Período Arcaico da Grécia Antiga

É conhecido como Período Arcaico da Grécia Antiga o recorte temporal compreendido entre os séculos VIII e VI a.C. Foi neste período que começam a se formar as primeiras sociedades organizadas em poleis, ou cidades-estado. Esta forma de organização é característica da Grécia Antiga. A formação do que conhecemos por Grécia Antiga se deu a partir da mistura de povos, especialmente os indo-europeus. Assim, houve uma combinação de diferentes culturas. Os gregos adaptaram conhecimentos desenvolvidos em outras sociedades – como os cálculos matemáticos e as formas de escrita – para construção da sua forma de vida e organização social. É preciso ter em mente que o mundo antigo era conectado, especialmente pelos Mares, e que muitos povos eram navegadores e faziam trocas comerciais constantemente.

Templo de Apolo, em Pesto (Itália), região que pertenceu a chamada Magna Grécia. Construído no período Arcaico, no século VI a.C. Foto: francesco pecci / Shutterstock.com

No século VIII a.C. a Grécia Antiga era composta de diversas cidades isoladas. É a partir deste momento que há um processo de conexão entre as cidades e especialmente o estabelecimento das organizações conhecidas como pólis. Inicialmente eram sociedades camponesas e voltadas para a prática de guerra, tendo em vista os muitos conflitos que ocorriam no mundo antigo. A partir desse momento há um intenso processo de urbanização. Os Gregos passaram a construir cidades ao longo do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro, expandindo-se e espalhando-se pela região. Eles ocuparam terras entre o sul da Europa, o norte da África e também terras na Ásia Menor. O período da Civilização Micênica fora marcado por sérios conflitos e invasões dos povos indo-europeus. Somente no Período Homérico que as cidades-estado foram gestadas e começaram a se desenvolver, permitindo uma retomada do crescimento populacional na região. Mas é no Período Arcaico que houve a expansão grega e seu consequente crescimento.

A pólis caracterizava-se por ser um pequeno estado, independente e soberano. Por isso chama-se cidade-estado. Em seu entorno ficavam os campos para produção de alimento e pastagem de animais, também pertencentes a ela. Aqueles que pertenciam a uma cidade não pertenciam, portanto, a outra. Na prática o que isso significou? O estabelecimento dos estrangeiros, ou seja, daqueles que não poderiam desfrutar da cidadania. Com esta organização a cidade tinha uma economia baseada na agricultura – e na produção de excedentes – o que dava poder aos proprietários de terras, que viravam os chefes da comunidade. Diziam-se enviados dos heróis e participavam diretamente na tomada de decisões políticas. Assim, aqueles que não eram proprietários de terras ficavam excluídos, à margem da sociedade. As terras não eram muitas, por isso havia escassez e pobreza, além de dependência dos grandes proprietários de terras. As poleis mais importantes eram Atenas, Esparta e Tebas.

A escassez de terras fez com quem os gregos se expandissem e conquistassem novas áreas em um processo sistemático de colonização de terras ao longo do Mar Mediterrâneo. É preciso lembrar que as invasões, as fugas, a pobreza e até as derrotas políticas faziam com que homens se aventurassem na conquista de novas terras. A expansão grega era bem organizada e planejada e nisso os deuses tiveram importante papel. Eles eram os responsáveis auxiliar no planejamento das próximas conquistas. Para tal atividade os gregos consultavam o oráculo de Delfos. Lá eram apontados os rumos a serem seguidos e recebiam aval se deveriam ou não seguir com o planejamento ou rumar para outros caminhos. A colonização grega na antiguidade foi bastante diferente do processo de colonização moderno, em que nações europeias colonizaram as terras no “novo mundo”. Isso porque as colônias gregas na antiguidade eram independentes tanto política como economicamente. Assim, as colônias promoviam trocas comerciais tanto com a metrópole como com outras colônias, intensificando o comércio na região do Mediterrâneo.

Além da saída em busca de novos locais de domínio, em um processo de expansão e colonização, houve a intensificação do comércio marítimo, enfraquecido durante a civilização micênica. A confecção de armas e artefatos em cerâmica de forma artesanal também se desenvolveu. Além disso, com o mundo antigo cada vez mais conectado, a necessidade do uso de moedas ficou mais latente. Não que os metais não fossem usados anteriormente em trocas comerciais, mas a cunhagem de moedas em formato arredondado – como as conhecemos até hoje – é um dos legados dos gregos antigos.

Com o desenvolvimento na produção de armamento mais barato e acessível, os cidadãos pobres passaram a atuar também na defesa das cidades, que ficaram mais protegidas. Ao mesmo tempo, com a sua participação em conflitos, passaram a exigir uma maior participação na vida pública. Até então os códigos de leis eram transmitidos oralmente. É também deste período o primeiro código de leis escrito da Grécia Antiga, que serviu para organizar e estabelecer os limites da vida em uma sociedade organizada, afinal tornava-se necessário prescrever regras de convívio social para a resolução de conflitos. É certo que houve à época um debate sobre os direitos políticos dos cidadãos e uma ampliação dos mesmos. Os primeiros códigos de leis colocavam limites ao poder dos nobres. Neste período as cidades passaram a ser governadas por homens autoritários, que conquistaram o poder à força, e que se colocavam contra a nobreza mas que defendiam certos direitos da população comum. Eles ficaram conhecidos como tiranos, embora não houvesse ainda a carga negativa que a palavra anuncia. Ainda assim o governo dos tiranos pouco funcionou e abriu espaço para novas formas de organização, como as oligarquias e a democracia. É neste cenário que a democracia ateniense passa a ser gestada. Mas é também importante ressaltar que nem todas as cidades-estado transformaram-se em regimes democráticos e que muitas delas desenvolveram uma organização social baseada no poder de oligarquias, como foi o caso de Esparta.

Com o desenvolvimento das cidades-estado intensificou-se a produção artística e o pensamento racional. Uma das principais expressões artísticas da Grécia Antiga são as esculturas. Elas começam a se desenvolver no Período Arcaico, representando as figuras humanas em arte feita na pedra. Inicialmente as esculturas gregas eram feitas com base nas já conhecidas por eles, as egípcias. Ao longo do tempo a forma de produzir as esculturas foi se aperfeiçoando e ganhando contornos próprios. No Período Clássico as esculturas já representavam o corpo humano mais próximos à realidade e passavam a impressão de movimento.

Assim como a escultura, e caminhando lado a lado, os primeiros templos também foram construídos no Período Arcaico, adornados com colunas e decorados com estátuas, muitas delas em homenagem ao deus da cidade. Cada cidade-estado era protegida e representada por um deus, que recebia homenagens nos templos.

É também no período arcaico que o pensamento racional começa a se desenvolver, e a filosofia, atividade do pensamento humano estruturado, começa a aparecer. É o momento dos chamados pré-socráticos, ou seja, aqueles que antecederam Sócrates, como Tales de Mileto. Assim como a filosofia a literatura também começa a se desenvolver neste período. Foi neste recorte temporal que o poeta épico Homero produziu Ilíada e Odisséia, narrativas que foram escritas com base na tradição oral grega e que contam a história da Guerra de Tróia e do retorno de Ulisses à Ilha de Ítaca.

Um outro acontecimento importante, datado deste período, foram os primeiros Jogos Olímpicos, um festival que acontecia a cada quatro anos em Olímpia, e ocorria em homenagem a Zeus. Neste festival reuniam-se os atletas de todas as cidades-estado para disputar competições de atletismo, luta, corrida, dentre outras modalidades. Ao final das competições os vencedores recebiam como prêmio uma coroa de louros. Os Jogos Olímpicos eram tão importantes que as guerras e conflitos eram suspensos durante o período de competições. Os Jogos Olímpicos só voltaram a acontecer em 1896 e tiveram como sede Atenas, remetendo à origem da competição na antiguidade.

O fim do Período Arcaico foi marcado pelas invasões persas e o desenvolvimento do que chamamos de Período Clássico, possivelmente o de maior florescimento cultural, político e social do mundo grego antigo. Foi no período subsequente que as cidades-estados se estabilizaram como forma de organização social e que houve um crescimento significativo em atividades como a arquitetura, as ciências, o teatro e a filosofia. O Período Clássico também foi marcado pela disputa de poder e pela hegemonia alternada de duas cidades: Atenas e Esparta, disputa marcada pela Guerra do Peloponeso.

Referências:

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002.

GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.

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