O termo mobilidade social significa o deslocamento de indivíduos ou grupos entre posições socioeconômicas diferentes. Em sociedades regidas pelos regimes de castas ou estamentos, essa mobilidade é praticamente inexistente, uma vez que a posição social do indivíduos está estabelecida desde o seu nascimento e não pode ser alterada. Nas sociedades ocidentais modernas – onde o capitalismo é o modo de produção predominante – a mobilidade entre diferentes classes sociais é mais frequente. Tal mobilidade pode se dar em dois sentidos: de forma ascendente (quando há um aumento nos ganhos financeiros e, consequentemente, um maior acesso a bens e serviços) ou, no sentido contrário, de forma decrescente.
Ainda que a mobilidade social ascendente seja muito maior no sistema de classes quando o comparamos com outros tipos de estratificação – de castas ou de escravidão, por exemplo – é preciso identificar os fatores que possibilitam tal movimento. No início do processo de industrialização, quando os direitos trabalhistas ainda não existiam ou eram precários, o sentimento que movia os operários era o medo da miséria e da fome que poderiam irromper caso não trabalhassem com ardor. Uma vez estabelecidos os sindicatos e, consequentemente, os direitos básicos dos trabalhadores, passou-se a impulsionar a ideia de mobilidade social como um estímulo para o trabalho. Ou seja, através da ideia de meritocracia, a promessa de ascensão social por meio do esforço trabalho transformou-se em um dos pilares fundamentais das sociedades modernas.
Sendo esse discurso hoje hegemônico, o número de pessoas que transitam entre uma classe e outra torna-se um importante indicador do grau de democracia de um país. Se há realmente igualdade de oportunidades para todos – independentemente de gênero, raça, local em que se tenha nascido ou qualquer outra característica imutável – é de se esperar que um indivíduo talentoso vindo de uma família pobre possa passar pelo processo de mobilidade social ascendente. Entretanto, estudos mostram que na maior parte do planeta a mobilidade social intergeracional (que ocorre entre diferentes gerações de uma mesma família) costuma ser pequena ou nula, sendo numericamente raros os casos onde a ascensão é radical.
Elaborado recentemente, o relatório da Oxfam (organização internacional que abriga mais de 100 países) mostra estatisticamente a relação indireta entre o Coeficiente de Gini e a mobilidade social intergeracional. O Coeficiente de Gini é um indicador usado para medir a desigualdade social em um país, quanto mais baixo ele é, menor é a desigualdade. O relatório da Oxfam aponta que em países com grande desigualdade social, as chances de que um jovem tenha um rendimento diferentes de seus familiares é menor. Ou seja, as possibilidades de ocorrer a mobilidade social são menores. O relatório mostra também que há uma certa transferência de privilégios entre as diferentes gerações de famílias ricas, o que de certa forma contraria a ideia de que há igualdade de oportunidades para todos. No entanto, assim como outros pesquisadores do tema, a Oxfam indica que o investimento nos serviços públicos e, principalmente na educação, é o caminho mais eficaz para mudar esse quadro. No Brasil, a mobilidade social tem aumentado progressivamente, sofrendo grandes alterações na última década. Os estudos mais recentes atribuem essas mudanças aos programas sociais e ao aumento de pessoas cursando o ensino superior.
A mobilidade social decrescente ainda é pouco estudada (especialmente nos países desenvolvidos). Entretanto, em momentos de intensa crise econômica – como aqueles vividos após 2008 nos EUA – ela é notável, impactando de forma mais intensa as classes médias. Algumas pesquisas recentes sobre mobilidade social mostram que, nesses momentos de recessão, as mulheres solteiras e com filhos são o grupo mais atingido pela crise.
Bibliografia: GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
OXFAM INTERNACIONAL. Gobernar para las élites: Secuestro democrático y desigualdad económica. Oxford: Oxfam Gb, 2014.
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