Autobiografia

A autobiografia é um tipo de gênero literário que constitui uma narrativa de caráter pessoal e o seu traço mais significativo é a inserção do próprio escritor como personagem principal. Escrever uma autobiografia implica num pacto literário e não histórico ou documental, porque ora a narrativa apresenta um resgate memorialístico (baseado na realidade) ora constrói a trama com os fios da ficção.

Por isso, as autobiografias podem assumir diversos formatos como diários, memórias, poemas, músicas, roteiros, cartas, entre outros. O caráter biográfico da obra não acontece na sua formatação, mas em seus elementos linguísticos. Normalmente a narração é feita na primeira pessoa do singular e aborda questões íntimas e pessoais.

O narrador comumente se coloca no tempo presente e, ao olhar para trás, o seu passado nada mais é do uma tessitura de reminiscências que não são completamente capturáveis, são moventes, isto é, mesmo que escritor queira apreender a realidade como ela foi, no momento da escritura isso já não é mais possível, afinal as experiências vividas são inapreensíveis. É nessa fenda do inapreensível que o ficcional se estabelece.

Algumas autobiografias famosas:

  • Cadernos de Lanzarote, José Saramago;
  • Confissões, Santo Agostinho;
  • Diário de Anne Frank, Anne Frank;
  • Palavras, Sartre.

A autobiografia não pode, contudo, ser analisada apenas da perspectiva individual. Ela é um gênero que propõe a integração coletiva porque ao narrar a sua história o indivíduo partilha com a sua comunidade, e com contas as outras, as suas impressões e a sua visão de mundo, permitindo ao leitor/público ter acesso a outras perspectivas.

No tocante aos escritores brasileiros, muitos deles encararam o desafio de produzir obras autobiográficas. Dentre eles destacam-se:

  • Graciliano Ramos, Infância;
  • Helena Morley, Minha vida de menina;
  • José Lins do Rego, Meus verdes anos: memórias;
  • Oswald de Andrade, Sob as ordens de mamãe.

Um desmembramento significativo do gênero autobiografia é o ghostwriter, traduzido popularmente como escritor fantasma. Esse tipo de escrita é na verdade uma biografia, pois é a escrita da vida de outrem, mas publicada sob o título autobiográfico. Por meio do trabalho ghostwriter muitas pessoas famosas publicam a sua vida sem ter escrito sequer uma única palavra.

Além disso, os novos suportes de comunicação dão abertura para as variantes da autobiografia. Muitas delas já não têm mais como produto final um livro ou um roteiro de cinema, mas sim publicações em blogs, redes sociais e vídeos em formato de stories.

Referências:

CORRÊA, Cláudia Maria Fernandes. Ecos da solidão: uma autobiografia de Mayla Angelou, 2008, 165f. USP. Dissertação (Mestrado em Letras). São Paulo, 2013.

FERREIRA, Geraldo da Aparecida. Entre memória e autobiografia: narrativas de Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro, 2013, 187f. UFMG. Tese (Doutorado em Estudos Literários). Belo Horizonte, 2013.

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