Baile da Ilha Fiscal

Famoso por ter sido o último baile do Império no Brasil, o Baile da Ilha Fiscal foi um evento que ficou famoso na história, pois ocorreu dias antes da Proclamação da República e marcou o fim da monarquia. A festa ocorreu em 9 de novembro de 1889, apenas seis dias antes do início da república. Muito se especulou sobre o baile: se foi feito para marcar o fim do império que já se sabia que ia cair; se foi ao acaso. O baile foi uma comemoração oferecida por parte do presidente do Conselho de Ministros da monarquia, Visconde de Ouro Preto, à Marinha do Chile, especialmente à embarcação Cochrane que se encontrava no Rio de Janeiro.

Desde 1870 a monarquia estava em crise. O fim da Guerra do Paraguai e a formação do Partido Republicano logo em seguida, além das campanhas abolicionistas e o crescimento político dos cafeicultores paulistas eram sintomas de que o império estava prestes a acabar. Havia, pois, um projeto de modernização em curso, que significava a transformação do Brasil em diversos setores: nas relações de trabalho; na paisagem urbana; na literatura e nas artes e, também, na forma de governo. Assim, a república era entendida como uma parte importante desse processo de transformações tão características do século XIX. O Baile da Ilha fiscal é um bom exemplo de representação do que significava o império: luxo e ostentação. Feita de rituais e símbolos, a monarquia se sustentava no aparecer, na relação com o povo. Assim, um baile é carregado de significados, ainda mais tão próximo da data que marcou o final do reinado de D. Pedro II no Brasil.

A festividade aconteceu na Ilha Fiscal, localizada na baía de Guanabara, local onde funcionava um posto da guarda fiscal que atendia o porto do Rio de Janeiro, localizado em frente, fazendo de lá um lugar adequado para as atividades alfandegárias. Por se tratar de um baile em homenagem à marinha chilena o local foi escolhido como palco para a festa que viria a ser o último grande ato do império. Para ela o salão foi decorado com bandeiras nas cores verde e amarela, do Brasil, e vermelha e azul, do Chile. Três mil convites foram distribuídos e uma festa para o povo, na praça em frente à Ilha Fiscal, foi feita mostrando a clara divisão entre nobreza e povo no império brasileiro. No interior do salão estavam homens públicos de todas as orientações: tanto liberais como conservadores foram convidados para o baile.

Talvez a principal curiosidade envolvendo o baile da ilha fiscal tenha sido o menu que fora oferecido aos oficiais da embarcação Cochrane. Camarão, peru, faisão, sorvetes e chocolates são apenas alguns breves exemplos de tudo o que foi servido naquela noite. Em cardápio1 todo escrito em francês pode-se ver uma infinidade de pratos refinados, com um variado leque de bebidas à disposição dos convidados. Vinhos, cervejas, espumantes, ponche e licores estavam entre as opções ofertadas. O menu original foi digitalizado e está disponível no está disponível no site da Biblioteca Nacional. Ele é certamente um dos cardápios mais famosos – se não o mais famoso! – da História do Brasil. A Fundação Biblioteca Nacional conta também com um dos poucos registros em fotografia do Baile da Ilha Fiscal.

O responsável pela foto2 do interior do salão em que o baile ocorreu foi Marc Ferrez, um fotógrafo responsável pela maior parte do que temos do período. Ferrez dedicou-se a registrar a vida no Brasil e suas principais transformações.

Marcando na história o último evento da monarquia, o baile da ilha fiscal entrou na memória popular. Conta-se que D. Pedro II teria tropeçado ao desembarcar na ilha e, já sabendo do clima conspiratório e golpista que pairava no ar teria dito “a monarquia escorrega, mas não cai”, em uma evidente referência e provocação aos republicanos que se organizavam para derrubar o Império.

Referências:

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

FERREZ, Marc. Sala de baile da Ilha Fiscal preparada para a festa de 9 de novembro de 1889, em honra da Marinha chilena, 9 de novembro de 1889. Rio de Janeiro, RJ / Acervo FBN.

[1] Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_obrasraras/or58_1_6A/or58_1_6A.pdf Acesso em 23 de novembro de 2020

[2] Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br/?tag=baile-da-ilha-fiscal Acesso em 23 de novembro de 2020.

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