A caprino-ovinocultura tem se tornado economicamente relevante para o Brasil e o Nordeste é a região onde houve o maior crescimento desses rebanhos. Atribui-se a esse fato algumas vantagens que esses animais apresentam, como menor período de gestação, ocupação de menor espaço físico e menores valores tanto de aquisição quanto manutenção.
Apesar disso, deve-se ter cuidados em relação ao manejo sanitário do rebanho, para se evitar a disseminação de doenças. As instalações, os comedouros, os bebedouros e, sobretudo, o piso ou solo em que esses animais se concentram precisam ser mantidos limpos. O acúmulo de sujidades associado ao calor, umidade alta e matéria orgânica predispõem o surgimento de pododermatites, que afetam o desempenho dos animais e acarretam em custos ao pecuarista.
A Footrot, conhecida popularmente por podridão-dos-cascos, manqueira ou mal do casco é uma pododermatite infecto-contagiosa, que envolve a ação de duas bactérias: Fusobacterium necrophorum e Dichelobacter nodosus. Nos pequenos ruminantes, esses micro-organismos fazem parte da microbiota do trato gastrointestinal e da região da derme interdigital, respectivamente. Entretanto, associados à falhas no manejo sanitário dos rebanhos, eles se proliferam e acometem o tecido interdigital e o interior do casco.
O F. necrophorum é uma bactéria gram-negativa, anaeróbica, não esporulada, que é lançada no meio ambiente, a partir das fezes dos animais. O D. nodosus também é patógeno gram-negativo, anaeróbico, porém seu fator de virulência característico é a ocorrência de fímbrias, que são apêndices pequenos, de natureza proteica, responsáveis pela capacidade de fixação e aderência da bactéria.
O mecanismo de ação dos dois agentes se inicia com a invasão do F. necrophorum na derme superficial interdigital desvitalizada dos animais, em razão de umidade e calor excessivos. Essa ação predispõe o D. nodosus a se aderir, colonizar e interiorizar o tecido. Juntos eles resultam em inflamação, necrose, invasão da matriz epidérmica do casco e por fim o descolamento do mesmo.
Inicialmente os animais apresentam uma tumefação hiperêmica no espaço interdigital, seguida de claudicação ou dificuldade de caminhar, em razão da dor intensa. Os casos mais graves levam os animais a pastarem ajoelhados ou a ficarem em decúbito esternal.
O diagnóstico definitivo do mal do casco é obtido a partir da anamnese, exame clínico dos animais e observação das condições de higiene das instalações. O diagnóstico laboratorial consiste na visualização direta do D. nodosus em esfregaços das lesões, corados pela técnica de Gram. Outros métodos analíticos também são citados na literatura como cultivo bacteriano, teste de proteases, ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA), reação em cadeia de polimerase (PCR) e imunofluorescência.
O tratamento preconizado se dá pela utilização de antissépticos, medicações contra dor e inflamação, e antibióticos. A região afetada precisa ser limpa e higienizada para uma melhor observação da lesão e para o medicamento tópico atingir completamente a injúria. Para a eliminação da dor e da infecção, usualmente administra-se nos animais, pela via parenteral, anti-inflamatórios não esteroidais, e antibióticos como florfenicol, tetraciclinas, penicilina procaína ou di-hidrostreptomicina.
Ao se usar medidas preventivas contra a introdução da doença no rebanho diminui-se os prejuízos econômicos do tratamento e da perda dos animais. O uso de soluções de pedilúvio contendo ou sulfato de cobre 10% ou sulfato de zinco 5-10% ou formol 2 a 5% demonstram excelentes resultados. A vacinação contra o mal do casco, em animais a partir de dois meses é indicada e relata-se excelente relação de custo e benefício. É importante também fazer o rodízio de pasto, pois a bactéria D. nodosus não persiste no ambiente por mais de uma semana.
Não há legislação específica para o Mal do casco, por isso é importante que os pecuaristas conheçam os fatores predisponentes da doença e realizem as medidas profiláticas para minimizar os danos e as perdas econômicas.
Referências
PACHECO, E. B. L. Pododermatite Infecciosa Ovina - Revisão de Literatura. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso. Departamento de Anatomia, Patologia e Clínicas Veterinárias, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.
LIMA, M.C. et al. Etiologia da pododermatite ovina. PUBVET, Londrina, v. 4, n. 34, 139, 942, 2010.
VERÍSSIMO, C. J. Prevenção e Controle de “Foot rot”. São Paulo: Instituto de Zootecnia. 2010. Disponível em: http://www.iz.sp.gov.br/pdfs/1257274110.pdf. Acesso em: 3 de out. de 2019.
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