O termo saga é de origem norueguesa e está vinculado ao verbo segja que designa contar. As sagas nascem no terreno fértil da oralidade, compostas por narrativas épicas das culturas nórdicas e germânicas e tendo como berço a Islândia entre os séculos X e XI.
A priori, as sagas são uma espécie de relicário das histórias familiares. A partir das narrativas que contam a evolução genealógica, as comunidades registram os grandes feitos das gerações antecessoras, são histórias recheadas de embates entre os homens e os seus valores: o bem e o mal, a coragem e a covardia. As conquistas e as derrotas não são vistas como ações individuais, mas como herança familiar e cada família contribui com sua herança na formação das comunidades.
Outras temáticas fundamentais do gênero saga são as discussões filosóficas acerca das religiões e da mitologia. Normalmente escrita em prosa, mas podendo ser produzida em versos, a saga se populariza entre o público por tratar de temas cotidianos em associação com elementos ficcionais, comumente recorrendo às lendas.
Ao longo do tempo, o conceito de saga teve seu sentido modificado e ampliado. Atualmente, nomeia as narrativas fantásticas e épicas como é o caso das obras de J.K Rowling, a saga Harry Potter, que apesar de manter inegável vínculo com a mitologia, o imaginário medieval da bruxaria e as histórias vindas da oralidade, produz narrativas híbridas e, portanto, pós-modernas.
Um exemplo emblemático na literatura brasileira é a obra Sagarana, do escritor mineiro Guimarães Rosa, que já em seu título faz alusão à maneira de narrar ao estilo da saga, evidenciado pelo neologismo saga + rana (do indígena, semelhante a ou espécie de). Neste livro, o escritor reúne contos que são legítimas sagas sobre o sertão, o sertanejo, a jagunçagem, a religiosidade, a metafísica, a epifania e o amor.
No que diz respeito à estrutura, as sagas se caracterizam por sua contínua ampliação, sendo as narrativas elaboradas para formar conjuntos de textos; as trilogias, para citar um exemplo. A falta de linearidade narrativa é outra estratégia linguística presente nas sagas modernas, afinal, a sua escritura pressupõe um universo, um espaço comum e compartilhado entre as histórias e não a sua linearidade. Fator que muda o posicionamento do leitor diante do ato de leitura, ele pode seguir a trajetória que quiser e as inúmeras possibilidades geram diferentes percursos narrativos.
Suas características, por ser um modelo de texto mais aberto, foram rapidamente incorporadas por outros gêneros fora do âmbito literário: história em quadrinhos, filmes, jogos de estratégias, seriados, dentre outros. O seriado Vikings é um dos representantes de peso desse estilo de saga pós-moderna, sem deixar de manter o elo com a tradição das narrativas familiares.
O sucesso das sagas acontece porque os escritores, sejam eles literatos ou não, criam a chamada iconotextualiade que diz respeito à criação de elementos que mimetizam (imitam) a realidade: cartografia, genealogia, símbolos, cronologia, entre outros.
Desta forma, o leitor/público estabelece um vínculo imediato com a história porque tudo o que é narrado/mostrado ali parece muito verossímil, ainda que seja num reino ou num momento histórico inventado pelo autor, inexistente na vida real. Mesmo assim, o leitor/público é arrebatado pela trama ficcional porque aquela criação é possivelmente coabitável por dragões, bruxos, deuses mitológicos e os próprios receptores das obras. Afinal, quem não espera receber uma carta de Hogwarts?
Referências:
BARTH, Pedro Afonso. As crônicas de gelo e fogo como uma saga fantástica, 2016, 103f. Dissertação (Mestrado em Letras). UPF, Passo Fundo, 2016.
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