Um dos casos mais famosos da neurociência é o caso de Phineas Gage, um operário americano nascido em julho de 1823, que estava a encargo de uma obra nos EUA para a construção de trilhos para uma rodovia na cidade de Vermont próxima ao Canadá. Em setembro de 1848 Gage durante a colocação da pólvora em um buraco na rocha foi atingido pela explosão provocada por uma faísca que Phineas fez pelo atrito durante a implantação da pólvora, e uma barra de ferro de cerca de um metro e meio de comprimento atravessou a cabeça de Gage passando pela bochecha esquerda, olho esquerdo e lobo pré-frontal de seu cérebro. Mesmo com a gravidade do acidente, Phineas Gage surpreendentemente sobreviveu, aparentemente, sem sequelas porém com acentuada mudança em seu comportamento, e por esse motivo se tornou objeto de estudos entre os neurocientistas.
O ocorrido foi em setembro, e em novembro, Phineas Gage já conseguia andar livremente pela vila, entretanto, muito diferente do que costumava ser, tornando-se um homem grosseiro, desrespeitoso, que não aceitava conselhos e de mau gênio. Além disso Phineas abandonou seu projetos futuros e passou a agir sem planejar e pensar nas consequências de seus atos, sua mudança foi tamanha que todos da vizinhança que o conheciam bem diziam que ele “deixara de ser ele mesmo”. Não respeitava seus amigos de trabalho e por indisciplina foi demitido de seu emprego e após isso nunca mais conseguiu um emprego fixo formal. Phineas Gage após tentar sua vida no Chile como atração de circo, voltou aos Estados Unidos da América e morreu em maio de 1861 e após quatro anos de sua morte um médico pesquisador pediu autorização à família de Gage para realizar exumação e preservação do crânio para estudos posteriores.
O caso de Phineas Gage atualmente é considerado uma das primeiras evidências científicas que apontavam que lesões nos lóbulos frontais eram capazes de alterar as emoções, interações sociais e até mesmo a personalidade de um indivíduo. Após o acidente, os lobos frontais, passaram a ser associados às funções mentais e emocionais que ficaram alteradas. O médico que o estudou post-mortem acreditava que, "o equilíbrio entre as faculdades intelectuais e as propensões animais pareciam ter sido destruídas”.
De acordo com estudos mais recentes de dois neurobiologistas portugueses, da Universidade de Lowa, através de computação gráfica e técnicas de tomografia cerebral eles calcularam a trajetória que a barra possivelmente percorreu pelo cérebro de Phineas Gage, e de acordo com esse estudo, a parte dos lobos frontais responsáveis pela fala e pelas funções motoras não foram atingidas, mas sim a ventromedial nos hemisférios direito e esquerdo. Hanna e Damasio, autores desse estudo, também observaram os mesmos sinais em pacientes que tiveram lesões semelhantes a Gage, levando déficits nos processos de decisão e controles da emoção bem característicos.
O caso de Phineas Gage foi sem dúvidas, um dos mais importantes para a compreensão da importância do lobo frontal ao processo cognitivo. Atualmente diversas técnicas visam explicar as funções de diferentes partes de nosso cérebro, como a ressonância magnética funcional, que mostra a ativação de diferentes regiões cerebrais em diferentes situações. A neurociência ainda busca a explicação de diversas patologias cerebrais e suas implicações, e o caso de Gage foi o portão para a busca deste conhecimento.
Referências:
Damasio H., Grabowski T. R Frank., Galaburda AM., Damasio AR. The return of Phineas Gage: clues about the brain from the skull of a famous patient.. Science, 264(5162):1102-5, 1994.
Sabbatini, R.M.E. O espantoso caso de Phineas Gage Junho de 1997 Acesso em 30/12/2019
Superinteressante. Dezembro de 2002. Acesso em 30/12/2019
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