A origem do gênero infantojuvenil começa a se delinear na passagem entre os séculos XVII e XVIII quando a criança passa ser considerada em suas especificidades e suas diferenças em relação aos adultos. A princípio, e durante muitos anos, a literatura se apresenta como conteúdo adulto, deixando de notar a riqueza criativa que habita as experiências da infância.
Assim como grande parte dos gêneros literários, as produções infanto-juvenis têm como fonte as narrativas populares advindas da oralidade. Exemplo disso são as histórias coletadas da Antiguidade por La Fontaine, como é o caso das fábulas de Esopo. No ano de 1697, Perrault publica a obra Contos de Fadas ou Histórias do Tempo Antigo: Contos da Mamãe Ganso dando a devida atenção ao acabamento literário dos contos colhidos da tradição oral.
Contudo, grande parte da produção destinada ao público infantojuvenil é, durante muito tempo, atrelada ao conceito pedagógico e instrucional fazendo com que os textos adquiram um caráter meramente didático e muito distante da essência estética. A maioria dos textos, nesse período inicial, é escrito por professores e pedagogos e a crítica literária pouco se interessa pelo gênero.
Ao final do século XVIII, alguns escritores mudam o rumo das estórias infantis e juvenis. A realidade da criança passa a ser retratada considerando a sua simbologia, sua afetividade, sua psicologia e o seu desenvolvimento cognitivo. Tudo isso por meio da linguagem literária, que permite à criança e ao jovem ver o seu universo sendo mimetizado lúdica e artisticamente.
O século XIX marca a consolidação da literatura infantojuvenil no mundo. No Brasil, o gênero desponta no final desse mesmo século com a contribuição de autores como Júlia Lopes de Almeida, Sílvio Romero e Câmara Cascudo. A maior parte dos textos desses autores é resultado de traduções de clássicos infantis europeus ou compilações de histórias do folclore nacional.
Com relação aos contos europeus, os irmãos Jacob e Wilhem – estudiosos e poetas alemães -, são os principais organizadores das fábulas infantis que ainda hoje fazem sucesso com o público infantojuvenil, para citar algumas: Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e os Sete Anões. A partir do material registrado pelos irmãos Grimm, muitos autores atualizam e recriam as narrativas clássicas para diversas linguagens artísticas: cinema, seriado, teatro, entre outras.
No tocante à lenda e ao folclore nacional, surgem histórias como: Saci, Curupira, Lobisomen, Iara, Mula sem Cabeça, Boto, Vitória Régia, entre outros. Essas narrativas são retomadas como exemplo de brasilidade durante o Modernismo, assim como fez Mário de Andrade em sua obra Macunaíma, evidenciando que a literatura infantojuvenil também é traço fundamental na construção da identidade cultural brasileira.
Nas mãos do consagrado escritor Monteiro Lobato, a literatura infantojuvenil brasileira adquire nova roupagem. Lobato entende que há a necessidade de renovação dos contos tradicionais em todos os seus aspectos: a linguagem precisa ser mais espontânea, assim como as crianças e jovens são; os cenários precisam refletir a diversão que permeia o imaginário durante a infância; os personagens são mais fantasiosos, embora muitos deles mantenham momentos de discursos mais críticos, e os temas devem contemplar o caráter ficcional.
A primeira obra de Monteiro Lobato que atinge grande divulgação é Narizinho Arrebitado e, além da Narizinho, inúmeros outros personagens ainda permeiam o imaginário infantil nacional: Pedrinho, Cuca, Emília, Dona Benta, Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa e toda a turma do famoso Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Como afirma Marisa Lajolo, grande estudiosa do gênero, as crianças e os jovens devem ser educados para a literatura e não pela literatura. Assim como a produção adulta, a produção infantojuvenil deve ser considerada em sua máxima potência artística.
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Referências:
MOURA, Arigésica Andrade. A literatura infantojuvenil na prática de licenciados em letras vernáculas da UNEB: entre fios, tramas e tecituras, 2016, 150. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2016.
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