Uso medicinal da maconha

A Cannabis sativa L. popularmente conhecida por seu nome vulgar, a maconha, possui diversas substâncias químicas ativas chamadas de canabinoides. Dentre estas encontramos o Delta 9 tetraidrocanabinol ou THC, e o canabidiol, também conhecido por CBD. Apesar do Tetraidrocanabinol ser a molécula mais ativa da planta, diversos estudos mostraram a atividade de outras substâncias, tão importantes farmacologicamente quanto, como por exemplo o canabidiol que é uma das moléculas ativas da Cannabis sativa, podendo sua concentração chegar em até 40% dos extratos vegetais. Uma de suas vantagens está no fato da molécula ser desprovida dos típicos efeitos psicológicos da maconha em humanos. Alguns estudos mostram que a utilização isolada do canabidiol pode produzir efeitos anticonvulsivos, neuroprotetores, hipnóticos, e efeitos hormonais aumentando o nível de cortisol e corticosterona. Outras pesquisas também mostram que esta molécula pode reduzir o metabolismo de drogas via hepática.

Recentemente o canabidiol tem sido alvo de investigação científica em diversas pesquisas pelo mundo que visam avaliar o potencial terapêutico da substância em vários processos patológicos, que vão desde a fibromialgia severa ao mal de Parkinson e outras patologias. Outros estudos também mostram que a utilização isolada do canabidiol pode produzir efeitos anticonvulsivos, neuroprotetores, hipnóticos, e efeitos hormonais aumentando o nível de cortisol e corticosterona. A droga também mostrou ter efeitos ansiolíticos e antipsicóticos, onde em estudos duplo cego o canabidiol exerceu claramente efeito ansiolítico reduzindo a atividade cerebral ao padrão de atividades ansiolíticas.

A utilização do canabidiol é capaz de reduzir sintomas motores provocados pelo mal de Parkinson sem causar declínio nos estados cognitivos do paciente. Além disso foi capaz de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e apresentou efeito terapêutico sobre sintomas do transtorno comportamental do sono REM. Nas dores neuropáticas a substância foi capaz de reduzir as dores causadas pela doença através da utilização de spray e na forma inalatória do extrato. Na esclerose múltipla ainda há controvérsia sobre a utilização da substância pois os efeitos adversos da utilização da droga podem causar complicações devido os sintomas relacionados a doença.

Farmacologicamente o canabidiol possui ação em receptores canabinóides do cérebro, apesar de baixa afinidade pelos receptores a substância se mostra um potencial antagonista dos receptores CB1 apresentando efeitos antiespasmódicos em determinados locais do corpo. Essa molécula também exibe efeito agonista de receptores CB2 onde sua relevância farmacológica não foi pré estabelecida apesar de manter potencial ação em efeitos anti inflamatórios induzidos pela substância. O canabidiol também manifestou efeitos inibitórios na reabsorção da anandamida (neurotransmissor relacionado a felicidade), aumentando assim sua concentração em fendas sinápticas. Essa molécula é um neurotransmissor considerado parte do sistema endocanabinoide e foi a primeira molécula desse sistema identificada como parte chave para a sinalização deste.

A Cannabis sativa L. ainda é proibida em alguns países. No Brasil a proibição do princípio ativo, canabidiol, foi parcialmente suspensa uma vez que diversas pesquisas mostraram a eficácia para tratamento de várias enfermidades. Com o reconhecimento de seu potencial terapêutico a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) inseriu o canabidiol na lista de substâncias controladas permitindo seu uso com determinadas restrições.

Mesmo havendo diversas evidências sobre os efeitos terapêuticos atribuídos aos princípios ativos da Cannabis em diversas patologias, principalmente as do sistema nervoso, ainda é necessário aprofundar esses estudos e abrangendo mecanismos ainda não elucidados.

Bibliografia:

AIZPURUA-OLAIZOLA, Oier et al. Evolution of the cannabinoid and terpene content during the growth of Cannabis sativa plants from different chemotypes. Journal of natural products, v. 79, n. 2, p. 324-331, 2016.

BRUCKI, Sonia et al. Cannabinoids in neurology–Brazilian Academy of Neurology. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 73, n. 4, p. 371-374, 2015.

CARLINI, Elisaldo Araújo. A história da maconha no Brasil. J bras psiquiatr, v. 55, n. 4, p. 314-317, 2006.

GONTIJO, Érika Cardoso et al. Canabidiol e suas aplicações terapêuticas. Revista Eletrônica da Faculdade de Ceres, v. 5, n. 1, 2016.

Izzo AA, Borrelli F, Capasso R, Di Marzo V, Mechoulam R. Non-psychotropic plant cannabinoids: new therapeutic opportunities from an ancient herb. Trends Pharmacol Sci. 2009;30(10):515-27

MATOS, Rafaella LA et al. O uso do canabidiol no tratamento da epilepsia. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 2, p. 786-814, 2017.

Moreira, D.M. Silvestrini, I. R. , Romariz S. A, Paiva D. S., *Yokoyama T., Ulrich A.H., Longo, B. M. “Efeito Do Tratamento Com Brilhant Blue G, Um Bloqueador Do Receptor P2X7, Potencializado Com Células-Tronco Mesenquimais No Hipocampo De Animais Epilépticos Crônicos” Universidade Federal de São Paulo, Dissertação de Mestrado, SP, 2017.

Mori, L. “Como o uso de maconha medicinal tem crescido no Brasil” BBC, São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44283537 Acesso em: 15-08-2019.

ROBSON, P. J. Therapeutic potential of cannabinoid medicines. Drug Testing and Analysis, Salisbury, v.6, n. 1, p. 24-30, 2013.

SAITO, Viviane M.; WOTJAK, Carsten T.; MOREIRA, Fabrício A. Exploração farmacológica do sistema endocanabinoide: novas perspectivas para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 32, n. suppl 1, p. 57-514, 2010.

Zuardi AW, Crippa JA, Hallak JE, Moreira FA, Guimarães FS. Cannabidiol, a Cannabis sativa constituent, as an antipsychotic drug. Braz J Med Biol Res. 2006;39(4):421-9.http://www.scielo.br/pdf/bjmbr/v39n4/6164.pdf

Zuardi AW, Shirakawa I, Finkelfarb E et al. (1982). Action of cannabidiol on the anxiety and other effects produced by ∆9-THC in normal subjects. Psychopharmacology, 76: 245-250

Zuardi AW, Rodrigues JA & Cunha JM (1991). Effects of cannabidiol in animal models predictive of antipsychotic activity. Psychopharmacology, 104: 260-264.

AVISO LEGAL: As informações disponibilizadas nesta página devem apenas ser utilizadas para fins informacionais, não podendo, jamais, serem utilizadas em substituição a um diagnóstico médico por um profissional habilitado. Os autores deste site se eximem de qualquer responsabilidade legal advinda da má utilização das informações aqui publicadas.

More Questions From This User See All

Smile Life

Show life that you have a thousand reasons to smile

Get in touch

© Copyright 2024 ELIB.TIPS - All rights reserved.