, durante alguns anos, dedicou-se a estudar a centralidade da presença dos negros na sociedade brasileira, sua trajetória de povo escravizado a trabalhador marginalizado. Sobre as lutas que marcaram o Brasil – desde a resistência ao colonialismo a conquista de direitos sociais – Florestan publica: A organização sociais dos Tupinambás, A integração do negro na sociedade de classes, O negro no mundo dos brancos e Mudanças sociais no Brasil.
A transformação social e as possibilidades revolucionárias de um dado tempo é também um tema recorrente na Sociologia de Florestan. Sobre esse ponto em específico, destacamos os livros: A sociologia numa era de revolução social, A revolução burguesa no Brasil e Da guerrilha ao socialismo: a Revolução Cubana.
Florestan era um homem de ação, comprometido a compreender e colaborar com os desafios colocados pela época e pelo local onde vivia: um país periférico vivendo o pleno ápice de seu processo de urbanização. Para ele, o intelectual não deveria se esconder por detrás da máscara da neutralidade científica, uma vez que os movimentos e acontecimentos ao seu redor são grandes fontes que nutrem o pensamento crítico.
Bibliografia: IANNI, Octávio. A Sociologia de Florestan Fernandes. Estudos avançados 10 (26), 1996
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