O termo folhetim é de origem francesa le feuilleton e designa o que se chama de rodapé. Os jornais, e posteriormente as revistas, ofereciam o espaço do rodapé para que fossem publicados textos para o entretenimento dos leitores como charadas, receitas culinárias, crítica literária, textos de ficção publicados em capítulos, dentre outros.
Em 1836, percebendo estar no rodapé do jornal o potencial para se divulgar e difundir os textos literários, Émile de Girardin produz a primeira obra de ficção seriada, o Lazarillo de Tormes. O estilo narrativo com a fórmula de continuação da história na próxima publicação exige dos escritores a elaboração de enredos atraentes, que prendam a atenção dos leitores.
Os primeiros textos folhetinescos são fruto da fragmentação e da adaptação dos livros (romances) a serem publicados no jornal. Porém, devido à grande aceitação por parte do público leitor, o folhetim inverte a ordem editorial e começa a ser visto como uma produção autônoma e com características tão particulares que os escritores passam a publicar suas obras (em livro) somente após analisar a aceitação do texto publicado em formato de folhetim.
Com o desenvolvimento da imprensa, o gênero folhetim chega ao Brasil por intermédio da burguesia brasileira, leitora assídua das produções francesas. Nesse contexto, muitos dos escritores brasileiros se interessam pela novidade que mudaria a maneira de divulgar e produzir suas obras. José de Alencar, por exemplo, é um dos precursores publicando em formato de folhetim o seu famoso romance O guarani.
Machado de Assis também segue o rastro do novo gênero ao publicar Quincas Borba na revista A Estação, de 1986 a 1891. Em formato de folhetim publica também, na mesma revista, muitos de seus famosos contos, como é o caso do conto O Alienista.
Diante da grande recepção dos leitores e dos escritores, o folhetim figura como a ficção moderna destinada ao grande público, ou seja, a massa. Mesmo com a atualização e modernização dos meios de comunicação, as narrativas seriadas ainda são o elo entre o público e os artistas, seja no rádio, televisão ou cinema.
As emissoras de televisão sempre apostam nas narrativas que ainda apresentam reverberações estilísticas do folhetim, as novelas. A própria configuração de um gênero contemporâneo, as chamadas Séries ou Seriados, estabelecem o diálogo direto com a origem do folhetim e os seus desdobramentos. Muitos roteiristas de cinema têm produzido suas obras em trilogias, por exemplo.
Isso demonstra que o folhetim mudou completamente a maneira de se fazer não somente Literatura, mas qualquer arte escrita que pretende garantir a atenção e a fidelidade do público, por meio de enredos que são como o tapete de Penélope ou como As Mil e Uma Noites, de Sherazade.
Referências:
PILON, Márcia Regina Scarpa. O folhetim e o livro: travessias da ficção machadiana de Quincas Borba, 2008, 92f. Dissertação (Mestrado em Literatura e Crítica Literária). PUC-SP, São Paulo, 2008.
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