O Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT) foi fundado no final do ano de 1968 por dissidentes da Ação Popular (AP). A essa época, a maioria da direção da Ação Popular aproximava-se das teorias maoístas, no entanto, havia militantes no agrupamento que se identificavam com outras leituras marxistas, como era o caso daqueles que fundaram o PRT. Orientados pelo marxismo-leninista e sem meios de disputarem a linha política da AP, Alípio de Freitas, Vinícius Brant e Altino Dantas Jr reuniram-se com ex-militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do Partido Comunista do Brasil (PC do B), da Política Operária (POLOP) e formaram o PRT.
O primeiro documento do PRT, o “Projeto de Programa”, de janeiro de 1969, tratou do desenvolvimento do capitalismo monopolista (ou capitalismo financeiro) no Brasil, aplicando, dessa forma, a obra Imperialismo – a fase superior do capitalismo, de W. Lênin, à realidade brasileira. Nesse documento, o PRT considerou a especulação financeira que se faz no Brasil com a subutilização de maquinários de indústria e o atraso das técnicas empregadas no campo como epifenômenos da dependência econômica do país aos Estados Unidos da América.
E para combater o imperialismo estadunidense e suprimir a ditadura da burguesia, seria necessária a formação de um partido revolucionário dirigido pela vanguarda dos operários aliada aos trabalhadores rurais. Esse partido realizaria a guerra revolucionária que começaria no campo em guerrilhas rurais e desencadearia a formação do Exército Popular. O PRT adotou uma leitura internacionalista, criticando a burocracia do Estado soviético. A opção pelo internacionalismo destacou-se no “Projeto de Programa” da organização, inclusive, nas declarações de apoio à luta do povo vietnamita contra os Estados Unidos, à Revolução Cubana, à Revolução Cultural chinesa, aos negros estadunidenses, e às lutas revolucionárias na América Latina, Ásia e África.
Segundo o historiador Jacob Gorender, a principal referência política do PRT foi o exemplo cubano, no entanto, não tivessem seguido esse modelo rigorosamente devido à opção de construção de um partido. O método cubano foquista de guerrilha arregimentava pequenas levas da população para a luta armada, então, o processo revolucionário foi promovido pela ação de pequenos grupos armados, estrategicamente, localizados em regiões de difícil acesso, sem a constituição de um partido. Grosso modo, para se construir um partido é necessário haver um programa político partilhado pelos membros da organização, distintamente do método cubano em que a aglutinação do grupo se deu na forma de ação diante de um inimigo em comum. Então, o PRT pretendia formular um modelo próprio de guerrilha, conjuntamente, com a atuação nas lutas operárias.
O PRT construiu núcleos na região metropolitana de São Paulo, no Recife, em Goiás e em Minas Gerais. Esses núcleos dedicaram-se às ações nos círculos operários e à preparação de locais nos quais realizariam guerrilhas. Entretanto, a organização foi rapidamente desmantelada pela repressão do Regime Militar, sofrendo três levas de prisões (1969, 1970, 1971), e por divergências políticas internas. Em 1971, o PRT encerrou as atividades políticas.
Referências:
GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Expressão Popular, 2014. p. 86; 128-129.
LENIN, Vladmir. Imperialismo – a fase superior do capitalismo. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/index.htm Acessado em 21 de março de 2020 às 10h e 33m.
REIS FILHO, Daniel Aarão & SÁ, Jair Ferreira de. Imagens da Revolução: Documentos Políticos das Organizações Clandestinas de Esquerda dos anos 1961-1971. Rio de Janeiro: Ed. Marco Zero, 1985. p. 186 - 205.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/partido-revolucionario-dos-trabalhadores/
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