O termo pagode possui vários significados em meio ao rico cenário musical brasileiro. Um deles faz referência a qualquer festa onde a música seja samba, um batuque ou um tipo de música similar, seja na música de natureza urbana ou rural. Além deste significado há aquele que faz referência a um tipo particular de samba, mais próximo das raízes do estilo, derivado do chamado "partido alto", onde os sambistas formam uma roda, e a partir de um estribilho (refrão) previamente composto, vão improvisando os versos restantes do samba (assim nasceu o primeiro samba gravado, Pelo Telefone, e os primeiros sambas-enredo das escolas de samba cariocas).
Além destes significados, o termo possui um emprego mais antigo e também remete a um importante estilo de música caipira: o pagode de viola. O termo foi popularizado a partir do violeiro Tião Carreiro (José Dias Nunes - Montes Claros, Minas Gerais, 13 de dezembro de 1934 — São Paulo, São Paulo, 15 de outubro de 1993), que desenvolveu um ritmo particular e intrincado de dedilhado na viola caipira de dez cordas, atingindo uma distinção sonora e mesmo vocal que poucos músicos conseguem durante toda sua carreira. Tião teve a ideia no meio dos anos 50, quando ainda começava a carreira, recém-batizado com seu cognome, que ele não gostava muito, por outro gênio da música caipira, o compositor e produtor Teddy Vieira. A ideia era misturar três ritmos muito populares do norte de Minas, o coco, o calango e o cipó preto. A "lenda" diz que Tião, em uma rádio na cidade de Maringá (PR), gravou uma fita com o novo ritmo que havia criado, primeiro com acordes de violão e em seguida os mesmos acordes, de trás para frente, na viola, combinando os três ritmos e distribuindo-os entre os dois instrumentos, meio que como um exercício, uma brincadeira. Em São Paulo apresentou sua criação para Lourival dos Santos (consagrado compositor caipira), que, ao ouvir a fita, disse encantado: "isso parece um Pagode". Assim foi batizado o gênero caipira criado por Tião Carreiro. Na época, em Minas Gerais, a palavra pagode significava festa animada ou baile. Assim nascia o novo ritmo que contagiou o mundo caipira. O que há de mais fascinante nos pagodes, no mundo da viola caipira em geral, são as introduções intrumentais dos mesmos. Verdadeiras obras primas, requerem muita destreza e habilidade técnica de quem as executa. As introduções dos pagodes são os cartões de visita da maioria dos violeiros.
Importante lembrar que a área onde nasceu o "deus carrancudo", apelido de Tião Carreiro durante toda sua trajetória, é lar de inúmeros grandes violeiros, além de uma abundância de ritmos e tradições suficientes para suplantar vários países em termos de tradições culturais. Essa área é o norte de Minas, onde, apesar do violeiro ter vivido por pouco tempo, por certo absorveu o suficiente da música da área para que pudesse demonstrar enorme criatividade. A região norte daquele estado se diferencia por um folclore inigualável, uma área de transição entre os costumes nordestinos e sudestinos, cultura diferente das outras áreas de Minas Gerais, mas não semelhante o suficiente para ser confundida com a cultura da Bahia. É ali que certamente temos ainda o maior número de violeiros por metro quadrado.
O pagode de viola é o resultado disso, de mistura das tradições locais daquela região.
Bibliografia: CAIPIRA, Zé. Pagode. Disponível em
ANASTÁCIO, Ricardo. A Origem Caipira. Disponível em
DIAS, Alex Marli; TOFFOLI, Cléber; ARENS, Eliana . Tião Carreiro - o criador e rei do Pagode. Disponível em
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