Deposição de Getúlio Vargas

O fenômeno do populismo se fez presente na América Latina em meados dos anos 1940, personalizado nas lideranças políticas de Perón na Argentina e de Vargas no Brasil. Esses governos ficaram marcados pela defesa de um estado forte e que tivesse como meta governar para o povo como um todo, e não apenas para um grupo (como uma burguesia industrial, por exemplo). Assim, tais personagens ganharam grande projeção e apoio de diversos grupos – inclusive das massas populares.

Getúlio Vargas, mesmo governando de forma autoritária em seu Estado Novo, tinha este apoio popular massivo. O fim de seu governo, iniciado com a Revolução de 1930, foi um processo político complexo que deixa a ver as disputas internas pelo poder central no Brasil à época. Desde o início dos anos 1930 um grupo se mostrou bastante descontente com a política varguista: os representantes paulistas. Organizaram-se em 1932 em um levante contra o governo central exigindo a convocação de assembleia constituinte, já nos planos para o ano seguinte. O levante foi sufocado por Vargas e desde então as lideranças paulistas que pretendiam voltar ao centro do poder (onde estavam durante a Primeira República) organizavam oposição contundente a Getúlio Vargas.

Os últimos meses de 1945 foram conturbados: o chefe da polícia do Distrito Federal João Alberto fora substituído por Benjamin Vargas – Bejo – irmão do presidente, gerando descontentamento e desconforto. Lideranças buscaram revogar esta indicação. Com a crise política Vargas se viu obrigado a renunciar e saiu de cena do poder central; foi dali para São Borja, sua cidade natal. Este ano marcou sobremaneira uma transição de um período autoritário para uma abertura democrática – muito embora o governo seguinte, de Eurico Gaspar Dutra, tenha sido marcado por suas posturas autoritárias e conservadoras.

Um grupo que teve participação ativa na transição do Estado Novo para o período democrático que se seguiu foi o dos militares. Importantes já na Revolução de 1930, que levou Vargas ao poder, os militares conduziram o processo de deposição de Getúlio, que por sua vez procurava protagonizar a transição e permanecer no poder. O tempo era de censura, mas protestos eram organizados para combater o governo autoritário de Vargas. O presidente apoiava o candidato Eurico Gaspar Dutra, seu ministro, que tinha fortes convicções, apoiando o integralismo e admirando a Alemanha nazista. Seu oponente foi o Brigadeiro Eduardo Gomes, também militar e liderança tenentista da década de 1920. A disputa entre Dutra e Gomes representou, acima de tudo, uma divisão nas Forças Armadas: enquanto o brigadeiro contou com grande apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), o general representava as forças conservadoras do exército, que sempre estivera ao lado de Vargas.

Os opositores do então presidente planejavam sua deposição, tendo em vista a união das Forças Armadas e o descontentamento que sentiam pelas suas ações, tais como a anistia aos presos políticos do Estado Novo – em sua maioria comunistas, como Luiz Carlos Prestes. A partir desse momento há uma reviravolta: os comunistas – antigos inimigos de Vargas – passam a apoiá-lo, e Prestes contava com alta popularidade. Apoiavam, então, a convocação de uma Assembleia Constituinte, contando que as eleições fossem adiadas.

Do outro lado estavam os estudantes do Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que apoiavam Eduardo Gomes e lutavam pelo fim do Estado Novo. Vargas era mesmo seu principal adversário político desde 1930. A mobilização dos estudantes levou a uma manifestação na Praça da Sé. No entanto, não contavam com o apoio amplo dos trabalhadores urbanos a Getúlio Vargas, que reagiram com palavras de ordem como “Viva Getúlio!”, “Constituinte com Getúlio!” e “Nós queremos Getúlio!”, movimento que ficou conhecido como queremismo.

Espalharam-se comitês pelo país e em outubro de 1945 Vargas convocou seus principais apoiadores – os trabalhadores – a se filiarem ao PTB. Do outro lado estavam os representantes do antigetulismo, reunidos na UDN: era um grupo conservador e antidemocrático (mesmo que buscassem ser conhecidos pela luta constituinte). A deposição de Vargas ocorreu nesse contexto, por imposição das Forças Armadas, em outubro de 1945.

Referências:

SCHWARCZ, Lilia M; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

FAUSTO, Bóris. História do Brasil. SP: EdUSP, 1995.

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